VERDADES CRUZADAS -I
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
O acaso trouxe-me um encargo no
outono da vida – presidir a Comissão da Verdade da UFRN. Por isso, tive de
voltar no tempo e no espaço para refazer a memória adormecida nos bancos da
velha Faculdade de Direito da Ribeira – época difícil para a história da Democracia,
pois iniciei em fevereiro de 1964, véspera do golpe e concluí em 1968, véspera
do AI-5.
Lembrei que na mesma época e no mesmo palco alguns jovens sonhavam com
um Brasil melhor, no campo e nas cidades e para isso se entregaram, sem medo, à
luta contra a ditadura. Eu, por questões de sobrevivência de um prematuro
casamento, com o peso da paternidade e a necessidade de garantir a
subsistência, não engrossei o contingente dos lutadores, embora torcesse pelo
sucesso daqueles idealistas e ter acompanhado seus movimentos grevistas, por
solidariedade.
Hoje pago o preço do meu silêncio, por compreender com integral lucidez,
a diferença da insônia com liberdade e a castração do sono no confinamento.
Embora sem fazer juízo definitivo do valor das ações desenvolvidas, faço apenas
a apologia da importância incondicional da liberdade, segundo Kant - o maior
bem da vida!
O imperativo categórico da nova
missão me colocou na cela com aqueles "menino(a)s" que entrevistei, a
exemplo de: Geniberto Campos, Arruda Fialho, Josemá Azevedo, Anchieta Jácome, Gileno, Paulo
Frassinetti, Iaperi, Rinaldo Barros, Juliano, Ivis, Ivaldo Cetano, Lailson de Almeida, Hermano Machado, Mery, Marcos
Guerra, José Bezerra Marinho, Justina Iva... ao lado de outros que não entrevistei - Ginani, Hélio
Xavier, Maria Laly, Danilo Bessa, Berenice, Tereza Braga, Djalva Confessor ...
e então pude sentir o que significa a insônia sem liberdade, sem opções
imediatas, mentalizando o momento da soltura, do reencontro familiar, do
retomar o caminho natural da vida. Foram amadurecidos com
"carboreto", tirando do fruto o sabor de um amadurecimento natural,
livre de pressão externa.
Começo hoje uma série de
artigos, aproveitando a expressão de uma estudante bolsista da CV (Patrícia)
para o trabalho – VERDADES CRUZADAS, pois a história oficial nem sempre é a
história definitiva, dadas às circunstâncias de tempo e espaço.
Artigo I - Fica
decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas
marcharemos todos pela vida verdadeira;
Thiago de Mello: Estatuto do homem
Após uma
vivência sob o jugo Português, o espírito de brasilidade foi cultivado nas
academias europeias e chega ao Brasil com o histórico “Grito do Ipiranga” no
dia 07 de setembro de 1822 através de D.Pedro I, Príncipe Regente, ganhando a
adesão da juventude e da comunidade pensante de então.
Composto
o Império brasileiro, sequenciado com o governo de Pedro II, assim caminhou até
a sua deposição em 15 de novembro de 1889, com o golpe militar de Deodoro, que
nos fez ingressar inseguramente nos braços da República, sempre permeada por
intervenções militares – revolucionárias as de 1888-1889; reformistas em razão
do inconformismo patente nos movimentos tenentistas de 1922, governo de Artur
Bernardes, que durou até 1926, em sua maior parte, sob estado de sítio, 1924[1] e 1930, este ano
inaugurando um governo herdeiro da crise econômica do ano anterior, fazendo
emergir a contestação da revolução social tendo como ponta de lança os partidos
comunistas, organizados sob disciplina militar e se espelhando no modelo da
União Soviética.
Diametralmente
em contrário surgem os movimentos fascistas na Itália com Mussolini e o nazismo
na Alemanha com Adolf Hitller, facções que abraçam um aspecto de nacionalismo e
de racismo que, no Brasil, se abrigaram no movimento integralista de Plínio
Salgado.
A
repressão policial, o clientelismo e a corrupção desembocam em revoltas à
semelhança de 1922 e 1924 até o fato mais grave do assassinato do
Vice-Presidente da República, o paraibano João Pessoa, ocorrido em 26 de julho,
estopim para a implantação de um outro momento político, com a chamada
Revolução de 1930 e a deposição do Presidente Washington Luiz em 24 de outubro
e começo do novo regime em 31 do mesmo mês e ano, assumindo o Senhor Getúlio
Vargas no dia 3 de novembro subsequente, ali se estabelecendo.
[1] Em 1924 teve
início a Coluna Prestes, liderada por Luiz Carlos Prestes, percorrendo 13
estados e 25 mil quilômetros na busca de angariar adesão para as causas
tenentistas, contando com o apoio de militares como Cordeiro de Farias e Juarez
Távora e culminando com a sua destituição em fevereiro de 1927 com a deposição
de armas na Bolívia.
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