METODOLOGIA DE ENSINO
À DISTÂNCIA : estamos fazendo a coisa certa?
Por: Geniberto
Campos, médico
1.INTRODUÇÃO - As
formas atuais de aquisição de
conhecimentos, utilizando os recursos tecnológicos de comunicação disponíveis, caracterizam-se pela
ausência de um padrão didático definido e por sua constante mutação.
Com a introdução ampla da Tecnologia de Informação/TI no processo
didático do chamado Ensino à Distância/EAD foram criados novos métodos de ensino - aprendizado.
Permanecendo, no entanto, alguns padrões tradicionais.
A aula presencial, baseada na interação
professor/aluno em sala de aula, foi
substituída pela emissão eletrônica de conteúdos, que traz a vantagem da sua
repetição e fixação dos temas mais relevantes da exposição. O uso intensivo de gráficos e outros recursos
didáticos colocou possibilidades quase
infinitas de informação e conhecimentos pertinentes ao tema abordado.
Mas, em essência, o processo
ensino/aprendizado segue o seu padrão clássico : emissão>> recepção de
conteúdos >> avaliação. Com a vantagem da utilização plena de novos recursos
didáticos disponíveis na forma eletrônica.
Caberia a questão, fundamental sob todos os
aspectos: qual o formato a ser desenvolvido pelos novos métodos de
ensino/aprendizado num universo multiconectado? Como harmonizar novas
tecnologias de informação com padrões pedagógicos ainda resistentes à
Modernidade? E que tem na “aula teórica”, ainda que com nova roupagem, o seu
principal meio de transmissão de
conteúdos?
Como atuar didaticamente neste
Novo Mundo em que a Informação e a Comunicação já integram o processo educacional?
Como será o processo educacional
do Futuro? E será que o Futuro já chegou?
Quem tiver a resposta a essas
questões sairá na frente, e com enorme vantagem em relação aos competidores, na
direção da busca de um método didático moderno, capaz de colocar em sintonia a
infinita carga de informações disponíveis com o desafio do aprendizado moderno.
Um contexto no qual os “alunos” não mais aceitam serem receptores passivos de
informações e pretendem ser atores do seu processo de aquisição de
conhecimentos, cada vez mais amplos e universais. Tendendo para o Infinito.
2. ALTERNATIVAS - Em meados do
século passado, um ainda desconhecido professor universitário pernambucano, procurava
um ”método” de alfabetização rápido, eficiente e de baixo custo, que resgatasse
das “trevas do analfabetismo” milhões brasileiros marginalizados do ponto de
vista econômico, social e cultural.
O professor Paulo Freire defendia
com insistência que a cartilha de alfabetização, de uso corrente, adotada há
décadas em todas as escolas, e nunca
questionada, não tinha mais serventia didática. Uma heresia para a época.
Ousando mais ainda, o professor procurava um método de ensino, que em poucas
aulas – que ele denominava “círculos de cultura” – tornasse o aluno capaz de
formar sílabas, identificar palavras. E, enfim se tornasse capaz de, juntando
as palavras, identificar o texto e ousadia das ousadias, interpretar o texto e o seu contexto. Isso
foi a perdição e a glória do professor Paulo Freire. Preso, exilado, veio a se
tornar um orgulho para os educadores de todo mundo. Uma história que boa parte
dos brasileiros sabem de cor. A alfabetização em mágicas 40 horas.
O desafio, hoje, é encontrar um
novo método de transmissão de conhecimentos, potencialmente capaz de fazer os
novos alunos se ligarem efetivamente - e afetivamente- ao conteúdo proposto, utilizando as novas
estratégias didáticas disponíveis
atualmente. Mas utilizadas de forma equivocada. E, na maioria das tentativas,
de baixa eficiência.
Presume-se que esta será uma
construção coletiva. Ninguém, sozinho, dispõe do fio de Ariadne capaz de
mostrar a saída para o labirinto.
3. O DESAFIO – Talvez se possa
começar pelas “aulas teóricas”, o terror
dos mais jovens. Impacientes com as longas exposições, os longos textos das
tenebrosas, e infalíveis, apostilas.
Situação que levou o professor
Pedro Demo, da Universidade de Brasília, a iniciar uma palestra com a seguinte heresia: “Vão adotar as escolas de tempo
integral. Se for para oferecer mais aulas teóricas, seria melhor deixar as
crianças com seu tempo livre e seus modernos equipamentos de informática...”
Mas como transmitir conhecimentos
sólidos e bem estabelecidos, mesmo em sua forma e roupagem eletrônicas, sem
utilizar o velho e confiável método das “aulas teóricas” e das apostilas? Eis o
desafio.
4. UM RÉQUIEM PARA A AULA TEÓRICA - A aula
teórica, tal como há décadas ministrada, de forma prioritária ou mesmo única,
para transmitir conhecimentos está com a sua sobrevivência comprometida. Por
rejeição absoluta por parte dos alunos, mais interessados em novas formas de
“aula”. E vivendo a expectativa de novas interações com os seus mestres.
As propostas alternativas à sua
substituição são várias. Dentre estas, uma das mais atraentes é a Metodologia de Pesquisa Aplicada Ensino, 1) que coloca o aluno como pesquisador
e produtor de conhecimentos, portanto, familiarizado, precocemente,
com o método científico e 2) o professor como
orientador permanente do
aprendizado e animador cultural, avaliando o conhecimento adquirido em
grupo, mas expresso individualmente pelos seus alunos. Respeitando , em seus
relatos, os cânones científicos vigentes. Dessa forma, a aquisição do
conhecimento se dará de forma ativa e a
sua comunicação obedecerá as normas e o rigor da forma científica usual. Os ganhos obtidos com esse método serão
naturalmente incorporados à vida futura
dos alunos em sua graduação e pós graduação, e, não menos importante, em sua
vivência profissional.
Dessa forma, as aulas teóricas
seriam substituídas, com vantagem, pelo novo método de “pesquisa” de temas
relevantes para aquisição de conhecimentos e formação dos alunos. Ao invés da
exposição teórica do tema por parte do professor, o aluno receberia o
tema/conteúdo a ser pesquisado pela classe, dividida em grupos de trabalho.
Esse forma de trabalho implica
numa nova organização espacial da “sala de aula”, presencial ou virtual. Não
mais colocando o professor em seu estrado diante dos alunos, mas orientando e
animando os grupos de trabalho. De forma individual e coletiva. Esse o formato
para a aula presencial. Em sua modalidade virtual, o professor distribui os textos para os alunos; são formuladas
algumas perguntas relacionadas ao conteúdo, para que estes escolham duas ou
três para serem respondidas; os colegas
trocam as suas respostas entre si, o que dá início ao processo de avaliação. As
respostas às questões, em sua versão definitiva, são avaliadas pelo professor.
5. A NOVA RELAÇÃO PROFESSOR X
ALUNO - A
drástica redução da carga de aulas teóricas, ou a sua abolição gradativa, seria
a condição suficiente para a implementação dessa nova metodologia didática, aplicada aos cursos presenciais ou
virtuais? É uma pergunta ainda sem uma resposta precisa.
Mas há uma certeza: a de que
atualização das funções do novo professor
e do papel do novo aluno irá resultar
numa profunda mudança nos padrões educacionais vigentes, inserindo, finalmente,
a escola no mundo moderno. Trazendo alunos e professores para o enfrentamento
dos desafios contemporâneos, nos campos científico, tecnológico, social e
econômico.
É possível que a nova relação
professor x aluno, alicerçada em bases científicas perfeitamente inteligíveis e
de aplicação prática imediata, seja um passo fundamental para a continuidade de
uma reforma educacional inserida como prioridade na pauta das organizações
sociais e políticas que atuam na área da Educação.
Finalmente, cada vez mais se
evidencia a urgente necessidade da inserção plena de metodologias didáticas
atualizadas no sistema de ensino.
Talvez, a reforma a se iniciar
pela sala de aula – presencial ou virtual – venha a se tornar a “mãe
de todas as reformas”.
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