CARTAS
DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 01)
Amigos, cheguei. Com dificuldades de saúde e baita
engarrafamento, mas cheguei. Minha preocupação inicial, como não podia deixar
de ser, foi de repor as coisas da casa em ordem – algumas peças quebradas,
lâmpadas queimadas, mas, todas em segundo plano. O que interessa é o sossego, a
paz que os bons ventos de Cotovelo, particularmente da minha varanda, trazem
para mim.
O domingo, como sempre, enche a praia, sobretudo quando este
dia é o último de 2018, antevéspera do Ano Novo que se avizinha diferente,
inimaginável dentro da lógica do cotidiano de todos os outros, senão de uma
expectativa esperançosa de que alguma coisa mude, e para melhor, é claro.
A praia está convidativa, ainda não recebendo a maré forte de
todo mês de janeiro, talvez seja pelo minguante da lua. Vamos aproveitá-la
antes que ela se arrependa.
Deixei passar a noite e raiar o novo dia, o último de 2018.
Dei-me ao cotidiano do veraneio – leitura e leitura.
Logo cedo fui brindado com mais uma
mensagem de Albany Dutra que, à guisa de falar do mesmo assunto, o caminhar
diário: “E eu estava aqui na casa de meus pais
na Praia, refletindo como as coisas simples do dia a dia podem nos ensinar a
fazer a diferença em nossas vidas! Observei na rotina de um dia de serviços e
atividades domésticas, o quanto podemos evoluir como seres humanos,
transformando o nosso coração através de pequenos gestos!” .... Nela dá a sua pitada de espiritualidade: “Fechamos as "cortinas" para nos isolarmos quando estamos
tristes, solitários, preferindo a ausência da luz! Observei que uma
simples lâmpada queimada que trocamos, nos coloca na presença da luz
novamente! Observei que ao consertar o braço de uma cadeira, ela vai
servir de suporte e amparo para quem nela sentar! Ao entrar na cozinha
observei como uma medida correta de sal pode fazer toda a diferença no sabor do
alimento. Vi como o varrer a sujeira do chão, o retirar a poeira dos
móveis, a maresia dos vidros...deixam o ambiente limpo para usufruto de todos.
Observei na família reunida, no correr, na alegria e grito das crianças
brincando com os avós, o quanto é bom o convívio de um lar; Finalizando,
observei contemplando o mar e o céu, a existência de Deus; e i como somos
pequenos e vulneráveis diante da sua criação! Que neste ano possamos abrir
as cortinas e janelas que estão obscurecendo o nosso coração; que possamos
trocar as lâmpadas queimadas de nosso ser, para que sejamos luz na vida das
pessoas; que possamos ser a medida certa do amor, da bondade, solidariedade, perdão,
caridade, misericórdia, na vida do nosso próximo; que possamos ser o braço que
serve de amparo e suporte para quem precisa; que possamos retirar todo o lixo
do egoísmo, orgulho, arrogância, prepotência, desamor, ódio, ressentimento,
mágoa... que sujam e mancham o nosso ser e a nossa alma; que possamos ter
sempre dentro de nós a pureza e a alegria de uma criança! Que possamos zelar e
cuidar dos mais velhos; que possamos semear amor, paz e união em nosso lar, em
nossa família! Que tenhamos sempre dentro de nós a chama do amor de Deus, da
fé, da verdade, da justiça, da esperança e da caridade, pois são elas que nos
mantêm firmes na presença do Senhor que nos ilumina e dá a vida! Feliz ano novo
à todos! Por Albany Dutra. 31/12/2018”. Suas palavras me conduziram para continuar
a leitura da obra “O Bom Papa”, de autoria de Greg Tobin, onde disserta sobre a
criação de um Santo e a recriação da Igreja, tendo como personagem central
Angelo Giuseppe Roncalli – o Papa João XXIII.
Confirmando o muito que já li sobre ele, pincei, apenas, a ratificação
do que sempre guardei de sua vida e de sua obra – o homem simples, corajoso e
criativo, que rompeu dogmas, implantou o ecumenismo, salvou vidas durante a 2ª
Guerra e renovou a Igreja, tirando-a do “mesmismo” que adotava há um século.
Forjado o caráter com a vida campesina, galgou a experiência
e encontrou o seu norte nos sacrificantes ministérios da Bulgária, Grécia,
Turquia, França e cidade de Veneza, de onde saiu ungido Papa em 1958, como João
XXIII, num pontificado que durou apenas1680 dias, tendo realizado uma obra
marcante como o Concílio Vaticano II, que coroou o ecumenismo religioso, após
um lapso temporal de 90 anos, editou as Encíclicas Mater et Magistra e Pacem in
Terris e outras, evitou a deflagração do 3º Conflito Mundial 1961-1962 e,
em 03 de junho de 1963, no Palácio Apostólico do Vaticano cerrou os olhos e
voltou aos Braços do Pai, na paz suprema de uma vida profícua.
Vai raiar um outro dia, um ano novo – Viva 2019.
(Cotovelo,
noite de 31 de dezembro de 2018 para o amanhecer de 1º de janeiro de 2019).
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