Rizolete Fernandes: tecedora de poemas
Com quantos fios se tece um poema? A
escritora Rizolete Fernandes nos apresenta não somente as linhas, mas os
poemas e as tecelãs que acolchoam suas vidas comprometidas com a Vida.
Poeta, cronista e pesquisadora, a potiguar nascida em Caraúbas (RN)
lança o barbante feito de palavras e passeia pelo mundo compondo uma
obra que nos leva a um reencontro “com um desses poemas épicos de
Virgílio, que em forma de corpo em versos nos relatam as mais insólitas
histórias, aquelas que informam das epopeias de muitas mulheres desde os
mais remotos tempos da história humana,…” (pág.13). E não somente dos
mais remotos tempos, mas também, da contemporaneidade.
A partir de uma perspectiva histórica, veremos como as tecelãs
atuaram plenamente em seus contextos sociais, e é de lá que são chamadas
pela atualidade de suas lutas pela dignidade humana, pelo direito à
vida, pelos direitos das mulheres. Cronologicamente sua presença é de
inegável proximidade na qual algumas viveram, como Simone de Beauvoir e
D. Militana, por exemplo.
Rizolete Fernandes soma ao seu brado às vozes que se levantaram e não
se calaram diante das opressões. Clamores que ecoaram desde os tempos
mitológicos e que em nosso século continuam a ecoar. Eis a poeta: “As
brasileiras a quem passo a tocha da liberdade, que saberão guiar o seu
próprio destino e outros destinos, lego o grito que deverá, mais do que
nunca, fulgurar no ar: “”Ó abre alas/Que eu quero passar””.”, no poema a
Chiquinha Gonzaga. (Pág.125). (No momento em que lia este poema, ouço
estarrecido a notícia do crime contra Marielle Franco). Mulher, mãe,
mais uma vida, não só entre as vinte tecelãs que aqui representam tantas
mulheres, certamente uma vida “no alvorecer de suas tessituras”, cuja
voz não silenciará.
Um fio de mitologia e vinte fios de história: tecelãs, mulheres que
escrevem suas histórias, não só nos lugares onde viveram, mas no tempo e
nos espíritos. Tecelãs são poemas feitos com a força da palavra e a
sensibilidade da poeta engajada com seu tempo: “Do éter minh’alma
entristecia/com o silêncio sobre meu nome/o olvido da obra com
exceções/ínfimas em meu próprio Estado/até que a jornalista
conterrânea/pôs em livro a causa, ensejando/do injusto quadro a
mudança.” (pág.96), poema a Nísia Floresta, escritora potiguar que viveu
grande parte de sua vida na França, onde ainda nos tempos atuais recebe
homenagens dos franceses.
Ao compor Tecelãs, Rizolete Fernandes nos presenteia com uma obra
histórica, não só pelo seu rico conteúdo, mas principalmente pela forma
poética. Para além de regras e modelos, um livro com estilo próprio,
feito com todas as características da composição poética, enriquecendo
não só a sua carreira como escritora, todavia a nossa literatura .
Tecelãs é um livro que precisa ser lido, relido e divulgado, não
apenas pelos amantes da poesia, mas, por estudantes, militantes,
professores e todos que gostam de uma boa leitura. Principalmente os que
acreditam que uma boa leitura pode nos humanizar !
Chumbo Pinheiro é poeta e articulista
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