quarta-feira, 12 de novembro de 2014

  
METODOLOGIA DE ENSINO À DISTÂNCIA : estamos fazendo a coisa certa?
Por: Geniberto Campos, médico
1.INTRODUÇÃO  -  As formas  atuais de aquisição de conhecimentos, utilizando os recursos tecnológicos  de comunicação disponíveis, caracterizam-se pela ausência de um padrão didático definido e por sua constante mutação.
Com a introdução ampla da  Tecnologia de Informação/TI no processo didático do chamado Ensino à Distância/EAD foram criados novos  métodos de ensino - aprendizado. Permanecendo, no entanto, alguns padrões tradicionais.
 A aula presencial, baseada na interação professor/aluno  em sala de aula, foi substituída pela emissão eletrônica de conteúdos, que traz a vantagem da sua repetição e fixação dos temas mais relevantes da exposição. O uso  intensivo de gráficos e outros recursos didáticos  colocou possibilidades quase infinitas de informação e conhecimentos pertinentes ao tema abordado.
Mas, em essência, o processo ensino/aprendizado segue o seu padrão clássico : emissão>> recepção de conteúdos >> avaliação. Com a vantagem da utilização plena de novos recursos didáticos disponíveis na forma eletrônica.
 Caberia a questão, fundamental sob todos os aspectos: qual o formato a ser desenvolvido pelos novos métodos de ensino/aprendizado num universo multiconectado? Como harmonizar novas tecnologias de informação com padrões pedagógicos ainda resistentes à Modernidade? E que tem na “aula teórica”, ainda que com nova roupagem, o seu principal meio de transmissão  de conteúdos?
Como atuar didaticamente neste Novo Mundo em que a Informação e a Comunicação já integram o processo  educacional?
Como será o processo educacional do Futuro? E será que o Futuro já chegou?
Quem tiver a resposta a essas questões sairá na frente, e com enorme vantagem em relação aos competidores, na direção da busca de um método didático moderno, capaz de colocar em sintonia a infinita carga de informações disponíveis com o desafio do aprendizado moderno. Um contexto no qual os “alunos” não mais aceitam serem receptores passivos de informações e pretendem ser atores do seu processo de aquisição de conhecimentos, cada vez mais amplos e universais. Tendendo para o Infinito.
2. ALTERNATIVAS - Em meados do século passado, um ainda desconhecido professor universitário pernambucano, procurava um ”método” de alfabetização rápido, eficiente e de baixo custo, que resgatasse das “trevas do analfabetismo” milhões brasileiros marginalizados do ponto de vista econômico, social e cultural.
O professor Paulo Freire defendia com insistência que a cartilha de alfabetização, de uso corrente, adotada há décadas  em todas as escolas, e nunca questionada, não tinha mais serventia didática. Uma heresia para a época. Ousando mais ainda, o professor procurava um método de ensino, que em poucas aulas – que ele denominava “círculos de cultura” – tornasse o aluno capaz de formar sílabas, identificar palavras. E, enfim se tornasse capaz de, juntando as palavras, identificar o texto e ousadia das ousadias,  interpretar o texto e o seu contexto. Isso foi a perdição e a glória do professor Paulo Freire. Preso, exilado, veio a se tornar um orgulho para os educadores de todo mundo. Uma história que boa parte dos brasileiros sabem de cor. A alfabetização em mágicas 40 horas.
O desafio, hoje, é encontrar um novo método de transmissão de conhecimentos, potencialmente capaz de fazer os novos alunos se ligarem efetivamente - e afetivamente-  ao conteúdo proposto, utilizando as novas estratégias  didáticas disponíveis atualmente. Mas utilizadas de forma equivocada. E, na maioria das tentativas, de baixa eficiência.
Presume-se que esta será uma construção coletiva. Ninguém, sozinho, dispõe do fio de Ariadne capaz de mostrar a saída para o labirinto.
3. O DESAFIO – Talvez se possa começar pelas  “aulas teóricas”, o terror dos mais jovens. Impacientes com as longas exposições, os longos textos das tenebrosas, e infalíveis, apostilas.
Situação que levou o professor Pedro Demo, da Universidade de Brasília, a iniciar uma palestra com a seguinte heresia: “Vão adotar as escolas de tempo integral. Se for para oferecer mais aulas teóricas, seria melhor deixar as crianças com seu tempo livre e seus modernos equipamentos de  informática...”
Mas como transmitir conhecimentos sólidos e bem estabelecidos, mesmo em sua forma e roupagem eletrônicas, sem utilizar o velho e confiável método das “aulas teóricas” e das apostilas? Eis o desafio.
4.  UM RÉQUIEM PARA A AULA TEÓRICA - A aula teórica, tal como há décadas ministrada, de forma prioritária ou mesmo única, para transmitir conhecimentos está com a sua sobrevivência comprometida. Por rejeição absoluta por parte dos alunos, mais interessados em novas formas de “aula”. E vivendo a expectativa de novas interações com os seus mestres.
As propostas alternativas à sua substituição são várias. Dentre estas, uma das mais atraentes é a Metodologia  de Pesquisa Aplicada Ensino, 1) que  coloca o aluno  como pesquisador  e produtor de conhecimentos, portanto, familiarizado, precocemente, com o método científico e 2) o professor como  orientador permanente do aprendizado e animador cultural, avaliando o conhecimento adquirido em grupo, mas expresso individualmente pelos seus alunos. Respeitando , em seus relatos, os cânones científicos vigentes. Dessa forma, a aquisição do conhecimento  se dará de forma ativa e a sua  comunicação obedecerá as normas  e o rigor da forma científica usual.  Os ganhos obtidos com esse método serão naturalmente incorporados à  vida futura dos alunos em sua graduação e pós graduação, e, não menos importante, em sua vivência profissional.  
Dessa forma, as aulas teóricas seriam substituídas, com vantagem, pelo novo método de “pesquisa” de temas relevantes para aquisição de conhecimentos e formação dos alunos. Ao invés da exposição teórica do tema por parte do professor, o aluno receberia o tema/conteúdo a ser pesquisado pela classe, dividida em grupos de trabalho.
Esse forma de trabalho implica numa nova organização espacial da “sala de aula”, presencial ou virtual. Não mais colocando o professor em seu estrado diante dos alunos, mas orientando e animando os grupos de trabalho. De forma individual e coletiva. Esse o formato para a  aula presencial. Em sua modalidade virtual,  o professor distribui  os textos para os alunos; são formuladas algumas perguntas relacionadas ao conteúdo, para que estes escolham duas ou três  para serem respondidas; os colegas trocam as suas respostas entre si, o que dá início ao processo de avaliação. As respostas às questões, em sua versão definitiva, são avaliadas pelo professor.
5. A NOVA RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO  -   A drástica redução da carga de aulas teóricas, ou a sua abolição gradativa, seria a condição suficiente para a implementação dessa nova metodologia  didática, aplicada aos cursos presenciais ou virtuais? É uma pergunta ainda sem uma resposta precisa.
Mas há uma certeza: a de que atualização das funções do novo professor e do papel do novo aluno irá resultar numa profunda mudança nos padrões educacionais vigentes, inserindo, finalmente, a escola no mundo moderno. Trazendo alunos e professores para o enfrentamento dos desafios contemporâneos, nos campos científico, tecnológico, social e econômico.
É possível que a nova relação professor x aluno, alicerçada em bases científicas perfeitamente inteligíveis e de aplicação prática imediata, seja um passo fundamental para a continuidade de uma reforma educacional inserida como prioridade na pauta das organizações sociais e políticas que atuam na área da Educação.
Finalmente, cada vez mais se evidencia a urgente necessidade da inserção plena de metodologias didáticas atualizadas no sistema de ensino.

Talvez, a reforma a se iniciar pela sala de aula – presencial ou virtual – venha a se tornar a  “mãe  de todas as reformas”.

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