segunda-feira, 6 de agosto de 2012


"DOSSIÊ MEGAEVENTOS" - (XXXII) - Dra. Lúcia Capanema
 ______________

8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este dossiê fez um relato de graves violações aos direitos humanos associadas à promoção da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016. Infelizmente, somos obrigados a confessar que este dossiê é meramente ilustrativo, e que, apesar da gravidade dos fatos aqui narrados e dos esforços aqui investidos, estamos ainda muito longe de termos sido exaustivos.
Não foi possível tratar das ameaças que pairam sobre crianças e adolescentes de serem tomados como objeto de tráfico e abuso sexual, sobretudo naquelas cidades onde estas práticas são costumeiras e podem se ampliar. Tampouco se falou da violação dos direitos dos idosos, particularmente vulneráveis à remoção, acompanhada quase inevitavelmente da ruptura de relações de vizinhança e laços de solidariedade e sociabilidade, ruptura de que os mais velhos difi cilmente se recompõem.
Pouco dissemos sobre a multiplicação de ataques às populações de rua, tanto da parte de particulares quando de autoridades teoricamente responsáveis pela proteção dos cidadãos e de seus direitos. Tais ataques insuflam e ao mesmo tempo se alimentam de uma ideologia de “higienização social” dos espaços públicos, que governantes irresponsáveis pretendem legitimar em nome de uma suposta ordem pública que afronta os valores da solidariedade social e do respeito pela dignidade humana.
Também deveríamos ter reunido e sistematizado informações sobre o paradoxo constituído pelo paralelismo entre a extrema fragilidade das políticas de difusão da prática do esporte entre nossa juventude, de um lado, e os maciços investimentos no negócio esportivo, de outro lado. Aos favores e subsídios recebidos por este se contrapõe a pobreza dos equipamentos esportivos e os baixos salários dos professores, responsáveis por educar nossas crianças e por fazer delas cidadãos com mens sana in corpore sano. A privatização dos estádios construídos com recursos públicos expressa, por sua vez, o desprezo oficial pelas tradições e cultura populares, de que o futebol é elemento constitutivo. No caso do Maracanã reformado, a privatização prevê até mesmo a eliminação de pista de atletismo, a esclarecer de maneira inquestionável que Copa e Olimpíadas são apenas um pretexto esportivo para grandes negócios.
Mas, dentre todas as lacunas deste dossiê, certamente a maior é a ausência de um longo capítulo sobre as lutas e organizações através das quais se afirmam e constroem enquanto sujeitos coletivos, em todas as cidades, as populações removidas ou ameaçadas de remoção, os movimentos populares de luta pela moradia, as organizações de defesa dos direitos humanos, os grupos culturais dos bairros populares, pesquisadores e centros universitários comprometidos com a realidade das comunidades pobres deste país, mas também torcedores e esportistas que pretendem reverter a marcha insensata da elitização e mercantilização do esporte. São estes cidadãos, somos nós que integramos os Comitês Populares da Copa e das Olimpíadas. Nas 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo de 2014, entidades, movimentos sociais e organizações políticas, criaram estes comitês e formam a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa para se opor às violações, abusos e ilegalidades relacionadas à realização dos megaeventos esportivos. Fomos nós que elaboramos este dossiê com nossa luta e nossa decisão de levar o que está acontecendo ao conhecimento de todos. Somos nós que estamos lutando para ocupar a cena pública, lugar da Política com letra maiúscula, da Política entendida como debate público, no espaço público, acerca dos interesses públicos e do destino coletivo de nossas cidades.
Em todo o país, estamos organizando debates, torneios esportivos, atos, passeatas, cortejos, mostras de vídeos, cursos de formação, cartilhas, atividades com operários das obras, articulações com parlamentares, atletas, comentaristas esportivos, audiências públicas, pareceres jurídicos, abaixo-assinados, manifestos, notas públicas, entrevistas nos meios de comunicação, artigos e pesquisas. 
Somos aqueles que interpelamos, com a gravidade que cabe, as autoridades governamentais, as corporações privadas, as entidades nacionais e internacionais que protagonizam o espetáculo do grande negócio. Somos nós que exigimos das autoridades públicas que cumpram o papel que lhes cabe pela constituição e pela lei de resguardar o respeito pelos direitos humanos.
Em nossas comunidades e bairros, em nossas reuniões e associações, em nossas manifestações e ato públicos estamos dizendo não à cidade de exceção, não à violação de direitos humanos. Estamos certos de que nossa luta crescerá e que nossa convocação reunirá mais e mais organizações e movimentos coletivos, assim como reunirá cidadãos individuais desejosos de um país orgulhoso por ter feito dos megaeventos esportivos uma grande oportunidade para avançar na luta contra a injustiça social e ambiental e pela justa distribuição dos frutos do trabalho coletivo.
COPA E OLIMPÍADAS COM RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS!
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
http://www.portalpopulardacopa.org.br
Email: articulacaonacionalcopa@gmail.com
______________________________
Com esta publicação encerramos o trabalho da Dra.Lúcia Capanema sobre a situação nacional dos preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e a repercussão em relação aos direitos humanos, de onde poderemos tirar lições, advertências e pontos para meditação.
Este trabalho foi uma colaboração do nosso leitor Didi Avelino, norte-riograndense radicado no Rio de Janeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário