O poder político e a cultura no Rio Grande do Norte
Lívio Oliveira – livioliveira@yahoo.com.br
Não há
como negar, caros leitores, o fato de que temos experimentado várias e
históricas perdas acumuladas no campo cultural e artístico do Rio Grande do
Norte e de Natal. Os governos, nesse setor imprescindível ao povo, há tempos
não se sensibilizam para a sua real importância (e não falo aqui, frise-se, de
nenhum governo em especial, mas de quase todos, com honrosas exceções no âmbito
de um retrospecto histórico).
Perdem-se,
assim, oportunidades valiosas de colaboração institucional com a construção de
uma obra cultural consistente e de relevo em nosso Estado. E não vou nem falar
aqui que outros Estados têm nos dado às vezes melhores exemplos, como os
vizinhos Ceará, Pernambuco e Paraíba.
A cultura
vem sofrendo toda sorte de humilhação no decorrer de vários governos do RN. Os
artistas e pessoas que operam em benefício do nosso crescimento cultural, esses
não tiveram, ainda, a vez merecida e os incentivos reais para a realização de
suas obras.
E os
exemplos são muitos: o abandono, por falta de visão, de inúmeros projetos que
poderiam ser vitoriosos e frutíferos; a falta de um planejamento sólido (a
execução, ih!, nem se fala!), a perda de diversas oportunidades; a falta de
criatividade; o desprezo ao artista; o blá-blá-blá infinito, num monótono
monólogo.
Não quero
parecer crítico além da conta, mas acredito que merecíamos algo melhor no
futuro próximo. Os que produzem arte e cultura e os que as consomem, todos
merecemos. E é por isso que quero firmar aqui a minha convicção de que
precisamos escolher, no segundo turno das eleições, um governante que tenha
compromisso de verdade com a cultura de nosso povo e tenha a sensibilidade
mínima para entender que a arte é essencial à existência digna das pessoas. A
arte é, também, saúde mental e física. A arte é ecologia. A arte é educação. A
arte empreende e constrói. A arte recupera e socializa. A arte é anti-violência.
A arte é vida.
E eu
tenho certeza de que governantes que possuírem essa concepção das coisas,
tenderão a executar bons governos em todos os campos. Mirarão na profundidade
das coisas e vislumbrarão projetos a realizar. Não se perderão no “achismo”, na
politicalha e num falso pragmatismo que impede a visão do sensível e do
essencial.
Há muita
coisa a ser feita. E urgentemente: As nossas bibliotecas merecem ser
redimensionadas e revitalizadas, além de modernizadas, vez que a biblioteca dos
nossos dias deve ser um espaço plural e que contenha novas alternativas de
entretenimento e distribuição de conhecimentos. A nossa orquestra precisa de
melhores salários e melhores condições de trabalho, progressivamente. O nosso
teatro precisa de mais incremento. Por sinal, precisamos de pelo menos um novo
e maior teatro público, urgentemente. A literatura precisa voltar a ter mais vez,
com critérios aperfeiçoados para muitas outras publicações de qualidade e
premiações literárias e a divulgação de nossos autores e a distribuição de
nossos livros além-fronteiras. Há urgência na atenção ao nosso patrimônio
museológico, inclusive com mais incentivos ao IHGRN e outras entidades que
resgatam e cuidam de nossa memória. A nossa arquitetura tem que ser estudada e
recuperada, naquilo que houver de importante e valioso. A cultura precisa, também, de um casamento
forte com todas as artes visuais, com a história, com o turismo.
Precisamos,
sim, de obras e eventos culturais e artísticos que marquem e permaneçam, em
todos os setores e em todas as esferas estatais e sociais. E muito mais, o que
não caberia aqui neste espaço. Aguardo – por isso e (re)animado – que nos
chegue um tempo de verdadeira renovação. Espero que venha por aí “o tempo da
delicadeza”, como diria o nosso formidável Chico Buarque. E que, com esse
tempo, o jardim da cultura e da arte possa ser muito melhor cuidado. Como
Voltaire dizia através de Cândido: “Tudo isso está bem dito…mas devemos
cultivar nosso jardim.” E que esse tempo e esse jardim sejam logo vislumbrados,
que apareçam no horizonte e se materializem diante de nós com o próximo (e os
próximos) governos e legisladores deste Estado.
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