DEJETEI, ESTOU PRESO?
Berilo de Castro
DEJETEI, ESTOU PRESO? –
A vida nos traz momentos de muita perplexidade. Coisas do cotidiano da vida. Fatos inusitados e algumas vezes hilariantes.
Acompanhei agora pela mídia local, um caso policial jamais visto e comentado.
Vejam só:
Um certo transeunte, sem nome, sem
identidade, homem pobre, inofensivo e habitante de rua, super
necessitado devido a uma aceleração fisiológica do seu sistema
gastrointestinal, procurou um local para eliminar o bolo fecal produzido
e prestes a sair.
Todos nós sabemos e sentimos o que é uma urgência fecal. Não tem quem suporte!
É agir, ou agir. Caso contrário, o tiro sai por baixo e insuportável. Foi o que aconteceu com o pobre morador sem teto.
Urgido pela necessidade de executar o que o
organismo pedia e sem demora, escolheu um recanto não muito escondido
(devido à própria circunstância) – o centro da Cidade, em uma área
ocupada por uma repartição pública abandonada.
Partiu como uma flecha, suando frio e com arrepios pelo corpo. Quando
começou a exercer o ofício fisiológica (numa boa), foi abordado por um
policial da Guarda Municipal, que o obrigou a desfazer do ato vexatório
e se dirigir com muita pressa para uma delegacia
mais próxima.
O guarda, glorificado pela sua eficiência ação policial, apresentou com empolgação ao delegado a sua vítima:
— Eis aqui senhor delegado, flagrado em plena
via pública, desmoralizando a nossa cidade e aos seus habitantes,
dejetando nos intramuros de uma repartição pública.
O Delegado cheio de broncas, muita dor de
cabeça, salário atrasado, assassinatos de hora em hora, enfrentando a
ferro e fogo as brutais facções criminosas, roubos e furtos de carros
por minutos, múltiplos assaltos a caixas eletrônicos
em todo o Estado, mortes diárias de policiais, recebe a queixa e
pergunta:
— Pode repetir qual o motivo da ocorrência?
— Doutor, o meliante foi flagrado cagando em
plena via pública, um ato de desrespeito à Cidade, a toda à sociedade e
ao patrimônio público, por sinal muito “bem cuidado”.
— O Delegado puto da vida, suado, nervoso e colérico responde:
— Pelo amor de Deus, eu cheio de problemas
sérios para resolver, você vem com um pobre morador de rua, todo cagado e
fedorento, preso porque estava esvaziando o seu intestino grosso em uma
repartição pública abandonada e mal cuidada!
Deixa esse pobre coitado libertar o seu escremento em paz, sem
perturbação e em qualquer lugar público.
Como é que vou prender um pobre homem do
bem, só porque cagou em lugar abandonado devido a uma grande e vexatória
necessidade cagatória?
— Solte o pobre homem e o libere para cagar a vontade e onde quiser.
Berilo de Castro –
Escritor
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