PANDEMIA E PANDEMÔNIO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
A vida da gente, hoje em dia, chega a doer e a enjoar.
Sobrepondo-se à lógica, aí estão os mistérios do mundo. Ele parece apodrecer
cotidianamente. E acho essas razões um tanto metafísicas mas, perfeitamente
racionais e cabíveis à espécie. Apesar da revolução das ciências, em todos os
campos de atividade, há uma angústia indagativa porque tudo piora quando a
humanidade progride materialmente. Muito antes, nas esquinas do mundo, a
fatalidade das guerras ditadas pela imprudência interrompia a esperança do ser
humano no dia de amanhã. Tudo leva a crer, no crepúsculo dos nossos dias, que a
escalada geométrica da dificuldade de se viver no planeta, hoje tão afetado pela
superpopulação e a crise da falta de alimentos, é que ingressamos no corredor
escuro do Armagedom.
A vida passa e diante dos nossos olhos segue um
desfile barulhento de excessos. Excessos e abusos perturbadores provocados pelo
braço do homem. Vejam só, por que surgem na atmosfera (o ar que respiramos)
vírus gripais, infecciosos e contagiosos que se multiplicam e se transformam
virando pandemia? No processo de mutação ultrapassam a eficácia da vacina e se
propagam com surpreendente rapidez, induzindo-nos acreditar que a camada superior
da terra e as defesas do corpo humano estão comprometidas por atos insanos do
próprio homem. Os continentes, desde os mais industrializados aos mais pobres,
desérticos, quentes, superpovoados, até as florestas tropicais em compasso progressivo de
extermínio, incluindo os mares revoltos, revelam-me recôndita preocupação com o
final dos tempos.
Igual em perigo à pandemia, mora vizinho o pandemônio.
O tumulto do trânsito em Natal está trazendo estresse e hospitalizando muita
gente. Avaliem as cidades maiores! Semana passada, entre 18h e 19h30, gastei de
automóvel trinta minutos do bairro de Lagoa Nova ao Natal Shopping. O número de
veículos hoje na capital resgata a “saudade de mim mesmo”, como disse o poeta
português. Esse grave fato estatístico não preocupa apenas pelo dano físico de
acidentes, mas igualmente, pela nova geração de ansiosos, psicóticos e
depressivos. E haja consumo de benzodiazepínicos. Diariamente em Natal,
acontece de cinco a dez acidentes com motos. A malha viária não comporta mais o
enxame de ônibus, “ligeirinhos” antipáticos e imprudentes, automóveis e
utilitários de luxo, que lembram a crise de paranoia do governador do estado.
Todavia, o pandemônio não se encerra aí. O assalto à mão
armada não apenas reside ao lado, mas está dentro de casa fazendo reféns. Com
armas modernas e de grosso calibre os marginais já são um número maior que o
efetivo policial. Segurança no Brasil é uma ilusão congratulatória. Somente os bobos
acreditam e agradecem. Ainda iremos assistir, se não planejarem logo uma
solução, desfilando nas ruas e bairros as forças armadas do país, envolvendo-se
na estratégia de resguardar a cidadania que é vida e que significa tanto quanto
a defesa da soberania do país. Igual ou pior do que a invasão do território
nacional é o lar ultrajado, violentado e saqueado da família brasileira que, no
dizer de Rui Barbosa, “é a pátria amplificada”. E a política no Rio Grande do
Norte nesse inverno é um mar de náufragos fatais. O político continua sendo
aquele indivíduo fraco e defeituoso. O poder de barganha dos faraós hoje
precisa ser investigado. O Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte de forma
técnica isenta e competente, analisou e reprovou as contas do governo do estado
relativas ao exercício passado. De acordo com a lei, remeteu o parecer ao Poder
Legislativo para providências de acordo com a Constituição. E qual foi o voto
do relator: sugerir a aprovação com ressalvas. E a pergunta que fica: Para que
serve um Tribunal de Contas? E para que serve o Poder Legislativo que desqualifica
e desmoraliza o seu órgão institucional auxiliar que decidiu unanimemente?
(*) Escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário