quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


OUTRAS CARTAS DE COTOVELO 09
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, advogado e escritor

Sem maiores pretensões, terminei a leitura do livro ‘No tom da canção cearense’, de Wagner Castro, Ed. 2008, que me foi indicado por Inácio e Abimael por saberem da minha passagem pelo rádio.

Constatei que por muito pouco eu não fiz parte da história do movimento artístico de Fortaleza dos anos 50.

O livro não alcança esse período, pois concentra-se nas iniciativas musicais a partir dos anos 60, principalmente dos Festivais da Canção, fazendo vagas referências à PRE-9 – Ceará Rádio Club, onde em 1950 fiz uma temporada, gravando, inclusive, um disco com de 78 rotações, com a orquestra do Maestro Mozart Brandão, onde era pianista o grande compositor Luiz Assunção e o violonista Evaldo Gouveia.

Esses dois últimos continuaram com marcante atuação no rádio cearense nas décadas que se seguiram, tendo Evaldo se notabilizado no resto do Brasil. Lembro que recebi de Luiz assunção uma partitura musical de sua composição ‘Que linda manhã’, com singela dedicatória, a qual pretendia gravar, passando a fazer parte do meu repertório. Contudo, por contingências diversas não mais gravei e a canção foi afinal divulgada através do cantor alagoano, radicado em Natal Rinaldo Calheiros.

Além dessas pessoas já nominadas, o livro se refere ao Trio Nagô, composto por Evaldo, Epaminondas e Mário Alves, que vi nascer, tanto quanto o Trio Irakytan e dos quais tenho as primeiras fotografias artística, com dedicação a mim, com um carinho especial.

Foi em razão da minha apresentação em Fortaleza que ganhei notoriedade, tanto que firmei compromisso com a Rosenblit para gravar um disco em Recife e fazer uma temporada na Rádio Tamandaré, isso pelos idos de março de 1951. Não fui ao acertado, pois coincidiu com a interrupção da minha carreira artística por imposição familiar, posto que já iniciado o período letivo. O contrato foi cumprido por Agnaldo Rayol, pois o seu empresário é o mesmo meu.

No retorno de Fortaleza, fiz um show especial no Cine Pax de Mossoró, contratado pela Prefeitura local, tendo sido a propaganda divulgada através de panfletos jogados de um avião. Depois fiz uma apresentação em um Clube de Caraúbas, que era a terra de nascimento do meu empresário Francisco Gomes de Sales.

A música popular cearense dos anos 50 já estava consolidado. Naquele tempo despontaram outros jovens artistas, como posso lembrar de Solteiro, um garoto apadrinhado de Luiz Assunção, Fátima e Keyla Vidigal.

Pouco tempo depois a explosão dos festivais cearenses, com variadas denominações – Festival da canção cearense, da música popular cearense, da música popular aqui, nordestino da música popular, universitário da MPB e da canção do cariri, destacando-se nomes como Geraldo Vandré, Raimundo Fagner, Ednardo, Belchior, Marcus Vale, Ray Miranda, Ayla Maria, Jorge Melo, Piti, Fausto Nilo e outros.

O Rio Grande do Norte ainda dormia em berço esplêndido, ressalvada, apenas, a singela iniciativa da SAE – Sociedade Artística Estudantil, que revelou alguns artistas solistas e conjuntos musicais para o Brasil. (25/01/2012)

Um comentário:

  1. Dr. Carlos, caro amigo,
    estou ancioso que seja lançado o seu livro que trata dessa e muitas outras histórias da nossa música popular.
    Conhecer a história de nossa música através de um de seus protagonistas é beber na fonte...
    Um abraço.
    DIDI AVELINO - Rio de Janeiro

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