segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

VIVA 2019


CARTAS DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 01)

        Amigos, cheguei. Com dificuldades de saúde e baita engarrafamento, mas cheguei. Minha preocupação inicial, como não podia deixar de ser, foi de repor as coisas da casa em ordem – algumas peças quebradas, lâmpadas queimadas, mas, todas em segundo plano. O que interessa é o sossego, a paz que os bons ventos de Cotovelo, particularmente da minha varanda, trazem para mim.
        O domingo, como sempre, enche a praia, sobretudo quando este dia é o último de 2018, antevéspera do Ano Novo que se avizinha diferente, inimaginável dentro da lógica do cotidiano de todos os outros, senão de uma expectativa esperançosa de que alguma coisa mude, e para melhor, é claro.
        A praia está convidativa, ainda não recebendo a maré forte de todo mês de janeiro, talvez seja pelo minguante da lua. Vamos aproveitá-la antes que ela se arrependa.
        Deixei passar a noite e raiar o novo dia, o último de 2018. Dei-me ao cotidiano do veraneio – leitura e leitura.
        Logo cedo fui brindado com mais uma mensagem de Albany Dutra que, à guisa de falar do mesmo assunto, o caminhar diário: E eu estava aqui na casa de meus pais na Praia, refletindo como as coisas simples do dia a dia podem nos ensinar a fazer a diferença em nossas vidas! Observei na rotina de um dia de serviços e atividades domésticas, o quanto podemos evoluir como seres humanos, transformando o nosso coração através de pequenos gestos!” .... Nela dá a sua pitada de espiritualidade: “Fechamos as "cortinas" para nos isolarmos quando estamos tristes, solitários, preferindo a ausência da luz! Observei que uma simples lâmpada queimada que trocamos, nos coloca na presença da luz novamente! Observei que ao consertar o braço de uma cadeira, ela vai servir de suporte e amparo para quem nela sentar! Ao entrar na cozinha observei como uma medida correta de sal pode fazer toda a diferença no sabor do alimento. Vi como o varrer a sujeira do chão, o retirar a poeira dos móveis, a maresia dos vidros...deixam o ambiente limpo para usufruto de todos. Observei na família reunida, no correr, na alegria e grito das crianças brincando com os avós, o quanto é bom o convívio de um lar; Finalizando, observei contemplando o mar e o céu, a existência de Deus; e i como somos pequenos e vulneráveis diante da sua criação! Que neste ano possamos abrir as cortinas e janelas que estão obscurecendo o nosso coração; que possamos trocar as lâmpadas queimadas de nosso ser, para que sejamos luz na vida das pessoas; que possamos ser a medida certa do amor, da bondade, solidariedade, perdão, caridade, misericórdia, na vida do nosso próximo; que possamos ser o braço que serve de amparo e suporte para quem precisa; que possamos retirar todo o lixo do egoísmo, orgulho, arrogância, prepotência, desamor, ódio, ressentimento, mágoa... que sujam e mancham o nosso ser e a nossa alma; que possamos ter sempre dentro de nós a pureza e a alegria de uma criança! Que possamos zelar e cuidar dos mais velhos; que possamos semear amor, paz e união em nosso lar, em nossa família! Que tenhamos sempre dentro de nós a chama do amor de Deus, da fé, da verdade, da justiça, da esperança e da caridade, pois são elas que nos mantêm firmes na presença do Senhor que nos ilumina e dá a vida! Feliz ano novo à todos! Por Albany Dutra. 31/12/2018”. Suas palavras me conduziram para continuar a leitura da obra “O Bom Papa”, de autoria de Greg Tobin, onde disserta sobre a criação de um Santo e a recriação da Igreja, tendo como personagem central Angelo Giuseppe Roncalli – o Papa João XXIII.
        Confirmando o muito que já li sobre ele, pincei, apenas, a ratificação do que sempre guardei de sua vida e de sua obra – o homem simples, corajoso e criativo, que rompeu dogmas, implantou o ecumenismo, salvou vidas durante a 2ª Guerra e renovou a Igreja, tirando-a do “mesmismo” que adotava há um século.
        Forjado o caráter com a vida campesina, galgou a experiência e encontrou o seu norte nos sacrificantes ministérios da Bulgária, Grécia, Turquia, França e cidade de Veneza, de onde saiu ungido Papa em 1958, como João XXIII, num pontificado que durou apenas1680 dias, tendo realizado uma obra marcante como o Concílio Vaticano II, que coroou o ecumenismo religioso, após um lapso temporal de 90 anos, editou as Encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris e outras, evitou a deflagração do 3º Conflito Mundial 1961-1962 e, em 03 de junho de 1963, no Palácio Apostólico do Vaticano cerrou os olhos e voltou aos Braços do Pai, na paz suprema de uma vida profícua.
        Vai raiar um outro dia, um ano novo – Viva 2019.
(Cotovelo, noite de 31 de dezembro de 2018 para o amanhecer de 1º de janeiro de 2019).

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