As velas do Mucuripe e as pedras de Ponta Negra
Por: Augusto Coelho Leal, engenheiro civil, sócio efetivo do IHGRN
Canta
Raimundo Fagner: “As velas do Mucuripe/Vão sair para pescar/Vou levar as minhas
mágoas/Pras águas fundo do mar.”
Eu poderia fazer uma paródia e cantar: As
pedras de Ponta Negra/Vão cair e vão rolar/Vou levar a minha raiva/Pras águas
funda do mar.
Por
que cantar e fazer esta paródia. É que meus instintos animalescos são aguçados
quando vejo certos casos que acontecem por “esses Brasis,” conseqüentemente,
aqui na terrinha.
Estava
eu deitado “tranquilo e calmo,” vento na televisão um noticiário local sobre a
obra de enrocamento na praia de Ponta Negra. Com espanto, notei que existiam
balanças gigantes pesando as pedras e várias pessoas por perto no maior auê – é
assim que se escreve? Se não for azar, já está escrito. Ainda aumentou o meu
espanto quando vi as “autoridades competentes” dando entrevistas dizendo que
por ali existem pedras de pesos e tamanhos variados. Aí eu disse lentamente
para mim mesmo – Meu Deus como eu sou burro.
Fui engenheiro rodoviário por mais de vinte e cinco anos, fiz vários
obras de enrocamento em cabeceiras de pontes, e contenções de barreiras em rios
e lagoas, nunca tinha visto aquilo, muita gente metendo o “bedelho” onde não
devia e com isso, se passa a imagem para a população que os engenheiros da
SEMOP são incompetentes ou ladrões - não vi, nem ouvi ninguém falar isto, mas
para os meus conceitos fica esta impressão.
Para
meu desalento, não vi nem um dos órgãos que representa a classe dos engenheiros
partir em defesa dos absurdos que se cometem, desvalorizando a categoria.
Para
quem entende uma coisinha do assunto, sabe que uma obra dessa natureza não tem
só pedras do mesmo tamanho, conseqüentemente do mesmo peso. Se as pedras
tiverem o mesmo processo de formação. Essa estrutura deve funcionar como uma
estrutura flexível e não rígida e as pedras menores ajudam a fazer esse
trabalho de flexibilidade além de preencherem os vazios que ficam. Agora eu
pergunto: se as pedras têm a mesma origem de formação, não seria mais facil
pesar uma menor, medir o seu volume, e comparar com o volume das maiores
fazendo uma simples regra de três? Acharíamos o peso aproximado (não precisa
ser exato) das maiores sem precisar deslocar aquelas balanças imensas, não é?
Notei
a indignação do meu amigo e colega Tomaz Neto, em entrevista dada, para um
jornal falado em uma emissora de televisão desta capital. Para mim ele está
coberto de razão. Concordo que toda obra pública deve ser fiscalizada com rigor
pelos órgãos a quem se delega essas atribuições, pois o dinheiro público é mais
fácil de ser desviado ou roubado. Mas, sou contra a maneira festiva que essas
investigações são feitas e muitas vezes de maneira equivocada. Acho que sem
holofotes e alarde as coisas fluem melhor.
Mas
já que estamos falando em obras – no bom sentido da palavra, pois no mau
sentido estamos cheio de “obra,.” não vejo ninguém se incomodar com os acessos
ao novo aeroporto. Isto sim um absurdo, pois além do risco de acidentes, existem
os riscos de assaltos já que a buraqueira é grande e a ausência de policiamento
– é novidade? É um fato constante.
Existem
obras que merecem conclusão com urgência, como: viaduto do Baldo, prolongamento
da Avenida Prudente de Morais, saneamento das praias de Cotovelo e Pirangi há
mais de cinco anos começada e não concluída, a urbanização das praias do Meio e
dos Artistas. E por falar em Praia do Meio, vão ficar uma beleza, aqueles
quiosques tirando a visão do mar – que falta de imaginação, digna de fazer
Niemeyer remexer dentro do túmulo. Só vão servir para muita bebida e
apreciarmos shows funk da galera. Ainda lembro que no final dos anos setenta
aconteceu fato semelhante ao que aconteceu agora em Mãe Luíza. Resolvemos o
problema em menos de quarenta dias, era prefeito Vauban Bezerra. Quanto meses
aquilo está rolando? Por que não fazemos essas investigações em silêncio e com
maior eficácia e melhores resultados?
É
isso gente, estamos sem rumo, onde a incompetência domina o serviço público,
pior, não podemos colocar competência, pois os salários de determinadas
categorias, não são atrativos.
Só nos resta rezar
e pedir “ao bispo” que as coisas melhorem.
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