domingo, 4 de outubro de 2015

SAUDADES DE BARTÔ


FATO DE CONTRIÇÃO

JOSÉ BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
(Em 07 de março de 1995)

Pensando afundei na morte, extrapolação da vida;
mais consequência que sorte, mais chegada que partida.
Deduzi, irreverente, que esperança e crença forte
na verdade atribuída ao evangelho somente,
como pura e concluída, é o mais certo e justo norte
para as almas desprovidas de saber inteligente,
como coisa garantida, ter no paraíso aporte.
Eu, pensador impudente, analisei friamente
salmos e jaculatórias, epístolas e escrituras,
sem emendas nem rasuras. Parábola, infelizmente,
não era apenas estória, sabedoria patente
da lei de Deus, fria e dura, que aponta a reta da glória.
Velho mestre convincente, Me incutiu fundo na mente
que é uma curva trajetória, que sobe, mas desce em frente,
como toda criatura. Um remorso assim descrente,
qual pensamento indecente, confunde minha memória.
Mais feliz é o puritano que esbanja convicção
e não teme desengano, seguro da salvação?
Eu, letrado pensador, rumino culta aflição,
num dilema quase insano: Serei santo ou pecador?
Sou, com frágil intenção, mistura de ódio e amor,
fariseu e publicano, confusão de riso e dor;
por vezes, sou bom ladrão, noutras, mau samaritano.
Quando faço uma oração, sinto-me hereje e profano,
modifico a invocação do centurião romano:
Meu Senhor, Sabeis que não mereço Vossa mansão...
Heis de convir, Criador, não percebi Vosso plano;
Deste-me um coração sensível mas leviano
e também uma razão de pendor cartesiano...
Bem sei nada valerão argumentos contra enganos;
Sois poder e compaixão, nunca Vos senti tirano,
Sois Santo em toda extensão. Eu, em triste condição
de vida feita paixão, só intensamente humano.


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Colaboração de Manoel Marques

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