domingo, 9 de março de 2014
FIM DE CARNAVAL, COMEÇO DE QUARESMA
Por: MARCELO NAVARRO, escritor
Cinzas
À moda dos carnavais de antigamente
Numa triste manhã de quarta-feira,
Ressaca de esperanças mascaradas,
Girava - mestre-sala sem parceria -
Um bisonho Pierrô pelas calçadas.
Nos cantos dos seus olhos, serpentinas
De lágrimas derramam pela rua
Confetes de lembranças bailarinas
Que dançam, mas sem música nem lua.
A fantasia de felicidade
Está em trapos ao romper do dia,
Em seu lança-perfume, só saudade;
Evaporou-se, é morta a alegria.
Pois o amor - bloco do eu-sozinho -,
Já que ilusão é passista cansada,
Recolhe os estandartes, de mansinho,
Dos dias de verdade embriagada.
Nos braços do Arlequim, a Colombina
Sequer olhou pra trás ou acenou;
Sumiu: foi como estrela pequenina
Que cintilou no céu e se apagou.
-Mergulha em tuas cinzas, ó Pierrô!
Das brasas restam cinzas, menos mal...
Em brasas essas cinzas de tua dor
Vão se tornar, num novo carnaval.
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