domingo, 7 de fevereiro de 2016

 

CARTAS DE COTOVELO 10/2016
A Carta que gostaria de não ter escrito
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, veranista

              
           É Carnaval, mas esta carta é de tristeza.
          A vida, mais uma vez, apresenta um paradoxo inesperado - quem plantou a alegria nesse período, faz a sua viagem final num Carnaval de lamento.
            Neste sábado gordo, como se costuma dizer, partiu Dona HELENA JOTA DE MEDEIROS, deixando viúvo Seu Raimundo, órfãos filhos, filhas, netos e netas e vazio o Bar Cotovelo.
          A conheci pelos idos de 1989 quando, pela primeira vez, passei um veraneio em Cotovelo, numa casa alugada ao meu querido colega de colégio Zequinha (José Correia de Azevedo), na Rua Parnaíba, quase atrás do bar.
         No referido estabelecimento montei o meu ponto de apoio com Natal, pois além da comida que lá era servida aos meus operários e vigia Joca, da construção da casa 258, me oferecia ligação telefônica do orelhão postado na frente do bar, pois à época não existia celular e não havia telefone fixo na praia.
         Inúmeras vezes comi do seu guizado, tomei umas cervejas geladas e, durante muito tempo saboreei a sua tapioca com coco, maravilha do café da manhã: "Ernestinho, você quer tapioca?" [Ernesto Flor é o meu genro que se tornou compadre de dois filhos dela].
        Acompanhei o seu calvário para conseguir o transplante de fígado, a metamorfose do seu físico e, quando o transplante lhe dava um fio de esperança, surge o câncer de estômago, implacável, que lhe afastou do contato permanente com a família, os amigos e os fregueses e a levou a viver em hospital até a passagem para a outra dimensão da existência.
         Sempre tive em Dona Helena, Seu Raimundo e o filho João Batista uma referência e um relacionamento mais estreito, um verdadeiro compadrio.
            Esperava a sua partida, diante do quadro da doença, até por caridade, para não tornar mais doloroso o seu findar, apesar de saber que ela sempre sonhou com a recuperação impossível no campo da medicina, senão por benção do Altíssimo.
            Nunca a esqueci em minhas Cartas de Cotovelo e tentei imortalizá-la usando o seu nome "Helena" como personagem principal do meu conto romanceado "Amor de Verão", lançado na sede da PROMOVEC, entidade que ajudou a criar, aqui em Cotovelo no mês de janeiro passado, juntamente com o seu viúvo que, na estória era o seu pai, pescador.
            Sei que não houve tempo para ela ler o trabalho, mas a sua família testemunhou a homenagem.
           Na condição de moradora antiga da praia, passou a fazer parte da geografia sentimental de Cotovelo, em cujas ruas transitava madrugadora oferecendo as suas tapiocas.
          São as contradições do tempo, a ironia do destino, o tempo de Deus.
            Saudades, muitas saudades virão em toda passagem pelo Bar Cotovelo, que será sempre o fiel da lembrança de momentos dos pardais nos verdes dos quintais.
            Vá em PAZ e interceda por Cotovelo e Pium na Casa do Pai Eterno.

            Com o carinho de Carlos Roberto de Miranda Gomes e família.

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