quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 - 2015


ANO VELHO

Neste dia, último do ano, faço o inventário das ações do ano velho que termina e contabilizo mais sucessos do que percalços.
Fui contemplado com novas amizades, recebi algumas homenagens, publiquei mais um livro, fui eleito para a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, ajudei a reativar novos projetos no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
A saúde foi um ponto negativo, mas já entrei em tratamento para superar as mazelas que a vida nos entrega e tenho plena confiança nos meus médicos terrenos e no Grande e Maior dos Médicos que governa nossos destinos.
Espero que 2015, após o exílio voluntário em minha tradicional Pasárgada (Cotovelo), possa retornar à lida diária, com a mesma disposição, na direção de outras vitórias.
FELIZ ANO NOVO A TODOS OS MEUS LEITORES E AMIGOS/AMIGAS.
UM ABRAÇO DE CARLOS GOMES

 


Manuel Bandeira

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "
Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

 
AGENDA PARA
2 0 1 5
 
BRASIL, SEMPRE 
 
ETERNO GUIA
 
 
A LUTA CONTINUA - IHGRN

MINHA PASÁRGADA - COTOVELO
 
 
NOVA DINÂMICA - INRG
 
 
CENTENÁRIO DO GLORIOSO

 
 
MINHA CASA PERMANENTE
 
 
NO RUMO DO CRESCIMENTO - ALEJURN
 
 
UM NOVO DESAFIO - ANRL
 
 
 UMA LUTA HERÓICA - CASA DO ESTUDANTE


OUTROS PROJETOS - UBE-RN
 
 
 CUMPRIMENTO DE MISSÃO - UFRN


FORTALECIMENTO - AML
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014



D Ú V I D A S ?????????????
APAGAR O O LAMPIÃO
E DERRAMAR O O GAZ
Registra Erasmo Firmino em seu blog "Tio Colorau":
– O cangaceiro Lampião sofreu a pior derrota de sua vida em Mossoró - RN, em 1927, onde perdeu um de seus braços direitos, Jararaca, que foi baleado e enterrado vivo. O episódio sempre foi muito marcante para a cidade. O Memorial da Resistência, no centro, conta toda a história da invasão. A única falha é a gigantesca foto de Maria Bonita no local. A primeira cangaceira mulher só viria a conhecer Lampião em dezembro de 1930, mais de três anos após o embate em Mossoró. Ela deixou o marido, sapateiro, para viver com o Rei do Cangaço.
Faltou dizer apenas que o lendário Virgulino Ferreira da Silva também jamais pusera as alpercatas em solo potiguar. Teria ele ido dançar xaxado na Paraíba?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014



HOJE, DIA 29, A ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS REALIZARÁ SESSÃO ESPECIAL E SOLENE PARA OS ELOGIOS DOS PATRONOS DOS ACADÊMICOS IVONCISIO MEIRA MEDEIROS, SHEYLA RAMALHO E WELLINGTON LEIROS.
LOCAL: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS - RUA MIPIBU - NATAL - RN
HORÁRIO: 19 HORAS.
INTELIGÊNCIA E CARÁTER – O EMBATE
Públio José – jornalista



                       Pesquisas mais recentes sobre o funcionamento da mente humana, sobre os elementos que regem a formação da inteligência e suas várias formas de manifestação, demonstram não haver, necessariamente, nenhuma relação entre a inteligência e a moral. Os estudos, da mesma forma, concluem pela inexistência de conexão entre a inteligência e a ética, como também entre ela e o caráter. Nesse território ainda pouco vasculhado da mente, a conclusão a que se chega, lamentavelmente, é que o personagem de uma história, para ser inteligente, não terá, obrigatoriamente, de agir em sua comunidade como pessoa de moral, de caráter, de boa índole. Por tais estudos, a inteligência está desatrelada dos demais elementos que constituem a base do comportamento humano, para planar, como águia, acima dos valores e escolher o rumo indicado pela individualidade e pelo livre arbítrio.
                        Tais considerações são pertinentes pelo momento de verdadeira inversão de valores que se observa, praticados na vida das pessoas, independente do segmento social que se venha a analisar. Maliciosos, antiéticos e imorais são visíveis em todos os quadrantes a olho nu, sem a necessidade, para descobri-los, de sofisticados instrumentos de medição científica. De todo modo, a conclusão dos estudiosos vem a calhar, pois passa a estabelecer uma rigorosa conexão científica entre o resultado dos trabalhos acadêmicos e a realidade que se vive no dia a dia contemporâneo. E no que isso tudo resulta? Que conclusões, do ponto de vista prático, podemos tirar de tais observações? É que, se antes o homem, em sua grande maioria, agregava à inteligência fortes conceitos carregados de moral e de ética, atualmente posiciona-se numa direção contrária, separando-a e cultivando-a para a prática de delitos de toda ordem.
                        Se agora está explicado, cientificamente, que a inteligência corre por fora, desligada do caráter, da moral, da ética, nos trejeitos que articula diante dos embates diários da vida, está justificada, então, a onda de safadezas e malandragens que abarrota o noticiário e enche de vergonha, entre outros, os espaços mais nobres da rotina nacional. É corriqueiro, pois, notar-se o uso que se faz da inteligência a serviço dos valores mais mesquinhos, para, como isso, glorificar-se a máxima de que o negócio é levar vantagem – em tudo. Rigor exagerado no que afirmo? Gostaria demais que assim fosse. Gostaria, inclusive, de serem totalmente erradas as observações que faço em torno deste assunto e de outros que compõem o cotidiano humano. Entretanto, não se tapa o sol com a peneira. E o que fica em nós, inexoravelmente, diante da realidade que rola, é o gosto amargo da decepção, da impotência, do desengano.
                        E o caráter como é que fica? Pra que direção se inclina, afinal? Segundo o dicionário, o caráter é o conjunto de traços psicológicos, o modo de ser, de sentir e de agir do indivíduo. Já a inteligência é a capacidade de fazê-lo perspicaz, de fazê-lo aprender com rapidez, de adaptá-lo a situações adversas. Enfim, de resolver pepinos e propor soluções. Daí, logo se vê que a inteligência trava uma luta renhida entre devotar-se a causas nobres, tendo no caráter um bom parceiro, ou amoldar-se de vez às exigências que afloram no contexto da tão apregoada modernidade. Para o caráter manter-se atrelado a princípios morais e éticos, com a inteligência se lambendo por vantagens imorais, não é tarefa fácil. Das duas uma: ou ele vence-a, subjuga-a – para permanecerem ambos num elevado padrão ético –- ou também embarca na gandaia.  Pois, como justificam – com cinismo – os tais inteligentes, resistir, quem há de?    

domingo, 28 de dezembro de 2014

RESISTÊNCIA CULTURAL NO CEARÁ-MIRIM , CRÔNICA DE FRANKLIN JORGE;.




RESISTÊNCIA CULTURAL NO CEARÁ-MIRIM Por Franklin Jorge 

 QUEM É DO Ceará-Mirim, ou mantém algum laço afetivo com a terra e a história

 do município, não disfarça o mal-estar de ver a sua querência aviltada e reduzida a uma grande ruína gestada por sucessivas e desastrosas administrações e governos que parecem ter em comum o despreparo, a alienação, a ineficiência, o descompromisso com a realidade e a falta de projetos de futuro. Prova-o a estagnação econômica e os problemas de toda ordem que se avolumam, especialmente nos últimos anos, sob o atual prefeito que, por seu despreparo, parece zombar dos próprios cearamirimenses e de sua elite de indigentes. “Exemplo nacional”, por suas riquezas naturais e potencialidades econômicas, segundo um de seus mais argutos e criteriosos estudiosos - o engenheiro agrônomo Júlio Gomes de Senna-, o Ceará-Mirim destacou-se por muitos anos, desde o Império, como uma das regiões mais ricas do estado que se foi degradando no decurso do tempo em conseqüência das más escolhas e apatia de seus próprios filhos, ao mesmo tempo vítimas e responsáveis pela desgraça que se abateu sobre o governo do município, atualmente transformado em objeto de vergonha para aqueles que ainda guardam a lembrança de tempos melhores. Até a cultura canavieira - historicamente o fiel da balança de sua economia -, está estagnada e em franco processo de decadência que parece irreversível, se consideramos a baixa auto-estima de seu povo e a indiferença e irrelevância de sua classe política. Contudo, em meio à ruína geral de um município antes rico e em tudo diferente da “cidade-dormitório” em que se transformou o Ceará-Mirim, eis que surge um exemplo de resistência motivado pela atuação de um professor e seus alunos unidos num trabalho de resgate da nossa cultura – de uma cultura que deu ao país nomes como o do historiador Rodolfo Garcia, que chegou a presidente da Biblioteca Nacional; dos escritores Madalena Antunes Pereira, Edgar Barbosa e Nilo Pereira. Refiro-me ao trabalho desenvolvido em sala de aula pelo jovem e talentoso professor Severino Bill Martiniano - inspirador e orientador de um grupo de estudantes - nos fazem crer que nem tudo está perdido. Seu exemplo, como professor vocacionado e esclarecido devia servir de motivo de inspiração para todos nós que desejamos contribuir efetivamernte para a construção de um mundo melhor no qual a educação e a cultura constituem ferramentas necessárias ao desenvolvimento intelectual e humano. Recentemente o recebi em minha casa e surpreendeu-me a qualidade do trabalho que tem desenvolvido com os seus alunos, na área da literatura e da produção de vídeos que a par de sua qualidade põem em relevo o espírito de colaboração que soube despertar na sala de aula, melhor dizendo, que vão além da sala de aula. É o testemunho de que ainda há, no Ceará-Mirim semi-destruído por essa caterva de políticos vorazes que usam destrutivamernte o poder, gente capaz de sonhar e de resistir. Frutos dessa ação pedagógica, a produção de vídeos e de peças que mostram de maneira surpreendente o talento de alunos do Ensino Médio do tradicional Colégio Santa Águeda, entre os quais citaria Cinthya Caetano Ribeiro, Fabiana Emanuela Câmara de Moura, Monalisa Simonelly Rebouças de Oliveira, Marília Raquel Santiago da Silva Pessoa, Nathália Junnia da Silva, Rosilda Rayane de França Rodrigues, Jéssica Rayanny Rodrigues Silva, Josefa Thaynã de Lima e Silva, Lucas Felipe Pessoa, Josué Viana da Silva Júnior, Matheus da Silva Câmara, Samuel Batista Soares de Araújo, Aliane Mayara Araújo de Oliveira, Anderson Rafael de Oliveira Mendonça, Heitor Fagundes Calazans Silva, Maria Clara Moreira Oliveira França, Anderson Rafael de Oliveira Mendonça e Heitor Fagundes Calazans Silva, autores do Auto da Boca da Mata [denominação primitiva do município que muitos ignoram], inspirado no clássico português Gil Vicente, abordando porém uma temática que diz respeito ao Ceará-Mirim e os protagonistas de sua história. Segundo o professor Severino Bill Martiniano a obra “traz em seu bojo uma reflexão sobre o cotidiano de pessoas de uma sociedade imaginária, criada pelos jovens escritores do Colégio Santa Águeda”, que deve orgulhar-se de contribuir de maneira tão eficaz para o aprendizado e apoderamento do conhecimento usado em favor da coletividade. Todos nós que amamos e valorizamos a contribuição do Ceará-Mirim à cultura norte-rio-grandense, esperamos que um trabalho desse nível de qualidade tenha uma ampla divulgação e contribua para o fortalecimento da educação e sobretudo da conscientização da sociedade sobre os nossos problemas. Por isso se faz necessária a realização do projetado l Festival Literatura em Vídeo idealizado pelos participantes desse projeto que marca a história do Colégio Santa Águeda.
* * *
CRÉDITOS: LÚCIA HELENA
CIRO JOSÉ TAVARES, E POR QUE NÃO?

 DO AMOR

 Ciro José Tavares.

Amo-te infatigável e indefinidamente.

Amo cada fragmento do teu corpo desolado.

Amo-te como amei inesquecíveis putas brancas,

acolhido no calor do leito de  lençóis macios.

Amo-te como rios que beijam margens e sem dizer adeus

passam sôfregos numa fuga inconsolável,

 ou como ventos outonais agitando árvores

e que veem nas ruas sonolentas o esvoaçar das  folhas secas.

Amo-te como amei dias venturosos num tempo de loucuras.

Amo-te degradada, infeliz, cristã, vazia sem ninguém.

Amo-te na pobreza e silêncio inquietantes porque és pura e meu amor.


DE SOMBRAS

  (Ciro  José  Tavares)  
De  onde está vindo o silêncio desses passos
despertando minha quietude debruçada na poesia? 
Ergo-me para encontrá-los e somem enigmáticos.
Quem anda tão doce sobre a terra e como o sol
passa veloz pelas vidraças das janelas, até afugentando
pássaros que se recolhem sob estrela vespertina? 
De onde chegam essas sombras parecidas
réstias de luas fugidias diante dos meus olhos?
Revela-te. Emerge do interior desse lusco-fusco,
e vem, anjo ou demônio num corpo de mulher .
São os teus receios que me abandonam no vazio?
Confessa sombra inalcançável o medo do amor.
Evola-se na escuridão a esperança de saber 
quem realmente és, e porque me atormentas.
Fico no vazio, nas mãos apenas os meus livros.
Como sombras não regressam deixo –te minha ausência no poema.






         O MANTO QUE ME AQUECE O CORAÇÃO

            Ciro José Tavares


Aberto e estendido sobre os ombros o manto

da Academia Cearamirinense

de letras e Artes Pedro Simões Neto,

dá-me a sensação de orgulhosamente ostentar

um largo colar cravejado de ouro e esmeraldas.

Agasalha-me de telúricas lembranças,

o brilho do olhar deitado na extensão verdejante dos canaviais

e o louro do sol acobertando  tetos e ladeiras da cidade.

É esse manto sagrado que me queima, refulge e borda

entre  as estrelas o imaculado azul da Virgem Padroeira.  


CONSTRUÇÃO

Ciro José Tavares


            Estou pela metade  submerso no que resta

            do lusco-fusco da meia luz de velas que se extinguem.

No fundo das sombras os renovados mistérios

farão emergir minha alma para construir

 a metade mais nobre e  mesmo entardecido,

 cego voltarei completo   aos claros, outra vez.




 Árvore do Fim do Mundo

 Ciro José Tavares


Finalmente alcancei-te árvore do fim do mundo.

À sombra entrego meu corpo mítico ao teu,

Abandonado ao mau e ferido pelo tempo.

E vejo a tentativa de podar os galhos nobres,

Os que pendiam sobre os muros espalhando flores pelo chão.

Apesar das dores não perdeste o cheiro antigo

E o fruto nos meus lábios tem o sabor do néctar dos deuses.

Venho de longe, navegante de Aiola,

Trazido pelos ventos, para deitar fadigas na terra sagrada que te cerca.

Alcancei-te e fico sob tua quietude árvore do fim do mundo,

Cabeça acostada no regaço contemplando estrelas,

O orvalho das manhãs caindo no meu rosto.

Fará lembrar as lágrimas que a brisa vespertina

enxuga antes que nos chegue a noite,árvore do fim do mundo.





sábado, 27 de dezembro de 2014



De fome e de ‘ferraris’

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Não que eu seja um pau molenga, mas quando me tocam à alma, sempre me emociono com a leitura de um livro, e me sensibilizam a poesia, o teatro e o cinema. Uma crônica do jornalista italiano Pitigrilli, da década de 1940, injetou a adrenalina no meu sangue pela dramaticidade, o personagem e fecho proverbial.
Está armazenada no disco rígido da minha memória a historieta pitigrilliana: “O incomparável interprete de “La Mer e Douce France”, Charles Trenet, fazia uma turnê internacional e foi a Buenos Aires, onde se apresentou no famoso Tabaris. Bastante bebido e cercado de mulheres, um ganadero novo rico grosseiro, como todo ganadero e todo novo rico, arremessou uma porção de pão do couvert no palco.
Trenet abaixou-se, recolheu as nesgas embolsou-as e agradeceu: - “Muito obrigado”, disse, “levo a sua oferta às famintas crianças francesas do após guerra”.
Era um rapazola quando li essa passagem, que me voltou à mente quando meu amigo Betinho, voltando do exílio, lançou com o seu idealismo cristão uma campanha contra a fome, o “Fome Zero”. Lembrei-me também do altruísmo de Betinho quando o IBGE pesquisou, registrou e deixou passar a campanha eleitoral para divulgar, que 7,2 milhões de brasileiros sofrem de insegurança alimentar grave.
Os programas eleitorais da candidata à reeleição esconderam estes dados oficiais e, muito pior, apresentaram um discurso triunfalista sobre o problema, fantasiando números dos que saíram da miséria e dos que entraram na discutível “classe média”... Sem nenhuma dúvida, um estelionato eleitoral!
O Pnad, pesquisa promovida pelo IBGE foi realizada nos meados do 2º semestre, mas divulgada 50 dias depois do 2º turno das eleições, agorinha, a sete dias do Natal. São assustadores os dados levantados no Maranhão (39,1%) e Piauí (44,4%) que têm pouco menos da metade da população com alimentação assegurada.
Este governo embandeirado com o “socialismo bolivariano” comete a mesma grosseria do ganadero argentino: atira o resto do banquete dos ladrões da Petrobras como bolsas-esmolas no palco da conjuntura nacional; mas infelizmente não temos charles trenets para respostar à altura.
Por quê? Porque os atores narco-populismo deram uma lavagem cerebral com a ideologia do consumismo nas massas ignorantes, conforme levantou o IBGE: Mais de 88% dos domicílios com restrições alimentares contam com televisão, 13,8% têm computador e 10% têm não só computador, mas também acesso à internet.
Fogões (93,5%) e geladeiras (85,8%) também são bens presentes na maioria dos domicílios classificados pelo IBGE com o nível de insegurança alimentar grave. E o empresariado fabricante desses bens, associado às multinacionais dirige as suas Ferrari de R$1.400 milhão e dão Mercedes Benz de R$ 950 mil às amantes e aos seus filhotes.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Marcelo Alves
Marcelo Alves

Um Natal com Poirot

Em outros anos, por esta mesma época, sob um viés essencialmente literário, escrevi aqui sobre o Natal. Foram, segundo consta dos meus arquivos, pelo menos três crônicas, todas elas homenageando o grande escritor vitoriano Charles Dickens (1812-1870). Em “Um Natal de Dickens”, escrevi sobre a estória de Ebenezer Scrooge, ou seja, sobre o conto/novela “A Christmas Carol” (traduzido entre nós como “Um Conto de Natal” ou “Um Cântico de Natal”), de 1843, seguramente o mais famoso dos cinco “Livros de Natal” de Dickens. Já em “O Natal e as Grandes Esperanças (I) e (II)”, escrevi sobre todo o conjunto dos “Christmas Books”, completado por “The Chimes” (1844), “The Cricket on the Hearth” (1845), “The Battle of Life” (1846) e “The Haunted Man and the Ghost's Bargain” (1848), e sobre o monumental romance “Great Expectations” (“Grandes Esperanças”), publicado por Dickens em 1861. Na oportunidade disse e agora repito: o Natal como conhecemos hoje - em família, com festas, comes e bebes irrecusáveis, presentes e, acima de tudo, uma maior solidariedade para com o próximo - é, em boa medida, um legado deixado pelos “Livros de Natal” de Charles Dickens.

Hoje, mantendo o viés literário, escreverei novamente sobre o Natal, desta feita homenageando outra figura de proa da literatura inglesa: a minha “amiga” Agatha Christie (1890-1976), a “Rainha do Crime”.

Pode parecer estranho, reconheço, misturar o Natal com romance policial (ou detetivesco, como queiram), com seus crimes, suas vítimas, seus culpados e seus detetives, mas o fato é que na obra de Agatha Christie se pode achar de quase tudo. Passam de uma centena os livros da minha “amiga”. Só de romances policiais protagonizados pelo detetive belga Hercule Poirot, segundo nos informa Mark Campbell em “Agatha Christie” (Pocket Essential ed., 2005), são trinta e três (ao que se somam cinquenta e três contos com a mesma personagem), entre os quais se acham quase todos os meus favoritos: “The Mysterious Affair at Styles” (1920), “The Murder of Roger Ackroyd” (1926), “Lord Edgware Dies” (1933), “Murder on the Orient Express” (1934), “Murder in Mesopotamia” (1936), “Death on the Nile” (1937) e “Hercule Poirot's Christmas” (1938). Não é a toa que Agatha Christie é considerada hoje o terceiro escritor mais traduzido no mundo (atrás apenas das muitíssimas edições da Bíblia e de Shakespeare) e, se não bastasse isso, o campeão de vendas.

O Natal, portanto, não podia ficar de fora da obra da minha “amiga”.

E dessa obra, envolvendo o Natal, destaco dois títulos: o romance “Hercule Poirot's Christmas” (1938), já referido na lista feita acima, e o conto/novela “The Adventure of the Christmas Pudding” (1960), que dá título a um livro/coletânea composto de mais cinco contos.

Em “Hercule Poirot's Christmas” (traduzido no Brasil como “O Natal de Poirot”), que desde já recomendo a leitura, mais uma vez somos convidados a desvendar, junto com o pequeno detetive belga, um homicídio. Inesperadamente, o tirânico milionário Simeom Lee convida seus filhos a passar, em sua bela casa, uma típica mansão inglesa no campo, um Natal em família. Teria o velho Simeom Lee tornado-se um sentimental no fim da vida? Seria tudo isso uma grande brincadeira de mau gosto ou mesmo algo ainda mais sinistro? Alguma coisa sai errado e o velho homem é brutalmente assassinado em um quarto trancado por dentro. O ambiente, “carregado” desde o começo da pantomima, vira um caldeirão de mágoas, ciúmes e desconfianças. Em pleno Natal, seguimos os passos e o raciocínio de Hercule Poirot através de um jogo de charadas e pistas, até o final, como em regra na nossa amiga, surpreendente.

Para mim, “Hercule Poirot's Christmas”, que li quase de uma só tirada, é um dos melhores títulos de Agatha Christie. E assim também pensa a crítica especializada. O já citado Mark Campbell, por exemplo, dá nota máxima ao romance, 5 de 5, mencionando ser ele um dos melhores enredos da “Rainha do Crime”. No mais, o fato de “Hercule Poirot's Christmas” inserir a criminalidade no contexto do Natal (quando nós reverenciamos o nascimento do menino Jesus) é algo que, levando em consideração a violência e a roubalheira que hoje estarrece o nosso país, não choca mais a nenhum “cristão”. Antes de mais nada, é apenas ficção. Chocante mesmo é essa nossa realidade.

Bom, já em relação ao conto/novela “The Adventure of the Christmas Pudding” (traduzido no Brasil como “A Aventura do Pudim de Natal”), ele será uma de minhas leituras nesse recesso natalino. Já li a primeira página. Vi, temeroso, Hercule Poirot quase recusar a missão de desvendar o mistério que, segundo consta, gira em torno de um valioso rubi. Ainda bem que ele, o pequeno detetive belga, ao contrário de muitas autoridades, aceita investigar o crime, doa a quem doer.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London - KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014


 

 

POEMA  SE
 
(Professor Hermógenes)
 

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
Se algum ressentimento,

Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

 

Professor Hermógenes )
(poema conferido no 
Instituto Hermógenes)


Foto:  Fabio Rocha