O Dia
da Pátria
Padre
João Medeiros Filho
Nestes dias, é importante relembrar o pensamento do
filósofo Nicolau de Cusa: “Quem não ama verdadeiramente o seu torrão natal, é
indigno dele.” É dever do cristão devotar-lhe um amor sincero. Cristo tinha um
afeto especial por sua terra. Chorou sobre Jerusalém, antevendo os dias de
infortúnio pelos quais a cidade passaria, em consequência de sua infidelidade a
Deus (Lc 19, 41ss). É preciso refletir sobre os destinos da nação. Será que não
se deve derramar lágrimas (como Jesus) ao constatar tanta desonestidade
material e intelectual, falta de ética e honradez, além do desrespeito às
virtudes humanas e cristãs? A pátria é muito mais que os poderes constituídos e
seus ocupantes.
Pode parecer pessimismo. Mas, o Brasil está
paulatinamente perdendo a sua identidade e consciência moral. Os costumes estão
sendo dissolvidos, a dignidade ferida e o pudor bate em debandada. Falam mais alto
a conveniência e os interesses partidários ou ideológicos do que o bem-estar do
povo. Atualmente, autoridades são execradas, instituições escarnecidas,
preceitos éticos envilecidos, comportamentos, por vezes minoritários, sendo
impostos. Para muitos, o foco é desconstruir, conseguindo passividade e
inércia. Há desencanto nos cidadãos. Os serviços públicos são abandonados a uma
rotina letárgica. Após dois séculos, o Estado é considerado ainda ineficaz para
uma multidão. Eça de Queiróz indagava a seus compatriotas: “O país está em crise,
onde estão as análises sérias e as luzes postas sobre ele?” E nós, como
perguntaremos? É hora de lembrar a Palavra de Deus: “Escutai, povo meu, de mim
sairá a lei e o meu direito estabelecerei como luz dos povos” (Is 51, 4).
Os brasileiros provêm de uma variedade
cultural e étnica. Isto gerou um país de múltiplas faces com elementos positivos
e conflitos, muitos dos quais ainda não resolvidos. A história de uma nação não
se resume a personagens e fatos constantes nos livros. Alguns acontecimentos
mais decisivos envolvem pessoas que exercem funções de destaque. Entretanto,
não se pode desprezar o contributo de tantos anônimos. Qual é a realidade atual
do Brasil? Vive-se em inquietação e perplexidade. De quem é a responsabilidade?
Uma análise objetiva da conjuntura é tarefa desafiadora. Cada partido, grupo ou
pessoa tem seu ponto de vista, com o qual julga e projeta o país. Mas, muitos
cidadãos são recalcitrantes e não se abrem a outras opiniões, fixando-se numa
visão restrita e parcial da realidade. Assiste-se aos funerais do diálogo!
A situação do Brasil poderia e deveria ser bem melhor,
considerando suas riquezas humanas e naturais. Entretanto, persistem
incontáveis problemas, resultado da omissão, descaso e leviandade de certos
governantes. Destacam-se a marginalização de muitos brasileiros, desigualdade
social, diversas formas de violência, deficiente sistema educacional e precário
acesso à saúde. Acrescentem-se a isso a manutenção iníqua e nociva de um grupo
de privilegiados e a falta de reformas estruturais, há décadas reclamadas. Mudar
esse quadro é imprescindível para que se tenha uma nação livre, justa e
soberana.
Uma leitura adequada da realidade presente permite
projetar o melhor possível para o amanhã. A doutrina social da Igreja apresenta
exigências para a formação da sociedade. A primeira, agregando as demais, é o
respeito à pessoa, como a essência de toda estrutura de Estado, da política e
economia. Nenhum ser humano pode ser instrumentalizado e diminuído em sua
dignidade. Desta e da igualdade de todos derivam: bem comum, subsidiariedade,
participação e solidariedade. Daí, decorrem requisitos basilares da vida social:
justiça, verdade e liberdade. Como existem diferentes leituras da realidade, há
diversas propostas de construção do país. Os pressupostos humanistas e cristãos
serão úteis para a definição dos planos e critérios de avaliação da qualidade
das proposições.
É urgente reconstruir o
Brasil. Para tanto, é preciso que venham a prevalecer as narrativas sérias,
fazendo-o despertar para mudanças inadiáveis, varrendo os cenários de
vergonhosas desigualdades, garantindo a permanência de postulados inarredáveis.
“Dai ao povo brasileiro paz constante e prosperidade”, súplica que deve
ser apresentada a Deus. E concluindo, convém lembrar a recomendação do
Onipotente nas palavras do profeta Jeremias: “Procurai a paz para a terra onde
vos coloquei. Orai a Deus por ela, pois de sua paz depende a vossa” (Jr 29, 7).
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