O bispo que se aspira e inspira
Padre João Medeiros Filho
Este texto não resulta de uma consulta formal, tampouco
consiste num documento institucional ou estudo comparativo. É fruto de diálogos
fortuitos entre religiosos, leigos engajados e o Povo Deus. Há quem professe
credo diferente. Entretanto, preocupa-se com a dinâmica da fé e sua influência sobre
a sociedade. Afirma-se que a Igreja exerce significativa liderança. Recorda-se o
Movimento de Natal com sua força propulsora para o desenvolvimento regional.
Inegáveis são o contributo das escolas radiofônicas, dos centros sociais e a
importância de tantas outras iniciativas, dentre elas, incentivo ao artesanato
e cooperativismo, atenção à saúde básica e educação. A antiga Escola de Serviço
Social exerceu um papel relevante para as mudanças estruturais.
Natal é uma das grandes arquidioceses brasileiras em
dimensões territoriais e populacionais. Atualmente, a circunscrição
eclesiástica detém uma superfície de 25.153 Km2 (quase metade da
área do RN) e cerca de 2.191.000 habitantes, dos quais 1.752.793 católicos. O
arcebispado – que se estende da capital do estado à cidade de São Rafael (distante
220 Km) – compõe-se de mais de cem paróquias e áreas pastorais, um clero ultrapassando
duzentos presbíteros e cem diáconos permanentes.
A diocese foi criada em 29/12/1909 por Pio X, pela bula
papal “Apostolicam in Singulas” (abrangendo todo o
RN), sendo desmembrada da diocese da Paraíba. Posteriormente, cedeu
território e clero para a instalação das dioceses de Mossoró (1934) e Caicó (1939).
Foi elevada à categoria de arquidiocese, aos 16/02/1952 pelo documento pontifício
“Arduum Onus”, do Papa Pio XII. Até o momento, foram
seus pastores: quatro bispos e seis arcebispos diocesanos. Além deles, houve
dois prelados auxiliares e três administradores apostólicos: um com a sé
vacante (antes da nomeação do primeiro bispo) e os demais com a “sede plena”. A
designação destes últimos foi decorrente da limitação, por cegueira, de Dom
Marcolino Dantas, o qual ocupava o sólio episcopal. Entretanto, tais clérigos
diferem de antístites transferidos, que permanecem governando o bispado até a posse
em outra circunscrição eclesiástica.
Pergunta recorrente entre os fiéis: que
pastor se deseja? Um homem de Deus, com espiritualidade marcante, fé
contagiante, apaixonado pelo Evangelho, preocupado com toda a comunidade, dinâmico
e de uma simplicidade que aproxima. Aspira-se que saiba nutrir a vida cristã
com a Sagrada Escritura, Teologia, Mística e Espiritualidade. O Código de
Direito Canônico recomenda (cânon 378, § 5º) que os candidatos ao episcopado possuam o grau de doutor (ao menos, mestre) em uma das disciplinas: Sagrada
Escritura, Teologia e Direito Canônico ou sejam verdadeiramente versados nelas.
O apóstolo Paulo, na Primeira Carta a Timóteo, traça
o perfil episcopal: “É preciso que seja irrepreensível, sóbrio, ponderado,
educado, hospitaleiro, apto para ensinar e moderado...” (1Tm 3, 2-4). E São Gregório Magno, em sua Regra Pastoral, lembra as
virtudes que deve possuir: “É indispensável que tenha pureza de
alma, ação exemplar que convença, a discrição do silêncio, palavras úteis, atenciosa
compaixão, contemplação que o desapegue da terra, humildade que o faça irmão e
servidor.”
Anela-se que seja amante da Doutrina Social da Igreja e desejoso
de apascentar a juventude e a população universitária. Hoje, a arquidiocese
detém uma comunidade acadêmica mais numerosa que muitas paróquias. A presença
do clero deve ser marcante nesse setor. Há necessidade de sacerdotes com acurada
formação, espírito cientificamente crítico e abertos ao diálogo. A universidade
é um espaço de reflexão, onde há lugar para o Evangelho. Nas décadas de 1960 a
1990, o arcebispado dispunha de dezesseis padres docentes nas universidades
públicas. A comunidade acadêmica contava aproximadamente com doze mil pessoas. Atualmente,
ultrapassa sessenta mil, tendo apenas um sacerdote lecionando no ensino
superior. É fundamental uma preocupação com o ensino religioso nos colégios. Está
desaparecendo a figura do padre ou freira professor de religião. Há algo que se
deverá respeitar: a cultura de nosso povo. Convém cuidar de sua alma. Existe um
fator endógamo nas famílias, tornando-as unidas e coesas. Mas, a mídia e as redes
sociais tentam cindir tais vínculos. “Cuidai
de todo o rebanho sobre o qual o Espirito Santo vos estabeleceu como apascentadores
da Igreja de Cristo, adquirida com o seu sangue.” (At 20, 28).
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