quinta-feira, 15 de maio de 2014

A tenda dos sonhos



Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br



Em agosto de 1773, nosso personagem Tibério desembarcou na cidade do Rio de Janeiro. Após a longa viagem marítima da Inglaterra até o Brasil grande parte da tripulação tinha contraído escorbuto, e precisavam de frutas frescas para ajudar a combater a doença, que já tinha vitimado vários marujos a bordo.
Ao chegarem à baía pediram licença para atracar no porto. No dia seguinte, o capitão da embarcação solicitou audiência pública com o vice-rei no seu vasto palácio. Após a audiência, todos voltaram para bordo, pois não era permitido aos visitantes comer ou dormir em terras brasileiras.
Depois das treze horas voltaram a terra, onde foram recebidos por três oficiais portugueses, pois era costume na época os estrangeiros serem acompanhados por militares locais.
Inicialmente, foram até um mercado situado mais ou menos a meia légua da cidade. Ali foram mostrados rubis, esmeraldas e diamantes, que vinham de minas bastante longes da cidade.
Ali estava o que procuravam, mas não em qualidade e preço desejado. Pedras preciosas muito mal talhadas e por preços abusivos.
Desinteressados, nem propostas chegaram a fazer e nada compraram. Já de retorno ao navio, nas imediações da cidade, um dos escravos que os acompanhavam fez sinal para que o seguissem até um local ali próximo, onde havia algumas pedras preciosas a venda.
Chegaram a um jardim em que havia várias tendas. A primeira delas abrigava uma pequena capela ricamente decorada com móveis de ouro maciço. Todos ficaram encantados com o que viram.
Na segunda tenda estavam quatro enormes camas, cujas cortinas eram de seda, precioso tecido da China. As colchas das camas eram de Damasco e incrustadas de franjas e grãos de ouro. Os lençóis eram de musselina bordada com fios do rico metal. Uma riqueza espantosa!
A terceira tenda era toda composta de peças de prata e pelo visto servia como cozinha. Quando entraram na última e quarta tenda não podiam acreditar no que seus olhos viam. Em cada um dos quatro cantos, havia um armário repleto de baixelas de ouro e grandes vasos de cristal contendo bons vinhos. A enorme mesa era coberta por uma rica toalha bordada, cravejada de rubis, esmeraldas e diamantes. Sobre a mesa, frutos da terra, carnes exóticas, peixes e aves nunca antes saboreados por eles. Um verdadeiro banquete!
Não podiam acreditar no que estavam vendo. Sentaram-se à mesa e foram servidos generosamente por mulheres negras bem vestidas, que aparentavam ser escravas.
O proprietário de tudo aquilo era um mercador de aproximadamente 50 anos, muito rico, que fazia questão de viver a vida luxuosamente.
No outro dia, foram novamente convidados a voltar ao local. Nesse dia, o ambiente estava mais requintado, com a presença de belas mulheres nativas. Foram recebidos por elas com muita curiosidade. Quase todas eram morenas de longos cabelos lisos. Os seus olhos negros davam certo ar de mistério e inclinação para o amor.
Após o almoço, um concerto foi apresentado para eles. Depois de algum tempo, as comidas da mesa foram sendo retiradas, e em cima dela colocadas as mais belas pedras preciosas que já tinham visto.
Depois de muita negociação com o rico mercador português, suas ofertas foram aceitas.  De volta a bordo, todos estavam muito satisfeitos com as suas aquisições. Isso, sim, era o que eles desejavam!


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