quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

O despontar de um Novo Ano Padre João Medeiros Filho O tempo é um enorme desafio que envolve a vida. Não é mera sucessão de dias e anos, revelando a impotência humana para detê-lo. Apesar dos avanços tecnológicos, não se consegue pará-lo. A sua fugacidade não se explica apenas por conceitos cronológicos. Somente a humildade pode evitar que ele se torne uma espada, apontando diariamente para cada um a lâmina da verdade. A simplicidade faz aceitar os enganos das escolhas e desmascara as farsas que trapaceiam até inteligências aguçadas. O tempo passa inexoravelmente. Ninguém o prende e tem-se a impressão de que atualmente é mais veloz. Há avalanches de possibilidades, propostas e necessidades criadas – muitas desprovidas de interioridade – invadindo o âmago do ser humano. Místicos e filósofos ensinam que a temporalidade é uma questão interior. Ao se focar tudo na exterioridade, não só o tempo parece passar mais rápido, mas também se esvairá à revelia. Sem espiritualidade, tende-se a adotar um modo egoísta de existência, destituída do inarredável compromisso com o próximo e lúcida exigência para o convívio social. O desejo de um Ano Novo feliz requer algo mais. Pede o cultivo da sensibilidade interpessoal e outro estilo de sociedade. Eis o que afirma o Onipotente ao profeta Isaías: “Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não raiar como um clarão a justiça, e a sua salvação não brilhar como uma tocha” (Is 62, 1). É o novo para aquele hagiógrafo! Deste modo, desenha-se o caminho, trazendo-o para perto dos homens. Isto acontecerá, mesmo na contramão de interesses egoístas, ideológicos e partidários, por vezes mesquinhos, desumanos, deletérios e alienantes. “A luz e o canto anunciaram a alegria da nova vida, o sorriso encantador da esperança e a certeza inefável da vitória. E tudo isto é, a um só tempo, tão simples e frágil, grandioso e resplandecente” (Liturgia natalina). Para que haja realmente um Ano Novo, é preciso reduzir a ansiedade, a violência, a mentira, as narrativas, o pessimismo, a polarização e o ódio. Convém regar de esperança e ternura os sentimentos mais profundos. Evitar mirar-se nos outros. A inveja mina a autoestima, fomentando o ressentimento e abrindo dentro do coração um fosso no qual se precipita o próprio invejoso. É o panorama presente na política do Brasil de hoje, marcada da avidez de poder e dominação! Em 2025, haja empenho para acreditar em si mesmo, despertando criatividade para superar crises e dificuldades. Abraçar a virtude teológica da esperança – temática do Ano Santo de 2025 para os cristãos – a fim de vencer os contratempos, acreditando que no íntimo de cada um encontra-se Deus: força maior do amor e da transformação. Para que o Ano seja realmente Novo, é necessário cuidar das palavras. Não se pronunciem difamações e injúrias, nem se espalhem mentiras nas redes sociais. O ódio destrói primeiramente quem o carrega na alma e não apenas o odiado. Troque-se a maledicência pela benevolência. Lembrar-se da importância de alguns elogios por dia, em vez de críticas e condenações. Para haver Ano Novo não se deve desperdiçar o tempo da vida, ser hipnotizado pelo celular. Não se recomenda navegar irresponsavelmente pela internet, naufragando no turbilhão de imagens e informações, nem sempre absorvidas. Urge não deixar que a sedução da mídia anule a capacidade de discernir, tornando o ser humano autômato e consumidor compulsivo. É necessário centrar a existência em valores permanentes, jamais efêmeros. Neste mundo ruidoso é preciso buscar o silêncio. Neste poder-se-á encontrar Deus. Isso será verdadeiramente um Ano Novo. Importa cuidar da saúde com equilíbrio e sensatez, sem a escravidão a modismos. Aceitar as rugas e cabelos brancos sem temer as marcas do tempo. Não esquecer que a idade pode ser sinal de sabedoria. Não dar importância ao transitório, nem confundir o urgente com o prioritário. Afastar pensamentos preconceituosos e sentimentos excludentes. A vida é bela e breve! O Transcendente deve inundar o cotidiano e habitar a subjetividade. Aprender a fechar os olhos para ver melhor. E no decorrer de 2025, “Deus nos abençoe e guarde, volte para nós a sua face e nos dê a sua paz” (Nm 6, 24-26).

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