VALORIZANDO A CULTURA NORDESTINA – Berilo de Castro
VALORIZANDO A CULTURA NORDESTINA –
Escrevi, em crônica recente, sobre o impressionante valor que o brasileiro tem dado às coisas de fora do país (o estrangeirismo, o viralatismo). A rigor, significa a falta da valorização, do apego, do amor a nossa rica e pouco reconhecida cultura, especificamente à nordestina.
Quero, neste relato, me dirigir a essa cultura, que é a nossa raiz, a nossa identidade, o nosso orgulho de ser povo.
Saímos já daquela fatídica época; daquele tempo cruel e sofredor, que caminhões e mais caminhões saiam cheios de nordestinos (famosos e tristes paus de arara) para aventurarem uma vida melhor na cidade grande; um sonho na esperança de melhores dias à procura de emprego para poder sustentar a família.
O nordestino foi e sempre será lembrado como o grande propulsor da construção civil nas regiões do Sudeste e Sul do país. Sempre um forte!
Hoje, o momento é outro. Mudou, sim, mudou para melhor. Nos orgulhamos de poder exportar para o país todo não mais os “paus de arara”, mas, sim, pessoas do mais alto nível intelectual, nomes expressivos em todos os segmentos profissionais da sociedade: na área do direito, da medicina, da engenharia, da arquitetura, a nossa riqueza folclórica, lembrando o nosso maior representante, o folclorista, escritor e historiador Luís da Câmara Cascudo; no esporte, o orgulho de ter o nativo praiano de Baía Formosa/RN, Ítalo Ferreira, campeã mundial e a primeira medalha de ouro para o Brasil no surf na Olimpíada em Tóquio/2021.
Passamos a oferecer o melhor turismo litorâneo brasileiro: lindos remansos praianos, praias paradisíacas, de águas mornas, de cores belíssimas, enaltecendo o verde da turmalina com azul turquesa. Sol o ano inteiro.
A gastronomia, que beleza! O puro sabor nordestino, igual não há no mundo: a paçoca de pilão, o feijão verde, o feijão de risada, o baião de dois; o arroz de leite, o bolinho de macaxeira, o bolinho de carne de sol, o bolinho de bacalhau, a carne de sol na nata, na manteiga do sertão; o cuscuz, o cuscuz no leite; o camarão, usado em dezenas e dezenas variedades de pratos; a lagosta, o lagostin, a ostra crua com limão e sal; os mais variados peixes, fritos ou cozidos, no leite de coco; as muquecas de peixe, de camarão ou mista, de deixar mole e sonolento o freguês. As sobremesas, um encanto de doçura: a cocada, branca e escura, o arroz doce, a banana caramelada, a rapadura, o coco zoião (cocada com sorvete de baunilha) – uma delícia fascinante –, Romeu e Julieta (queijo com doce goiabada), queijo com mel do engenho; cartola (banana frita, queijo e canela), doce de leite, doce de coco, doce de coco com rapadura, doce de jaca, de caju, doce de jerimum com coco, pudim de leite, sorvetes das mais variadas frutas; tapiocas com recheios diversificados; grude branco, preto; canjica, pamonha, bolo da moça, bolo de batata, de milho, de laranja, bolo preto, de macaxeira; sucos de frutas da região: caju, manga, graviola, cajá, acerola, limão, laranja, abacaxi, e por aí segue uma imensa lista de gostosas guloseimas puramente nordestinas.
Por fim, para uma boa digestão e uma leve soneca, vamos na musicalidade de Jackson do Pandeiro, lembrando Caymmi, Luiz Gonzaga, Sivuca e no remanso dos versos do grande poeta passarinho Patativa do Assaré.
Iluminado por todos esses astros, me associo às palavras de dois grandes nordestinos: o poeta matuto cearense, Bráulio Bessa, e o escritor, ensaísta, romancista, dramaturgo, poeta e professor, Ariano Suassuna, paraibano de Taperuá, que assim se expressaram: de Bráulio: “Quanto mais sou nordestino, mais tenho vontade de ser”; de Ariano: “Eu não troco meu “oxente” pelo OK de ninguém”.
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