A
ÉTICA COMO PRETEXTO OU A POLITIZAÇÃO DA ÉTICA
Geniberto
Paiva Campos – Brasília, 29 de março, 2018
É preciso muito cuidado com
o uso de certos conceitos.
Podemos, sem perceber, ser
objeto da mais grosseira manipulação.
Lancemos a convocatória: - Cidadãos
de todo o mundo, uni-vos. Nada tendes a perder ao fazer o diagnóstico e
denunciar a mais abjeta campanha, hipocrisia jamais perpetrada contra mentes
crédulas e ingênuas. Integrantes do vasto rebanho dos tolos, facilmente
manipuláveis. Há décadas.
Convoquem-se os filósofos,
os doutores da Academia, os sábios de todas áreas do conhecimento. Precisamos
estar atentos e fortes contra o assédio moral dos hipócritas militantes. Ou
seremos vítimas da mais tosca manipulação política, aplicável a segmentos, digamos,
mais sensíveis da sociedade.
Comecemos então,
didaticamente, por definir hipocrisia,
para chegarmos à ética.
Eis a definição mais precisa
que encontramos: “hipócritas são aqueles
que aplicam aos outros os padrões que eles se recusam a aceitar para si mesmos”.
Portanto, nada mais fácil do
que impor a ética como padrão de conduta inviolável. Principalmente quando esse
padrão não é aplicável àqueles que impõem esse excelso valor.
E, ainda mais grave, quando
os que se supõem portadores de elevados conhecimentos e douta sabedoria são tão
somente ridículos parlapatões. A expor, tristemente, a sua ignorância,
perceptível e evidente, mesmo disfarçada sob as vestes da “politização”,
expostas a toda hora, nos veículos de comunicação de massa.
Como resultante dessa tosca
manipulação dos hipócritas, surgem, e são prontamente assimilados, conceitos
filosóficos historicamente aceitos e respeitados, agora travestidos de novos
significados. E edulcorados de conteúdos políticos e partidários.
A Ética, por exemplo.
Aprendemos com Kant: “Atua de tal maneira, que tua conduta possa tornar-se, em condições
similares, normas para todos os homens.”
No dicionário Houaiss, “ética é parte da filosofia responsável pela
investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o
comportamento humano, refletindo especificamente a respeito da essência das
normas, valores prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social”.
Ao assistir a um Seminário,
em ambiente acadêmico, sobre a ética aplicada a diversas situações nas relações
humanas e sociais – na economia, na política, no judiciário - me dei conta que
o conceito clássico de ética não conseguia permear de maneira convincente
nenhuma das situações expostas.
Na economia, por exemplo, ao
abordar o controverso tema da “Dívida Pública”, ficamos na dúvida se é, de
fato, uma questão ética ou simples caso de delegacia de polícia.
Pois o Neoliberalismo, nos
últimos tempos adotado no Brasil, ao priorizar o lucro acima de todos os princípios,
por onde passa, vai reduzindo a pó valores como o Trabalho, Divisão do Produto
do Trabalho, Direitos Humanos e princípios como Honestidade e Decência na
sociedade humana.
Dizia o dramaturgo Bertolt
Brecht, em frase que lhe é atribuída: - “O
que é o roubo de um banco, comparado à fundação de um banco?” questionando
severamente a natureza eticamente fluida das transações bancárias.
Após a brilhante e corajosa
exposição de uma participante do evento, sobre a origem e a natureza da Dívida
Pública, e a gatunagem que isso representa, caímos na realidade: é, realmente, um simples caso de polícia.
Colocado num patamar bem inferior aos princípios éticos e filosóficos. Lembrando
a canção popular: -“CHAME O LADRÃO! CHAME O LADRÃO!”
O sigilo bancário, levado às
suas últimas consequências, produziu essa estranha distorção – moralmente
aceita – os Paraísos Fiscais. Um
local sagrado, onde o Capital Financeiro esconde e aumenta os seus lucros,
livres dos incômodos de taxações e impostos.
Saí do evento perguntando
aos meus perplexos botões: qual a diferença entre estes estranhos paraísos
fiscais e as malas de dinheiro guardadas pelo deputado baiano, na sala do seu
apartamento em Salvador, na Bahia de todos os santos e de todos os pecados? Uma
simples questão de endereço?
E em triste desalento,
cheguei à conclusão: não seria mais correto e apropriado organizar um outro
seminário, intitulado, “A HIPOCRISIA NAS RELAÇÕES JURÍDICAS, ECONÔMICAS E
POLÍTICAS NUM MUNDO ORIENTADO PELOS VALORES NEOLIBERAIS”???
Talvez fora da Academia.
Quem sabe num desses presídios brasileiros. Superlotados de negros e pobres.
Onde a maioria cumpre longas penas, mesmo sem prévio julgamento, e sem
sentenças definitivas. Pois, como aprendemos, “a lei é para todos”. Mas as
penas...
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