A CRIANÇA QUE AINDA VIVE EM MIM
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes,
escritor
A frase de
efeito literário – “vai longe o tempo da minha infância”, não cabe em mim, pois
preservo as emoções daquele período lúdico, do qual recordo todos os seus
instantes até os dias presentes.
Lembro-me na
condição de criança desde o tempo da 2ª guerra, quando morávamos na Rua Felipe
Camarão, assistindo o passar dos caminhões pesados dos Exércitos Americano e
Brasileiro, vindos da Ribeira. Depois, na Otávio Lamartine, defronte a uma
unidade militar, onde guardava armamentos (em frente à Igreja de São Judas
Tadeu). De lá, fui para o interior, acompanhando papai, então Juiz de Direito,
daqueles que moravam na Comarca.
Na paisagem
bucólica do interior alarguei a minha infância – Angicos, Penha e Macaíba, onde
conheci os folguedos (festa de padroeiro do lugar); os costumes populares
(audições dos Circos, onde levávamos as cadeiras de casa); as cantigas de roda,
as sessões do Boi de Reis, das Lapinhas, Pastoril, as peladas de futebol, os
quais marcaram, em definitivo, a minha lembrança mais rica.
As festas de
igreja, as novenas e procissões, os bailes, o povo ordeiro, onde aprendi que a
solidariedade - é maior e mais verdadeira - entre os que não amealham maior
condição financeira.
Ao retornar
à cidade grande, em 1948, o mundo reservou surpresas para mim, em especial a
vida escolar regular e o pendor para a vida artística – fui artista na Rádio
Poti e estudei na Escola de Música, sem deixar de frequentar o velho (86 anos
agora) Estádio Juvenal Lamartine.
Poucos, mas
bons amigos dividiram comigo as aventuras da infância até que me tornei adolescente,
convivendo com os sobrinhos que iam nascendo e então me tornei adulto e logo
casei, vindo os filhos em espaço médio de dois anos e meio, num total de quatro
e com eles revivi a infância.
O correr da
vida me deu, até agora, sete netos e neles eu continuo criança. É o mistério do
tempo e logo mais estarei convivendo com os bisnetos, se Deus permitir.
As crianças
mantêm em mim a gostosura da infância, vibro com seus desempenhos nas
apresentações culturais e com elas me emociono até às lágrimas. Nada me toca
mais do que a situação dos infantes, sua vida, seu futuro.
Hoje acordei
com um único pensamento – a abertura da Cidade da Criança e logo me vêm à
memória as tradicionais tertúlias, pic-nic’s e quermesses que frequentei ao
logo da vida.
Não tenho
saudades da aurora da minha vida, da minha infância querida, porque tenho a
criança que ainda vive em mim.
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