quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O PARTO

Há várias décadas, quando em Nova-Cruz (RN) ainda não havia unidade hospitalar, José Lucas, um agricultor, viajou de trem para Guarabira (PB), levando Maria, a esposa, para parir o décimo filho do casal, no hospital daquela cidade. A gravidez da mulher não tinha sido muito sadia, e, por esse motivo, ele foi aconselhado, no Posto de Saúde de Nova-Cruz, a levá-la para dar à luz em uma cidade onde houvesse hospital. Como Nova-Cruz fica localizada na fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba, tornava-se mais fácil para José Lucas levar a esposa para o hospital de Guarabira (PB). Todos os dias, passava por Nova-Cruz o trem que saía de Natal (RN), na direção da Paraíba e Pernambuco. Também passava no sentido contrário, vindo do Recife com destino a Natal, atravessando a Paraíba.
Pela primeira vez, Maria iria ter um filho fora de casa, onde costumava ser submetida aos cuidados de uma conhecida parteira, sem nunca haver passado por uma complicação.
José Lucas deixou a esposa internada e voltou para Nova-Cruz, sendo orientado pela assistente social do hospital a ir buscá-la, juntamente com o bebê, três dias depois.
Nesse tempo, não havia facilidade de comunicação, e José Lucas permaneceu sem notícias da esposa durante três dias, até que retornou a Guarabira. Em lá chegando, dirigiu-se imediatamente ao hospital. Estava ansioso para ver a mulher, e curioso para saber o sexo do bebê, o que, naquela época, somente era conhecido na ocasião do parto.
Na recepção do hospital, José Lucas sofreu um grande impacto, ao ser informado de que Maria, sua esposa, havia ido a óbito durante o parto, e que o bebê, uma menina, também havia morrido.
O pobre homem passou mal diante da triste notícia. Enfrentou um grande momento de dor, agravado pela falta de dinheiro. Não sabia o que fazer, nem por onde começar. Não parava de chorar, enquanto aguardava os atestados de óbito da mulher e da menina. Depois disso, teria que providenciar a compra dos caixões e pagar o translado dos corpos para Nova-Cruz, onde deveria se realizar o sepultamento. Antes disso, teria que ir ao necrotério do hospital, acompanhado de um enfermeiro, para fazer o reconhecimento dos corpos.
Ao se dirigir ao necrotério, José Lucas avistou uma paciente, de camisola, caminhando lentamente pelo corredor do hospital. Os seus olhos vislumbraram naquela mulher a sua Maria, que, segundo informação do hospital, havia morrido, juntamente com a filhinha recém-nascida. José Lucas ficou paralisado, sem conseguir desgrudar os olhos daquela “aparição”. O homem sofreu um desfalecimento. Convicto de que estava vendo a alma da esposa morta, José Lucas entrou em pânico. E o pior foi que a suposta “alma” andou em sua direção, falando alto:
– Lucas, chegasse agora??? “Vamo vê o teu fio!!!
A tremedeira se apoderou do homem, que não sabia se estava tendo uma alucinação ou não. Maria gritou por socorro ao ver o marido desmaiar. O alvoroço no hospital foi grande, ao ser constatado o equívoco: Maria estava “vivinha da Silva”, e também o filho, e não filha, que havia parido, num parto normal. O garoto havia pesado quase quatro quilos.
Depois de receber atendimento médico no próprio hospital, José Lucas se recuperou do choque sofrido. Conseguiu entender, então, que tudo aquilo não havia passado de um equívoco, fruto da desorganização da equipe médica do hospital de Guarabira (PB).
Nesse momento, o agricultor José Lucas deu graças a Deus, por sua Maria, e Moisés, o novo rebento do casal, estarem vivos.
Bendito equívoco!!!

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