sexta-feira, 25 de dezembro de 2015


Luiz Campos de Mossoró

Seu moço, eu fui um garoto infeliz na minha infança,
Vim saber que fui criança, já pula boca dos outros,
Só brinquei com gafanhoto que achava nos tabuleiros,
debaixo dos juazeiro, com minhas vacas de osso,
 essas porqueiras, seu moço, que se arranja sem dinheiro
Quando eu via um gurizin brincando com velocípede,
Com caminhão e com Jipe, bola, revólver, carrin,
Sentia dentro de mim um desgosto que dava medo,
Ficava chupando o dedo, chorava o resto do dia,
Só porque eu não podia pegar naqueles brinquedo
Mas, perguntei, certa vez para os filho de um doutor :
Me arresponda, por favor, quem dá isso pra vocês ?
 Responderam  logo os três: Isso aqui é os presentes,
Que na noite de Natá, um velho muito legá chamado Papai Noé,
Que entra sem ninguém dar fé e nós dormindo nem nota,
Quando ele chega e bota perto do berço da gente

É que a gente, que é inocente vai dormir e, às vez ,num nota
Aí Papai Noé bota perto do berço da gente.

Fiquei naquilo pensando, até o Natá chegar
E na noite de Natá eu fui dormir me lembrando
Acordei, fiquei caçando pu donde eu tava deitado
Seu moço, eu fui enganado, pois de presente só tinha
De mijo uma pocinha que eu mesmo tinha mijado
Fiquei com a bixiga preta, soube que Papai Noé deu
A outros que mostraram a eu caminhão carro, carreta,
Bola,revólver, corneta e um trenzinho inté,
Boneca, máquina de pé, e eu só fazia ver
Aí, resolvi escrever uma carta a Papai Noé:



Papai Noé, é pecado, tarvez, eu lhe aperriá
Mas eu quero recramar dum troço que tá errado
Aos filhos de deputado você dá tanto carrim
Mas você pra eu é ruim, que lá em casa num vai
Por certo não é meu pai, pois não se alembra de mim
Por certo o Senhor é rico e só agrada o povo seu
E um pobre que nem eu, você vê faz que não vê
E se você vê por que na minha casa num vem ?
O rancho que a gente tem é pequeno, mas lhe cabe
Será que o senhor não sabe que pobre é gente também
Com a sua roupa encarnada, colorida e bonitinha
Nunca reparou que a minha já tá toda remendada
Seja mais meu camarada, e eu num lhe chamo mais de ruim,
 nesse Natá faça assim: Dê menos aos fi dos rico,
de cada um tire um tico e traga um presente pra mim
Meu endereço eu vou dar:  A casa que eu moro nela
Fica naquela favela que o senhor nunca foi lá,
Mas quando o senhor chegar e avistar uma palhoça
Coberta com lona grossa e com uma porta veia de frande,

com dois buracão bem grande, Bode entrar lá que é a nossa.
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Colaboração de Odúlio Botelho

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