FATO DE CONTRIÇÃO
JOSÉ
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
(Em
07 de março de 1995)
Pensando afundei na morte, extrapolação
da vida;
mais consequência que sorte, mais
chegada que partida.
Deduzi, irreverente, que esperança e
crença forte
na verdade atribuída ao evangelho
somente,
como pura e concluída, é o mais certo e
justo norte
para as almas desprovidas de saber
inteligente,
como coisa garantida, ter no paraíso
aporte.
Eu, pensador impudente, analisei
friamente
salmos e jaculatórias, epístolas e
escrituras,
sem emendas nem rasuras. Parábola,
infelizmente,
não era apenas estória, sabedoria
patente
da lei de Deus, fria e dura, que aponta
a reta da glória.
Velho mestre convincente, Me incutiu
fundo na mente
que é uma curva trajetória, que sobe,
mas desce em frente,
como toda criatura. Um remorso assim
descrente,
qual pensamento indecente, confunde
minha memória.
Mais feliz é o puritano que esbanja
convicção
e não teme desengano, seguro da
salvação?
Eu, letrado pensador, rumino culta
aflição,
num dilema quase insano: Serei santo ou
pecador?
Sou, com frágil intenção, mistura de
ódio e amor,
fariseu e publicano, confusão de riso e
dor;
por vezes, sou bom ladrão, noutras, mau
samaritano.
Quando faço uma oração, sinto-me hereje
e profano,
modifico a invocação do centurião
romano:
Meu Senhor, Sabeis que não mereço Vossa
mansão...
Heis de convir, Criador, não percebi
Vosso plano;
Deste-me um coração sensível mas leviano
e também uma razão de pendor
cartesiano...
Bem sei nada valerão argumentos contra
enganos;
Sois poder e compaixão, nunca Vos senti
tirano,
Sois Santo em toda extensão. Eu, em
triste condição
de vida feita paixão, só intensamente
humano.
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Colaboração de Manoel Marques
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