sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


NOVAS CARTAS DE COTOVELO 04 (14/01/2011) *

Na vastidão do horizonte inalcançável o eu repousa no silêncio insondável, onde, na tarde vazia, busco o aconchego das leituras novas e das releituras de textos, frases, poemas ou simples palavras, como as trocadas nas Cartas entre Cascudo e Mário de Andrade.
Vejo, então, que o tempo não altera o enlevo da alma, fazendo num só instante o encontro de gerações.
Desafiou-me o Poeta: - o que é mais belo?
O instante em que o pássaro alça voo
Ou aquele em que, suavemengte pousa?

(Assis Câmara, Desafio - Destino dos Pássaros, p. 23)
A resposta não ouso proferir - prefiro a dúvida, como confessada por outro Poeta:
A missão da poesia
é revelar o amor.
Desilusão de pedra se desfaz
Se a palavra boa e bela penetra
o mármore
em ondas de calor.
A utilidade da poesia é revigorar a alma
por obra e graça de lábios
que sopram a vida
à transitória flor.

(W.D.Cavalcanti, Canova - Adiantamento da Legítima, p. 134)
Debruço-me e em extase de um momento, resgato o pulsar de um pensamento proclamado num passado bem distante:
Deixa o teu vulto esparso, alvo e dormente,
Tremer de frio, ó juriti da mata,
Pois vou fazer dos beijos a cascata
Em que te hás de embeber gostosamente.

(Abner de Brito, Enterro do Pecado - Belle Époque na esquina, TG, p. 197)
Esses devaneios chegaram no sentir da brisa, quando a tarde adormecia em sua claridade solar.
Estanco. Amanhã será outro dia para a praticagem do impossível em que sugere o mesmo Poeta W.D.Cavalcanti, e,
Retorno à ilha
como as próprias águas navegadas
que já me aguardam em outras margens
- transformadas.

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* Carlos Roberto de Miranda Gomes - escritor/veranista

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