O PARTO
Há várias décadas,
quando em Nova-Cruz (RN) ainda não havia unidade hospitalar, José Lucas, um
agricultor, viajou de trem para Guarabira (PB), levando Maria, a esposa, para
parir o décimo filho do casal, no hospital daquela cidade. A gravidez da mulher
não tinha sido muito sadia, e, por esse motivo, ele foi aconselhado, no Posto
de Saúde de Nova-Cruz, a levá-la para dar à luz em uma cidade onde houvesse
hospital. Como Nova-Cruz fica localizada na fronteira do Rio Grande do Norte
com a Paraíba, tornava-se mais fácil para José Lucas levar a esposa para o
hospital de Guarabira (PB). Todos os dias, passava por Nova-Cruz o trem que
saía de Natal (RN), na direção da Paraíba e Pernambuco. Também passava no
sentido contrário, vindo do Recife com destino a Natal, atravessando a Paraíba.
Pela primeira vez,
Maria iria ter um filho fora de casa, onde costumava ser submetida aos cuidados
de uma conhecida parteira, sem nunca haver passado por uma complicação.
José Lucas deixou a
esposa internada e voltou para Nova-Cruz, sendo orientado pela assistente
social do hospital a ir buscá-la, juntamente com o bebê, três dias depois.
Nesse tempo, não
havia facilidade de comunicação, e José Lucas permaneceu sem notícias da esposa
durante três dias, até que retornou a Guarabira. Em lá chegando, dirigiu-se
imediatamente ao hospital. Estava ansioso para ver a mulher, e curioso para
saber o sexo do bebê, o que, naquela época, somente era conhecido na ocasião do
parto.
Na recepção do
hospital, José Lucas sofreu um grande impacto, ao ser informado de que Maria,
sua esposa, havia ido a óbito durante o parto, e que o bebê, uma menina, também
havia morrido.
O pobre homem passou
mal diante da triste notícia. Enfrentou um grande momento de dor, agravado pela
falta de dinheiro. Não sabia o que fazer, nem por onde começar. Não parava de
chorar, enquanto aguardava os atestados de óbito da mulher e da menina. Depois
disso, teria que providenciar a compra dos caixões e pagar o translado dos
corpos para Nova-Cruz, onde deveria se realizar o sepultamento. Antes disso,
teria que ir ao necrotério do hospital, acompanhado de um enfermeiro, para
fazer o reconhecimento dos corpos.
Ao se dirigir ao
necrotério, José Lucas avistou uma paciente, de camisola, caminhando lentamente
pelo corredor do hospital. Os seus olhos vislumbraram naquela mulher a sua
Maria, que, segundo informação do hospital, havia morrido, juntamente com a
filhinha recém-nascida. José Lucas ficou paralisado, sem conseguir desgrudar os
olhos daquela “aparição”. O homem sofreu um desfalecimento. Convicto de que
estava vendo a alma da esposa morta, José Lucas entrou em pânico. E o pior foi
que a suposta “alma” andou em sua direção, falando alto:
– Lucas, chegasse
agora??? “Vamo vê o teu fio!!!
A tremedeira se
apoderou do homem, que não sabia se estava tendo uma alucinação ou não. Maria
gritou por socorro ao ver o marido desmaiar. O alvoroço no hospital foi grande,
ao ser constatado o equívoco: Maria estava “vivinha da Silva”, e também o
filho, e não filha, que havia parido, num parto normal. O garoto havia pesado
quase quatro quilos.
Depois de receber
atendimento médico no próprio hospital, José Lucas se recuperou do choque sofrido.
Conseguiu entender, então, que tudo aquilo não havia passado de um equívoco,
fruto da desorganização da equipe médica do hospital de Guarabira (PB).
Nesse momento, o
agricultor José Lucas deu graças a Deus, por sua Maria, e Moisés, o novo
rebento do casal, estarem vivos.
Bendito equívoco!!!
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