( Albert Cohen, 1943)
Marcos,andei relendo o seu texto sobre Otto Guerra. Não teria nenhuma modificação a fazer quanto à forma. Idem em relação ao conteúdo. Apenas, algumas observações quanto ao partido que vc tomou ao falar sobre OG, seu pai.
Reparando bem, se tenta colocar as instituições e o seu contexto histórico num mesmo nível, ou até mesmo num nível superior ao do personagem. Trata-se de uma espécie de cacoete intelectual do final do século passado. As pessoas teriam um peso menor que as organizações e tambem em relação ao momento da história em que, eventualmente, viveram.
Considero o dr. Otto uma das figuras mais marcantes da Natal dos anos 1960, onde vivemos e militamos politicamente. Marcante pela sua sabedoria, capacidade de fazer e pela imensa compreensão da natureza humana. Que alguém tente situar OG nas correntes político-ideológicas daquele período. Duvido que consiga. Acho que OG pairava muito acima daquela região de conflitos. Como se estivesse, pelo menos 30 anos á frente do seu tempo. E veja – esqueça, se possível seu parentesco tão próximo – como a figura do dr. Otto cresce, naturalmente, na avaliação dos que tiveram o privilégio do seu convívio. Sem nenhum exagero, acho que ele é a estátua de si mesmo. Pelas suas obras, pelo seu legado social e familiar. É uma lembrança que cresce, cada vez que o evocamos. Como agora, no seu centenário. Quem sabe, o INSTITUTO OTTO GUERRA seja o locus ideal, na dimensão exata para conter a sua obra. Mais do que qualquer monumento, em pedra, cimento e cal...
Andei folheando uma biografia de Winston Churchill, escrita por um francês ilustre, François Bédarida, que criou e dirigiu o “Institut d’Histoire du Temps Presént” e é diretor do CNRS. Transcrevo, adiante, um trecho que reforça a importância do Indivíduo no seu tempo:
“(...) a biografia se inscreveu no cerne do grande movimento atual da historiografia, marcada pela recuperação do indivíduo –ator, isto é, do agente da história. Após trinta anos dominados pela primado das forças coletivas e das tendências seculares, ou multisseculares, assistimos ao regresso do sujeito, à reabilitação do individual; o homem –“ ser único de carne e osso”, no dizer de Marc Bloch – retoma, pois, um lugar central. A atenção volta-se para os indivíduos concretos e respectivas vivências, em vez de se concentrar em pessoas abstratas e anônimas formando grupos”.
Podemos imaginar as oito primeiras décadas do século passado sem a presença ímpar de Otto Guerra? A Igreja, a Universidade, a Imprensa sem a sua ação direta, criadora e modificadora? Como teriam evoluído estruturas sociais , políticas e econômicas, o processo democrático, enfim, órfãs da sua contribuição lúcida criativa?
É este homem, inserido na concretude do seu tempo, de sua época, que precisamos pontuar. Vivendo momento histórico marcado pela presença atuante de Homens, comuns em sua aparência singela, mas que se tornavam gigantes diante dos desafios impostos por uma terra de contrastes e desigualdades, desafiadoras da inteligência e da capacidade criadora dos seus filhos. O dr. Otto soube enfrentar estes desafios com serena coragem, inteligência e fé. A ele rendemos as nossas homenagens e reconhecimento pelo seu legado. Exemplo para as gerações futuras. Esta a imagem, Marcos, que o seu pai, OTTO GUERRA, projeta nos dias atuais. E se agiganta,na medida em que o Tempo, dono e senhor da verdade, o julga na justa medida da sua grandeza.
______________Geniberto Paiva Campos. Cardiologista, formado pela UFRN.
Brasilia, Maio de 2012
Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirLeonardo Guerra