AS CAUDAS DA DEMOCRACIA
Carlos Roberto de Miranda Gomes – Professor e Advogado
Dizem os enciclopedistas que DEMOCRACIA, no sentido que lhe confere a sociologia política, é o regime político, ou forma de governo, em que a soberania reside no povo que, por sua maioria, mas sempre indiretamente, representado por uma elite reduzida de seus delegados, exerce o poder, sob o princípio da absoluta igualdade de direitos entre os cidadãos.
Numa linguagem mais popular, diz-se do governo do povo, pelo povo e para o povo.
Em curta distância, os renomados tratadistas, a teor de Norberto Bobbio, definem DEMAGOGIA como o que, não sendo propriamente uma forma de governo e não constituindo regime político, constitui uma praxe política que se apóia na base das massas, secundando e estimulando suas aspirações irracionais e elementares, desviando-a da sua real e consciente participação ativa na vida política.
Do comparativo das suas concepções, tiramos ilações de que a Democracia, da forma como exercida nos dias presentes e, pelo menos no Brasil, possui caudas ou prolongamentos num local um tanto distante do órgão encarregado do raciocínio.
A vontade do povo não vem sendo respeitada no momento em que fica obrigado a engolir uma propaganda partidária extemporânea na realidade, embora legal pela edição de regras positivas saídas do interesse das elites governantes com o beneplácito dos outros Poderes que deveriam zelar pelo bem do povo.
As mentiras ou as proposições ofertadas nas peças promocionais irritam, nivelando por baixo todos os demagogos governistas ou de oposição, que aparecem para dizer o que não fizeram e oferecendo novas ilusões para conseguir o voto popular.
Este espaço no rádio e televisão poderia ser bem melhor aproveitado, o que não acontece, nunca, para adotar uma palavra grosseira e desanimadora.
Outra cauda é a que decorre de que por ser Democracia, cabe tolerar tudo, venha de onde vier, até mesmo das promoções de Seminários Eleitorais trazendo como estrela um conhecido indiciado em improbidade em dimensão nacional, sendo possível perceber o que ele deverá ter ensinado no acumulado de sua vida aventureira; outra quando qualquer jornal fica obrigado, em nome da Democracia, de publicar opiniões de qualquer ‘simplório’ como aconteceu com o nosso DN de 20 de junho passado, onde um tal de Carlos P.C. Ferrão (deve ser nome de fantasia, próprio de quem não tem transparência para tratar seriamente as questões da cidade), oferece um artigo digno de ganhar o prêmio do ‘besteirol’ cujo título é “Adeus Machadão”, no qual ofende a dignidade dos arquitetos (saudosos segundo ele), conclama a parar com a demagogia, critica um estádio velho, desconfortável e mal feito, concluindo com uma exclamação: “Já vai tarde Machadão”.
Aliás, esse pensar destorcido não é diferente de pessoas intelectualizadas, como assisti em uma livraria, onde na minha presença foi afirmado que o Machadão foi construído sem resguardar nenhuma dimensão ou regramento oficial, sendo obsoleto e fora da medida.
Para quem vive há 70 anos numa cidade que possui menos de 50% de saneamento básico; as vias urbanas congestionadas; ausência de estacionamentos reclamados; hospitais sem médicos, sem leitos e sem medicamentos; escolas funcionamento precariamente em seu aspecto físico e com professores em número inferior à demanda; estabelecimentos prisionais que são meros depósitos, impossíveis de incrementarem a ressocialização do preso; uma segurança completamente sem corresponder às necessidades da cidade; um aeroporto internacional emperrado, tanto quanto a famosa história de ampliação do Porto de Natal, que ouvi contar desde a minha infância. Enfim, nos faltam as estruturas básicas, fundamentais, elementares para melhorar a qualidade de vida do povo e se trabalha para demolir o que já existe, quando melhor seria uma nova construção e em local mais apropriado.
A esse custo social, devemos renunciar ao prazer de sediar alguns jogos, carreando os recursos para obras estruturantes e, por isso ousamos aproveitar a exclamação do articulista comentado: “Já vai tarde Copa de 2014!”.
terça-feira, 22 de junho de 2010
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