quinta-feira, 13 de novembro de 2014

As velas do Mucuripe e as pedras de Ponta Negra

Por: Augusto Coelho Leal, engenheiro civil, sócio efetivo do IHGRN

                Canta Raimundo Fagner: “As velas do Mucuripe/Vão sair para pescar/Vou levar as minhas mágoas/Pras águas fundo do mar.”
                 Eu poderia fazer uma paródia e cantar: As pedras de Ponta Negra/Vão cair e vão rolar/Vou levar a minha raiva/Pras águas funda do mar.
                Por que cantar e fazer esta paródia. É que meus instintos animalescos são aguçados quando vejo certos casos que acontecem por “esses Brasis,” conseqüentemente, aqui na terrinha.
                Estava eu deitado “tranquilo e calmo,” vento na televisão um noticiário local sobre a obra de enrocamento na praia de Ponta Negra. Com espanto, notei que existiam balanças gigantes pesando as pedras e várias pessoas por perto no maior auê – é assim que se escreve? Se não for azar, já está escrito. Ainda aumentou o meu espanto quando vi as “autoridades competentes” dando entrevistas dizendo que por ali existem pedras de pesos e tamanhos variados. Aí eu disse lentamente para mim mesmo – Meu Deus como eu sou burro.  Fui engenheiro rodoviário por mais de vinte e cinco anos, fiz vários obras de enrocamento em cabeceiras de pontes, e contenções de barreiras em rios e lagoas, nunca tinha visto aquilo, muita gente metendo o “bedelho” onde não devia e com isso, se passa a imagem para a população que os engenheiros da SEMOP são incompetentes ou ladrões - não vi, nem ouvi ninguém falar isto, mas para os meus conceitos fica esta impressão.
                Para meu desalento, não vi nem um dos órgãos que representa a classe dos engenheiros partir em defesa dos absurdos que se cometem, desvalorizando a categoria.
                Para quem entende uma coisinha do assunto, sabe que uma obra dessa natureza não tem só pedras do mesmo tamanho, conseqüentemente do mesmo peso. Se as pedras tiverem o mesmo processo de formação. Essa estrutura deve funcionar como uma estrutura flexível e não rígida e as pedras menores ajudam a fazer esse trabalho de flexibilidade além de preencherem os vazios que ficam. Agora eu pergunto: se as pedras têm a mesma origem de formação, não seria mais facil pesar uma menor, medir o seu volume, e comparar com o volume das maiores fazendo uma simples regra de três? Acharíamos o peso aproximado (não precisa ser exato) das maiores sem precisar deslocar aquelas balanças imensas, não é?
                Notei a indignação do meu amigo e colega Tomaz Neto, em entrevista dada, para um jornal falado em uma emissora de televisão desta capital. Para mim ele está coberto de razão. Concordo que toda obra pública deve ser fiscalizada com rigor pelos órgãos a quem se delega essas atribuições, pois o dinheiro público é mais fácil de ser desviado ou roubado. Mas, sou contra a maneira festiva que essas investigações são feitas e muitas vezes de maneira equivocada. Acho que sem holofotes e alarde as coisas fluem melhor.
                Mas já que estamos falando em obras – no bom sentido da palavra, pois no mau sentido estamos cheio de “obra,.” não vejo ninguém se incomodar com os acessos ao novo aeroporto. Isto sim um absurdo, pois além do risco de acidentes, existem os riscos de assaltos já que a buraqueira é grande e a ausência de policiamento – é novidade? É um fato constante.
                Existem obras que merecem conclusão com urgência, como: viaduto do Baldo, prolongamento da Avenida Prudente de Morais, saneamento das praias de Cotovelo e Pirangi há mais de cinco anos começada e não concluída, a urbanização das praias do Meio e dos Artistas. E por falar em Praia do Meio, vão ficar uma beleza, aqueles quiosques tirando a visão do mar – que falta de imaginação, digna de fazer Niemeyer remexer dentro do túmulo. Só vão servir para muita bebida e apreciarmos shows funk da galera. Ainda lembro que no final dos anos setenta aconteceu fato semelhante ao que aconteceu agora em Mãe Luíza. Resolvemos o problema em menos de quarenta dias, era prefeito Vauban Bezerra. Quanto meses aquilo está rolando? Por que não fazemos essas investigações em silêncio e com maior eficácia e melhores resultados?
                É isso gente, estamos sem rumo, onde a incompetência domina o serviço público, pior, não podemos colocar competência, pois os salários de determinadas categorias, não são atrativos.
Só nos resta rezar e pedir “ao bispo” que as coisas melhorem.

                

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