Públio José – jornalista
Uma das maiores dúvidas do homem está relacionada
ao seu contato com Deus e a incerteza de ser ouvido. Essa questão está
ligada a duas realidades: a primeira é que ninguém tem a capacidade de
visualizar Deus, de vê-lo fisicamente como se vê as demais pessoas; a
segunda é que ninguém ouve a Deus do ponto de vista físico, como se ouve
o trinar de um passarinho ou o bate-boca de dois adversários. Para quem
nunca o fez, ouvir a Deus, na verdade, é atividade de demasiada
complexidade e que habita um terreno intrincado – o terreno da fé.
Entretanto, embora pouco relacionada entre as dificuldades que compõem o
dia-a-dia atual, a incerteza de que se é ouvido ou não por Deus é uma
das piores calamidades de hoje. O fato de um governante não ouvir os
reclamos de um segmento já gera um desconforto e uma incômoda sensação
de rejeição, quanto mais o fato de não ser ouvido pelo Pai Eterno.
Assim, o fato de não ver Deus e concluir que não é ouvido por Ele – em
razão de não escutar claramente a sua voz – tem levado muitas pessoas a
abdicar totalmente de um contato com Sua Pessoa e, em consequência,
adentrar perigosamente no terreno da descrença e da incredulidade. Pois
a pior sensação experimentada pelo ser humano, no encaminhamento de
seus problemas existenciais, é quando cessam suas tentativas, suas
buscas para a solução que almeja, e sua mente é invadida pelo vazio,
pelo sentimento de que nada mais resta a fazer. A não ser se defrontar
com o fruto cruel e amargo da impotência e da insustentabilidade. É
também o tempo de se abraçar com a conclusão e a certeza de não se ter
mais a quem recorrer. E agora? Do interior, angustiado, parte o grito, o
clamor: “Por que ninguém me ouve? Por que ninguém me socorre; qual a
razão para tamanho menosprezo?”.
Imaginemos,
por exemplo, a situação de um suicida. Por que o atentado à própria
vida? Com certeza, pelo sentimento de que o momento de continuar a luta
chegou ao fim, exauriu-se a força para permanecer na peleja. E, se nas
pessoas que vivem essa dolorosa experiência, se aconchegar uma certeza
de que alguém lhe ouve, de que alguém muito poderoso está disposto a lhe
escutar? Certamente as atitudes serão outras, não é verdade? Mas,
afinal de contas, Deus nos ouve ou não? Se nos ouve, como é a Sua voz?
Grave, aguda, alta, baixa, calma, tonitruante, acariciadora, intimista,
impositora ou audível, simplesmente? E, se não nos ouve, qual o tom do
seu silêncio? Duro, seco, ausente ou tão somente o ronronar do nada?
Muitas pessoas há no mundo dando testemunho de que ouviram a voz de
Deus. E ficaram maravilhadas. Dizem até que tal experiência modificou
totalmente as suas vidas.
E o que fizeram de tão especial para ouvir a voz de Deus? Creram.
Simplesmente creram. Personalidades bíblicas do porte de Davi também
testemunharam ter ouvido a voz de Deus. No salmo 40, versículo 1, por
exemplo, Davi assegura: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se
inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro”. Também no salmo
54, versículo 17: “À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas
queixas e lamentarei; e Ele ouvirá a minha voz”. E ainda como escreveu
no salmo 120, versículo 1: “Na minha angústia, clamo ao Senhor, e Ele me
ouve”. O profeta Daniel também viveu essa certeza, como está escrito no
livro que leva seu nome, capitulo 10, versículo 12: “Não temas, Daniel,
porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e
a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e,
por causa das tuas palavras, é que eu vim”.
Vários escritores bíblicos asseguram, além do mais, que o próprio Jesus
Cristo, como homem, como carne, também suportou todos os seus
sofrimentos por conta da certeza de que Deus lhe ouvia. Essa convicção,
para nós salvadora, está bem registrada em João, capítulo 17, versículo 1
ao 26, na célebre oração sacerdotal quando agradeceu a Deus que, “dos
que me deste, protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da
perdição”, se referindo a Judas. Também no livro de João, capítulo 11,
versículo 41, na conhecida passagem da ressurreição de Lázaro, Jesus
agradece de público a Deus o fato de ser ouvido: “E Jesus, levantando os
olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste”. Assim,
com fé, está na hora de passarmos a ter, em Deus, um conselheiro e
confidente especial. Afinal, como nos assegura Davi, “se meu pai e minha
mãe me desampararem, o Senhor me acolherá”. Beleza, não?
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