segunda-feira, 11 de maio de 2015

RN SE ESQUECE DO MÁRTIR AUGUSTO SEVERO




Augusto Severo, o mártir a ser lembrado amanhã, e...
O Rio Grande do Norte resolveu mesmo esquecer seus filhos mais ilustres, cujas personalidades deveriam estar sendo sempre apresentadas aos demais conterrâneos como exemplos e modelos a nortear caminhos. A mais recente demonstração deste esforço de perda de cultura é o 113° aniversário de falecimento do aviador Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, um dos mais respeitados mártires da história da aviação.
Ele transcorrerá nesta terça-feira, 12, amanhã, e nos meios de comunicação locais não vê notícia de qualquer preparação de evento para registrá-lo como iniciativa dos poderes constituídos. Quem está organizando um momento em sua homenagem é um grupo de admiradores capitaneado pelo advogado e empresário Augusto Maranhão, historiador que integra a família de Severo e cuja fisionomia, na opinião de amigos, lembra muito a deste.
Por sua iniciativa, alguns natalenses se reunirão às 15h30m de amanhã diante do busto de Severo chantado na praça que recebeu seu nome ainda nos anos quarenta, na Ribeira, para ser substituído há pouco tempo numa iniciativa do prefeito Carlos Eduardo Alves, para quem o local deve oficialmente ser chamado de “Largo Dom Bosco”. No mesmo local, até alguns anos atrás, os poderes públicos promoviam grandes eventos populares para enaltecer a história de Severo.
Três mortes
Na visão de Augusto Maranhão, Augusto Severo é um potiguar que morreu pelo menos duas vezes. A primeira foi na explosão de seu balão, o “Pax”, em Paris, há 113 anos, quando também perdeu a vida seu companheiro de invenções e experiências aéreas, o mecânico de bordo francês Georges Sachet, nome de rua na Ribeira, também em Natal. A segunda foi em 2014, quando a inauguração, em São Gonçalo do Amarante, do aeroporto internacional Aluizio Alves desativou em Parnamirim o Augusto Severo, cenário e testemunha das muitas contribuições que o Rio Grande do Norte emprestou ao avanço da aeronáutica.
Uma terceira morte ocorre em Macaíba, cidade onde Severo nasceu e cuja prefeitura não procura realimentar sua memória entre os munícipes.
Engenharia avançada
Além de aeronauta, Augusto Severo, nascido a 11 de janeiro de 1864, foi jornalista, inventor e político, chegando a representar o Rio Grande do Norte na câmara dos deputados da primeira república. Oitavo dos quatorze filhos do pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e da paraibana Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão, realizou seus estudos primários em Macaíba e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador, Bahia. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.
...o dirigível "Pax", no qual perdeu a vida.
Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza, que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Severo passou a se interessar pelo vôo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou “Albatroz”. Em 1882, passou a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, acumulando a função de vice-diretor. No ano seguinte o ginásio foi fechado e Severo dedicou-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos de seu irmão Adelino, associou-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora, onde ficou até 1892.
Inventos
Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo, com quem teve cinco filhos. No ano seguinte passou a escrever artigos para o jornal “A República”, periódico antimonárquico fundado irmão Pedro Velho, e projetou um dirigível que incorporava idéias revolucionárias, o “Potyguarania”, que, porém, nunca chegou a ser construído.
Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de professores da Escola Politécnica, o Governo concedeu um auxílio pecuniário para que Severo pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as idéias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente.
O dirigível “Bartolomeu de Gusmão” introduzia um conceito novo. Era um aparelho semi-rígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões.
Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, pediu patente para um “turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos.
Em 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Severo patenteou um novo balão dirigível, o “Paz”, cujo nome foi posteriormente latinizado para “Pax”. Em 23 de julho de 1901, registrou a patente de uma “máquina a vapor rotativa e reversível”, com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.
Custeou tudo
Em fins de 1901, Severo licenciou-se de seu mandato de Deputado Federal para se dedicar à construção do “Pax”. No novo dirigível, que era um desenvolvimento do “Bartholomeu de Gusmão”, Severo introduziu uma grande quantidade de inovações: abandonou o leme de direção e introduziu ao todo sete hélices: uma na popa, outra na proa, outra na barquinha e quatro laterais. Manteve a sua idéia de fazer uma aeronave integrando a quilha que levava os tripulantes e o grupo motor ao balão.
Augusto Maranhão (de branco): Severo morreu três vezes.
Sem ter conseguido qualquer auxílio externo, Severo teve que assumir toda a despesa para a construção do “Pax”. Pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que ele optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24 cv e o outro com 16cv. O invólucro tinha a capacidade de 2.500m3 de hidrogênio, com trinta metros de comprimento e doze no maior diâmetro. O aparelho pesava cerca de duas toneladas. Os ensaios foram realizados nos dias 4 e 7 de maio de 1902 com sucesso.
Morte
No dia 12 de maio de 1902, tendo Sachet e Severo a bordo, o “Pax” iniciou seu voo às 05h30min, saindo da estação de Vaugirard, Paris. Elevou-se rapidamente atingindo cerca de quatrocentos metros de altura. Realizou diversas evoluções que mostraram aos inúmeros espectadores que as idéias de Severo estavam corretas. Cerca de dez minutos após o início do vôo, porém, o “Pax” explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Sachet morreram na queda. Os restos do dirigível caíram na Avenida du Maine, Paris, diante de uma grande multidão que seguia com interesse a demonstração.
A catástrofe do “Pax” teve um impacto enorme. Natália, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos trinta anos de idade. A tragédia não ofuscou o avanço científico das propostas do pioneiro potiguar: aconfiguração proposta por Severo, de um dirigível semi-rígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.
FONTE:
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