sábado, 1 de dezembro de 2012


UMA VIAGEM INESQUECÍVEL –

Parte II (Ormuz Barbalho Simonetti)

-continuação -

         ... Seu filho resolve que acompanharia o pai, 
para ajudá-lo nas providências, na certeza que 
chegariam ao Chile no dia seguinte. Enquanto 
a aeronave taxiava, recebe uma mensagem 
do guichê da TAM para interromper a 
manobra e aguardar. Na confusão criada 
por não poder embarcar, meu amigo 
esqueceu que o documento de identidade 
de sua esposa estava com ele. Sem a posse 
desse documento, ela não passaria pelo balcão 
da emigração no Chile, e teria que retornar 
ao Brasil. Poucos minutos depois, um dos 
tripulantes dirige-se a ela e lhe entrega o 
documento que um funcionário da companhia 
viera às pressas entregar no avião. Inicia-se 
novo taxiamento e mais uma vez é 
interrompido. Os passageiros já começavam 
a se perguntar o que estaria acontecendo 
quando novamente o mesmo tripulante, 
com cara de poucos amigos, entrega a 
esposa do meu outro amigo sua identidade, 
que também havia ficado com ele e que 
certamente acarretaria o mesmo problema
 no desembarque.
         
         Ufa! Enfim partimos. Lá estava 
eu, com a cabeça a mil, me perguntando 
como seria o desembarque em Santiago,
já que eu era cego de guia, em se tratando 
de outro país. Mas, nada podia fazer. 
Dentro daquele enorme avião, me sentia 
menor que um grão de mostarda diante 
do que me aguardava. E, como se 
diz lá pelo interior do mato, estava 
literalmente pelo beiço. Como não 
adiantava estrebuchar, entreguei a Deus!
       
     As horas se passavam e a preocupação
 me atormentava. Eu, no papel de 
“Cadinho”, personagem da novela 
Avenida Brasil, responsável pelas 
três mulheres sem saber o rumo que tomaria.
         
      De repente, não mais que de repente,
 o local foi tomado por um enorme mau 
cheiro. Minha esposa que sofre de cefaléia 
e não pode sentir fortes odores, logo 
ficou preocupada. Depois de curta 
investigação, notamos que a passageira 
sentada na poltrona ao lado, uma americana
de aspecto sinistro, que tinha embarcado 
em São Paulo, havia tirado as meias dos 
pés e as brandia como se quisesse secá-las. 
O odor era tão forte que os passageiros 
mais próximos, entreolhavam-se como 
se não acreditassem na cena grotesca 
que presenciavam.
        
        Isso nos fez lembrar outro episódio 
semelhante quando embarcamos de Natal 
para São Paulo. Minha esposa, que 
integra a estatística de 42% da população 
brasileira que tem medo de voar de avião, 
ficou mais tranqüila quando identificou, 
no passageiro que sentou na poltrona 
do seu lado, um provável pastor evangélico. 
O homem ao se sentar, sacou de uma bíblia 
e começou a lê-la mentalmente. Com uma
hora de vôo o indivíduo já dormia 
profundamente. Começamos então a 
sentir um forte mau cheiro, que mais 
lembrava comida estragada. Instantes 
depois, descobrimos que o responsável 
por exalar aquele mau cheiro era o pastor,
que de boca aberta e dormindo a sono 
solto, incontinenti, impregnava o 
ambiente com um hálito devastador, 
daqueles capazes de acabam comício de 
interior.
        
     Faltando pouco tempo para a 
aterrissagem, passa um comissário 
de bordo e distribui com os “passageiros
 estrangeiros” que desembarcariam em 
Santiago, um formulário escrito em 
espanhol. Depois vim saber que se 
tratava de uma DECLARAÇÃO DE 
ADUANAS. Embora identificando 
algumas palavras, não conseguia 
entender completamente o que estava 
escrito naquele papel.
        
       Quando se viaja para outro país, 
os amigos que por ventura lá já estiveram, 
logo se apressam em informar o endereço 
de onde se faz boas compras, onde se 
localizam os bons restaurantes, os locais 
de visitas indispensáveis, os melhores 
passeios etc. Infelizmente, não se 
preocupam em informar ao passageiro
de primeira viagem, como era o nosso 
caso, e ainda por cima viajando por 
conta própria, isto é, sem contar 
com os serviços de uma agência de 
viagens, que, para se adentrar em 
outro país, é necessário passar pela 
policia de emigração. Aquele papel 
entregue pelo comissário de bordo - 
Declaração de Aduanas -, é justamente 
para ser preenchido com os dados do 
viajante, e que serão confrontados com 
os documentos de identidade, no 
guichê da emigração. Após esse
procedimento, a entrada é autorizada 
através de um carimbo, que determinará
 inclusive, os dias que o indivíduo 
poderá permanecer no país. A guarda 
desse documento é de vital importância,
pois, por ocasião da saída do país, o
mesmo documento será exigido. 
O seu extravio acarretará enormes 
problemas e nesse caso, a solução passará 
inevitavelmente pela Embaixada.
      
        Preenchemos o documento da 
maneira que achávamos ser o mais 
correto, porém, isso teve lá suas 
conseqüências, quando apresentado 
no guichê da emigração. A policial 
chilena, muito mal humorada, talvez fosse 
uma solteirona mal resolvida, pois era 
desprovida de qualquer sinal de beleza 
estética, terminou por se aborrecer, em 
virtude da falta de alguns dados, 
que tiveram que ser refeitos ou 
complementados. Até que fosse 
estabelecido um mínimo de 
comunicação com aquela chilena 
raivosa, falando apressadamente e em
um espanhol de difícil compreensão, 
passamos por alguns momentos de estresse.
        
     Enfim, resolvido mais esse problema, 
tomamos um taxi, que tive o cuidado de 
contratá-lo dentro do aeroporto, evitando
assim problemas futuros. Depois de nos 
acomodarmos na van, já que éramos 
quatro passageiros e bagagem de seis 
pessoas, me dirigi ao motorista com 
ares de viajante experiente: Hotel Neruda, 
por favor! Sim señhor, respondeu o chileno.
       
       Durante o percurso, uma distância 
de 35 a 40 quilômetros, procurei manter 
algum diálogo com o taxista, para ir 
me familiarizando com o idioma. 
Perguntei-lhe sobre a distância até o 
centro da cidade, sobre a temperatura 
e por fim sobre os pontos turísticos 
mais visitados. Ele, ao contrário da 
policial truculenta, muito educado, 
procurava de todas as maneiras 
atender aos meus questionamentos 
e satisfazer, a medida do possível, 
minhas curiosidades. Foi então que atônito, 
descobri mais uma das nossas trapalhadas.
     
        O dia 1 de novembro, Dia de Todos
os Santos, é feriado nacional. Em 
seguida, o dia 2 – dia de finados -, 
igualmente feriado, onde se reverencia 
a memória dos mortos, como na 
maioria dos países que têm como 
predominância, a religião católica. 
E o dia 3, sábado, nos informava
 que o comércio funcionaria 
precariamente em razão dos 
feriados anteriores, ou como 
costumamos chamar por aqui 
de feriadão. Resultado: três dias 
com praticamente tudo fechado em 
Santiago. Somente os Shoppings, 
como de costume, estariam em 
pleno funcionamento. No afã da 
viagem, esquecemos do mais 
importante: o planejamento.
E como se diz aqui em nossa terra
“além de queda, coice!

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