quarta-feira, 10 de agosto de 2022

 

Poetas potiguares

               Felix Contreras

                                     Para Horácio Paiva,

                                                            Diógenes da Cunha Lima,

                                                             Joao Charlier Fernandes  

                                                             e Aluizio Azevedo Junior,

                                                             encarnação da alta poesía potiguar.

 

 

Estive ali, os conhecí, lembro seus nomes, raros, estranhos: Rizolete, Aluízio, Diulinda, Drika,  Gilvânia, Ceiçao, Josimey, Kacianni, Leocy,  Chumbo; outros, com cheiro de Roma e Grécia: Diógenes, Horácio…  e tanto como seus nomes é a sua poesia que se faz única, singular, poesia filha da melhor lírica local e mundial, mas, onde está a grandeza dessa poesia potiguar? Na qualidade! Poesia que expressa a beleza de um caju vermelho, imenso, poesia que pegou a magia e o mistério de um rio, onde, embaixo, o Saci—fiel ao que vê e ouve  dos humanos— sonha com o mar, as ondas e canta, baixinho, devagarzinho, para poetas, mulheres e homens, que tecem a identidade e o fascínio de versos cativantes, que copulam nas redes com a plenitude de uma terra farta da graça, de uma região do mundo onde flamejam, noite e dia,  as bandeiras da poesia.

 

Profícua Noiva do Sol, Terra de Canaã entre luas e mares. Terra com tradição lírica e gulosa de vida, terra onde mora o Saci, num arrabalde exótico do rio e guarda num cofre a magia verbal desses poetas e suas crenças, superstiçoes, lendas, mitos, ditos e raízes populares.

 

E na vastidão de suas terras interiores, um sertão de minguadas chuvas e nutrição, mas, pai de um folclore extraordinário, impressionante, acima da noite norte-rio—grandense.     Poetas que querem as portas do verbo comer sempre abertas, com direito a estar submersos no Clair de Lune, de Verlaine a Castro Alves, Olavo Bilac, Shakespeare, e Machado de Assis: Auta de Souza, Othoniel Menezes, Edinor Avelino, Palmira Wanderley, José Bezerra Gomes, Jorge Fernandes, Zila Mamede, Gilberto Avelino, Miguel Cirilo, Luís Carlos Guimarães, Sanderson Negreiros, João Bosco Campos, Eduardo Gosson, Walfran de Queiroz, Horácio Paiva, Diógenes da Cunha Lima, Maria Rizolete Fernandes, Anchieta Fernandes, Roberto Lima de Souza, Lívio Oliveira e novos que se vão agregando: Marcos Antônio Campos, Marcos Cavalcanti, Diulinda Garcia, Aluízio Azevedo Júnior, José Ivam Pinheiro, Jânia Souza, Anchella Monte, Lúcia Helena Pereira, David Medeiros, Geralda Efigênia, Gilvânia Machado, Maria Vilmaci Viana, Suely Magna Nobre, Moacir de Lucena, Paulo Caldas Neto, Rosa Regis, Zelma Bezerra, João Charlier Fernandes, Drika Duarte,  Ceiçao Maciel, Josimey Costa, José de Castro, João Andrade, Kacianni Ferreira, Leocy Saraiva,  Chumbo Pinheiro, Leonam Cunha, e a bancada de Macau, terra lírica, de alvas salinas, naquele encontro fascinante de sal, mar, sertão e poesia, onde estive a convite de Horácio Paiva, do alto de sua torre azul, que distribuía bênçãos a Alfredo Neves, Saddock Albuquerque, Getúlio Moura, Tião Maia, José Ribamar Filho, João Vicente Guimarães, Daniel Násser, Michelle Paulista e Sheila Bezerra!... Que todos esses nomes, que hoje residem em meu coração, jamais sejam esquecidos e que não sejam palavrões no sertão, que prova a todo momento que o azul não é patrimônio exclusivo do mar.

 

Sim, estive ali, na extensa costa branca entre Natal e Macau, nessas praias, bençãos de Deus, e comi, com minha amada Leda, ginga com tapioca e  cavaquinho frito com cachaça, para depois realizar o convite do amor, agasalhados pela areia mesma num despido azul, dignos dos elogios venturosos de Ulisses!

 

Sim, li esses poetas potiguares nas tardes macias da fazenda de um Poeta irmão!  

 

Conheci essa terra magnífica e seus poetas de nomes raros, estranhos, até então, para mim, mas donos de uma poesia filha da melhor lírica local e do mundo, de larga inspiração e qualidade, cativante, com a plenitude de uma terra farta de graça e beleza!

 

Poesia sempre em crescimento, atenta ao homem brasileiro das dunas, dos mares nordestinos e de fora. Uma poesia que conhece de perto a luta pela sobrevivência, o ímpeto calado da flor nascendo, a miséria, as sombras e a luz da aurora na trilha do caminho. 

 

 

(Felix Contreras – Tradução de Horácio Paiva). 

 

 

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