domingo, 15 de março de 2015

Carta do meu estimado amigo e parente JOÃO CELSO

Iris, Moacyr e Carlos:

Recebi o livro no final de dezembro e tinha uma viagem ao Rio programada para o dia 12 de janeiro. Deixei para lê-lo durante a viagem... que acabou não se concretizando por motivos de doença.
Nossas funções de “babá” das crianças de Dhenise mostravam que eu não teria tempo de ler em Brasília, pois eu desconfiava que não ia parar quando começasse, o que de fato aconteceu.Aproveitei a ida para passar o carnaval fora (hotel fazenda) e levei o livro que estava na minha mesa de cabeceira desde que o recebera.
Confirmou-se a expectativa e só parei quando acabei o capítulo 12, acho (precisava ir jantar).
Já então notara algo bem curioso: a diferença de quase 20 anos entre Moacyr e eu (nasci em 45) – e eu tendo chegado a Natal em junho de 49 -  mostra que eu ainda conheci quase que a mesma cidade que ele conhecera. São inúmeros os detalhes e pessoas de “meu tempo” também.
Esclareço que só conheci Moacyr quando ele já se casara com Iris, minha prima (Expedito era irmão de minha mãe), e por contingências diversas (inclusive minha meninice) a volta dele a Natal no final dos anos 50 passou despercebida a mim. O Desembargador era meu conhecido e Socorro fora colega de Márcia, minha Irmã, no Colégio das Neves. Morávamos na Gonçalves Ledo, perto da Santa Cruz da Bica (Iris também morou lá conosco, e depois com tio Expedito, nos anos 60, antes de eles se mudarem pra Aderbal de Figueiredo). Frequentei bastante a Meira e Sá, principalmente quando os circos se instalavam lá.
Saí de Natal no día 1º de janeiro de 60 e voltei umas três vezes (63, 65 e 67, nesta última para ver Iris esperando José Neto, ainda morando na Meira e Sá, naquele “minifúndio” urbano da família Gomes da Costa, antes de ir morar em Recife (de 69 a 71), época em que fui dezenas de vezes, a serviço da Embratel ou em passeios de fim de semana. Penso que nem mesmo nessas passagens conheci Moacyr. Creio que a primeira vez que o vi foi em Areia Preta, ali por 86, ocasião em que, se bem me lembro, Tales e Mércia estavam lá.
Porém as histórias do livro vão além de pessoas e fatos de Natal. Por exemplo, encontrei as referências a Vigor Artese (com “e”), tio de um amigo e ex-colega meu na Embratel. Comentei com ele sobre o livro hoje, depois que voltei, e aguardo resposta dele.]
Outras tantas causaram-me inveja por não ter vivido a mesma experiência (encontros com
Dick Farney, Manuel Bandeira dentre outros; a Copa de 50 nem tanto pois nem mesmo na de 54 me liguei, só despertando para a disputa em 58). Minhas experiências no Rio, a partir de junho de 60 principalmente, foram um pouco diferentes sobre futebol e carnaval, cantores, compositores, programa de TV e intelectuais (fui penetra em tudo isso).
De 65 a 67 convivi intensamente com João Saldanha. Alias, em 69 (ele ainda técnico da seleção que iria se classificar sob seu comando para a Copa de 70), tivemos um curioso encontro em Recife (TV Jornal do Comércio) com direito a uma esticada no Barril (Boa Viagem). Ivan Lima (organizador da entrevista na emissora e que fora de meu tempo em Natal), um tanto antipaticamente, quis me afastar dele o quanto pôde. Cheguei antes dos repórteres esportivos (da Bahia ao Piauí) que tinham ido a Recife para aquele encontro (na falta de rede nacional de TV, ele viajou a diversas cidades para essas entrevistas “regionais”; de Recife, acho, ele ia pra Belém), sentei-me numa mesa de canto (eu era freguês, morava ali bem pertinho) e vi a turma chegando. Reservaram a cabeceira de uma mesa enorme para o convidado de honra. Sobrava uma cadeira distante (na outra cabeceira). Quando Saldanha me viu, imediatamente me chamou pra mesa e eu sentei exatamente naquela cadeira vazia. Não é novidade que Saldanha era chegado a umas lorotas bem cabeludas, à la Tio Né. E ele se agarrou a mim, pois talvez o ambiente lhe parecesse hostil. E de vez em quando ele dizia: “o gordo lembra disso, ele estava lá” (o gordo era eu). Eu não só confirmava como acrescentava um detalhe, verídico ou não. Ao fim do jantar, ele queria que Ivan Lima me levasse em casa (no Rio, ele me levava quase toda semana, depois dos jantares que se seguiam à Revista Esportiva Facit e de deixarmos Nélson Rodrigues na dele, desde a TV Rio até a TV Globo, que eu parei de frequentar em 68, ao começar a trabalhar). Eu dispensei a carona, ainda aborrecido com Ivan Lima e por morar na rua atrás do restaurante. Um ou dois anos depois, eu estava em Salvador, num barzinho à beira-mar, quando alguém me reconheceu, perguntou se eu não era “aquele amigo de João Saldanha que estava naquela noite em Recife”, confirmei, fui convidado pra mesa dos jornalistas esportivos e não precisei pagar nada, era convidado deles. Depois que voltei a morar no Rio, casado, nem me lembro se ainda tinha a Facit na Globo porém encontrei Saldanha mui raramente. Ele ainda se lembrava de mim. Quando ele morreu eu já morava em Brasília.
Com isso, não tive o prazer de conhecer o Machadão nem de comentar com Saldanha sobre sua beleza.
O livro é sensacional li todo em dois fôlegos ou três. Como eu já dissera a Iris, ao abri-lo para uma primeira leitura e dar uma folheada rápida, existem o que Luiz Antonio Sacconi chama de “gralhas da primeira edição” (no final de 2013, o livro de memórias da Embratel que organizei foi exaustivamente revisto, inicialmente por uma profissional que cobrou - e caro - pela tarefa.Dois dos coautores - eu e outro – fizemos dezenas de revisões, até que entendemos que não havia mais nada a consertar. Depois de impresso, começaram a aparecer os erros, INCLUSIVE no nome daquele coautor-revisor. Até agora foram encontrados quatro, três deles por nós mesmos. “Erro” mesmo, somente um, sendo os demais erros de digitação (e falhas na revisão, claro). Acho que, por exemplo, o nome do ginásio Machadinho deveria ter sido dito sempre o mesmo, mas algumas vezes está Katia Fagundes e pelo menos uma vez está Katia Garcia (aquela cunhada de Vemvem que teve morte em acidente, se não me engano). Outra observação: Erildo é irmão de padre Eymard em cujo colégio estudei de 54 a 58. O seu nome era Eymard L´Eraître Monteiro (e não Lerestre).
Nada que desmereça a qualidade e importância da obra, que transcende a mera história
pessoal ou o desagravo que, por si só, justificava sua publicação.
Parabéns!


João Celso <joaocelso@uol.com.br>
_______________________________
OBS.: O professor de matemática referido era EVALDO RODRIGUES DE
CARVALHO. Nesse tempo no bairro do Alecrim existiam outros professores
conhecidos: Professores Saturnino, Batalha e Luiz Gonzaga de Souza.



João Celso <joaocelso@uol.com.br>

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Esqueci de comentar que vivi UMA experiência parecida com outra vivida
por Moacyr.
Concluí o curso ginasial em 1959, no 7 de Setembro. Era considerado
um bom aluno e lembro-me de ter flagrado os professores de Português
(Eulício) e Matemática (acho que se chamava Eraldo,  talvez ainda esteja
 vivo e dava aulas em quase todos os ginásios de Natal) discutindo
quem era o melhor aluno da turma (eu, tese sustentada por Eulício,
enquanto Eraldo votava em outro).
Ao chegar ao Rio para cursar o primeiro ano científico, no ano seguinte,
certo mês fui mal em uma prova de Matemática. Isso bastou para o
professor me expor perante a turma, tendo perguntado onde eu terminara
 o ginásio e prognosticado que eu não passaria de ano (pelo menos em
 sua matéria) e que deveria voltar a cursar o ginásio (no mínimo o quarto
ano).
Dei mais sorte que Moacyr porque logrei aprovação, recuperando-me bem
nas provas seguintes. Eu já estava aprovado por média (7, acho) inclusive
em Matemática, mas fizera opção por fazer todas as temidas provas orais
e lá cheguei eu pra encarar a fera. Antes, passei por outro examinador
com quem tirei 10. Duílio Nogueira (o nome do professor) me recebeu
dizendo que me avisara que eu não tinha condições de acompanhar a
turma, surpreendendo-se ao ouvir de mim que eu já estava aprovado por
média. Verdade seja dita, Duílio era honesto e não sabia de meus resulta
dos, mas foi conferir e viu que eu falava a verdade. Cumpriu o ritual,
fez cinco perguntas valendo 2 pontos cada e eu, se não me trai a
memória, acertei 4 delas, aumentando a média para mais de 8 ou quase
isso (a oral tinha peso 3).
Conheci Malba Tahan ainda em Natal, creio que em 57 ou 58 durante
uma viagem dele à cidade. E no Rio, morei muitos anos vizinho ao Colégio
 Mello e Souza dele (o local, na av. Copacabana quase esquina de Xavier
da Silveira, hoje é uma galeria cheia de lojas, não sei se foi lá que Moacyr
estudou com ele).
Boa noite.   




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