domingo, 30 de novembro de 2014

POESIAS, POEMAS E POETAS




O POETA A CAVALO



                               Juan Ramón Jiménez

                               (Trad. de José Bento)



Que quietude violeta,

pelo carreiro, de tarde!

A cavalo vai o poeta...

Que quietude violeta!



A doce brisa do rio,

rescendente a junco e água,

refresca-lhe o senhorio...

A brisa leve do rio...



A cavalo vai o poeta...

Que quietude violeta!



E o coração se lhe perde,

dolorido e perfumado,

entre a madressilva verde...

e o coração se lhe perde...



A cavalo vai o poeta...

Que quietude violeta!



A margem está a dourar-se...

O último pensamento

do sol a deixa a sonhar...

A margem está a dourar-se...



Que tranquilidade violeta,

pelo carreiro, de tarde!

A cavalo vai o poeta...

Que quietude violeta!



Fogo Morto

Ciro José Tavares

            “ Alors Il se soulève, ouvre son aile au vent
            Et se frappant le Coeur avec un cri sauvage,
            Il pousse dans la nuit un si fúnebre adieu.” *
            Alfred De Musset,        La Muse

            A despedida na porta que pendia sem prumo
            quase arrancando do portal as dobradiças,
            tempo escrito nas longas rachaduras verticais,
            pó e folhas secas esquecidos dos ventos na soleira.
            Dentro o odor da umidade apodrecida
            liberto de telhas e paredes sufocava,
             nos quartos, há muito não visitados pela luz
            estendia-se o soturno das visões de Dickens.
            Na varanda posterior, centro das reuniões familiares,
            as vozes de padrinho Ângelo e de tia Sinhá
            pareciam fluir suspensas nas lembranças.
            Também o burburinho das mucamas na cozinha,
            ruído da moenda triturando a cana,
            cheiro inconfundível do melaço e da cachaça,
            durante plenilúnios saudosas canções dos violeiros,
            Alba derramando prata no canavial. 
            Agora não restam sequer cinzas do fogão e candeeiros,
            parte da chaminé fraturada pelo meio,
            terreno arrasado do carnaubal.
            O crepúsculo que queimava tardes no horizonte,
            noite impiedosa apagou a chama.

*  “Ergue-se, então, asas abertas ao vento
O grito selvagem que parte do coração, estende na noite seu fúnebre adeus”.
 


À SERRA NEGRA DO NORTE

Entre montanhas, plantada,
Minha cidade nasceu
E a natureza lhe deu
Aos que as outras negara
Dou-lhe belezas raras,
Que em noite de invernada,
Fez suas praças beijada,
Pelas águas do Espinharas.

Capitão Manoel Monteiro,
Teu primeiro fundador,
Nessas paragens aportou,
Há mais dois séculos passados.
Senhor de escravo, abastado,
Hasteou sua bandeira,
Fez nascer nesta ribeira,
Rica fazenda de gado.

Aqui, em épocas remotas,
Sobre a margem deste rio,
Mandava o tigre bravio,
A mata virgem, o serrado,
Grotões e mato fechado,
Perdido na imensidade,
Antes de cerco cidade,
Fostes fazenda de gado.

Mas, o velho capitão,
Homem culto e fervoroso,
Português, religioso,
Erigiu uma capela.
Uma das mais rica, e bela,
Da zona do Seridó,
Nossa Senhora do Ó,
Foi a padroeira dela.

De capela, hoje Matriz,
Pelos teus filhos zelada,
Ó minha terra adorada,
Em ti quero a minha morte,
Linda cidade serrana,
Ó rainha sertaneja,
Tu tens a mais bela Igreja,
Do Rio Grande do Norte.

 Ramiro Monteiro Dantas, Fazenda Saudade/Serra Negra do Norte.


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