terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Foto de Carlos Rosso
(Luar de Cotovelo - janeiro/2011)

Diante de tão bela fotografia, colhida da sensibilidade do meu filho Carlos Rosso, procurei inspiração que estivesse à altura de sua arte. Não o consegui, ainda, daí ter preferido evocar o legendário Catullo da Paixão Cearense e dele transcrevo esse belíssimo poema:

Ontem, ao luar

Composição: música de Pedro de Alcântara(1907) e versos de Catullo da Paixão Cearense (1918), imortalizada pelo cantor Vicente Celestino



Ontem ao luar,

Nós dois em plena solidão

Tu me perguntaste o que era a dor

De uma paixão,

Nada respondi !

Calmo assim fiquei,

Mas, fitando o azul do azul do céu,

A lua azul eu te mostrei...

Mostrando a ti,

Dos olhos meus correr senti

Uma nívea lágrima,

E, assim, te respondi,

Fiquei a sorrir

Por ter o prazer de ver

A lágrima nos olhos a sofrer.

A dor da paixão, não tem explicação !

Como definir, o que só sei sentir ?

É mister sofrer para se saber !

O que no peito o coração, não quer dizer.

Pergunte ao luar travesso e tão taful

De noite a chorar na onda toda azul

Pergunta ao luar, do mar a canção,

Qual o mistério que há na cor de uma paixão.

Se tu desejas saber o que é o amor

E sentir o seu calor, o amaríssimo travor

Do seu dulçor,

Sobe um monte a beira mar, ao luar

Ouve a onda sobre a areia a lacrimar !

Ouve o silencio, a falar na solidão

Do calado coração, a penar,

E a derramar os prantos seus,

Ouve o choro perenal, a dor silente universal.

E a dor maior, que é a dor de Deus !

Se tu queres mais saber a fonte dos meus ais

Põe o ouvido aqui na rosa e a flor do coração

Ouve a inquietação da merencória pulsação

Busca saber qual a razão

Porque ele vive assim tão triste a suspirar a palpitar

Desesperação a teimar de amar um insensível coração

Qua a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está

Mas que ao sepulcro fatalmente o levará.

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