sábado, 4 de março de 2023

 

GRAÇA E ILUMINAÇÃO

                                    -  Horácio Paiva *

Apesar de haver lido bastante Schopenhaeur, não sou do bloco dos pessimistas... E quanto a Bertrand Russel, o meu ceticismo é diferente do dele. Não o é em relação a Deus, mas ao domínio do conhecimento pelo homem. Neste caso, estou com Sócrates, que dizia: “de uma coisa, sei: que nada sei”. 

Tenho buscado a imaginação, a poesia e a teologia como ferramentas para ampliação da consciência. A lógica cartesiana não nos leva muito longe, embora importante nas coisas, sonhos ou ilusões ditas práticas do dia a dia. Nos “Fragmentos” de Novalis, pensador e poeta romântico alemão, há uma frase que diz: “Se tivéssemos uma Fantástica como existe uma Lógica, ter-se-ia descoberto a arte de inventar.” Quando perguntado se acreditava em Deus, Iung respondeu: “Se acredito? Eu não acredito, eu sei!” Também respondo de forma parecida: “Percebo e sinto Deus”, o que me dá grande liberdade e coragem. E a vida se torna uma aventura criativa, ou sonho.

Para Santo Agostinho, somente somos salvos pela graça de Deus. Thomas Merton, monge trapista, teólogo e escritor moderno, autor do célebre “O Zen e as Aves de Rapina”, identificava a Graça (cristã) com a Iluminação (zen-budista).

No mais, e apesar de minha ignorância humana, sou livre e feliz (pela graça ou pela iluminação) e alegre na maior parte do tempo  -  embora navegando ora em mar calmo, ora em mar agitado, o que me traz, algumas vezes, mudança no humor. Mas a felicidade é profunda e o humor superficial.

A propósito do Zen, o monge católico trapista Thomas Merton, na obra acima citada, procura demonstrar a aproximação dessa doutrina com o Cristianismo. Curiosa e interessante a relação que estabelece entre a “iluminação” zen-budista e a “graça” cristã. Cita São João da Cruz, que “compara o homem a uma janela através da qual brilha a luz de Deus.” Com efeito, são palavras do próprio santo, extraídas de sua obra “Subida do Monte Carmelo”: “Quando a alma dá lugar (que é apartar de si toda névoa e mancha de criatura, tendo a vontade perfeitamente unida à de Deus  -  porque amar é trabalhar em despojar-se e desnudar-se por Deus de tudo o que não é Ele), logo fica esclarecida e transformada em Deus, e o Senhor comunica-lhe o seu ser sobrenatural de tal maneira que parece ser o próprio Deus e, de fato, é Deus por participação.”

Novalis dizia ser a Poesia a mais importante fonte do diálogo do homem com Deus. Costumo dizer que Poesia e Profecia são irmãs. Ambas trabalham o alargamento da consciência. Muitas vezes compartilhei esse pensamento com o meu saudoso amigo Nelson Patriota. E agora concluo com esse meu poema, entre a graça e a iluminação:


ZEN

quando estiver salvo

ou iluminado

não precisarei

mais nada perguntar  -

 

são ilusórias as perguntas

e ainda mais as respostas

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(*) Horácio de Paiva Oliveira  -  Poeta, escritor, advogado, membro do IHGRN, da UBE-RN e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA.

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