domingo, 18 de fevereiro de 2018

BELO TEXTO




Numa dessas exibições dos fantásticos bailados, na modalidade Patinação Artística no Gelo, dos Jogos Olímpicos de Inverno 2018, ora disputados na cidade de PyeongChang, Coreia do Sul, certo atleta escolheu, para acompanhar sua performance, nada menos que a famosa ária "Nessun dorma" ("Ninguém durma"), do último ato da ópera “Turandot”, criada em 1926 por Giacomo Puccini. Refere-se à proclamação da princesa Turandot, exortando a que ninguém deveria dormir, passando a noite tentando descobrir o nome do desconhecido que aceitara o desafio proposto pela princesa. Era o príncipe Calaf, que canta a canção, certo de que o esforço de todos será em vão. Essa ária é marcanate, na obra de Puccini, e atingiu difusão relevante, quando foi adotada como a canção tema da Copa do Mundo de Futebol na Itália, em 1990, além de ter sido incluída na trilha sonora de vários filmes. Tenores de todo o mundo a incluem em seu repertório, sendo executada em solos exclusivos, fora das exibições da ópera. O grande Caruso foi um de seus intérpretes como Calaf (o Príncipe Desconhecido), filho de Timur, o rei tártaro destronado. Outro tenor famoso, o Luciano Pavarotti, foi um dos seus mais renomados executores. A performance, na opinião de muitos experts, se configurava como o melhor momento do Pavarotti. Interpretando essa ária ele quase que toca o céu, como uma espécie de êxtase ou experiência religiosa, um verdadeiro momento mágico, transmitindo isso ao público em forma notável.
Última ópera de Puccini, a “Turandot”, é composta em três atos, com libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni, baseado numa peça de Carlo Gozzi com a adaptação de Friedrich von Schiller. Estreou no Teatro alla Scala em Milão, em 25/04/1926, com regência de Arturo Toscanini. A ópera, inacabada pela morte do autor, em 29/11/1924, foi completada por Fanco Alfano. Toscanini não gostou do final que o Alfano deu à obra; por isso, na cena de morte de Liù, virou-se para a plateia e disse: "Senhoras e Senhores, aqui parou Giacomo Puccini". Em “Turandot”, Puccini mostra a veia sadomasoquista que havia manifestado em outras obras. O triunfo final dos dois protagonistas, que se comportam de uma forma censurável, chocou alguns, apesar da partitura de um melodismo fluido, extremamente quente, melancólico e sensual, típico de Puccini. A Princesa Turandot, filha do Imperador Altum, da China, odeia todos os homens, e jura que jamais se entregará a nenhum deles; isto devido a um fato ocorrido na família imperial que a traumatizou para sempre: estupro e assassinato da princesa Lo-u-Ling, quando os tártaros invadiram e conquistaram a China. Seu pai, porém, exige que ela se case, por razões dinásticas, e para respeitar as tradições chinesas. A princesa concorda; porém, com uma condição: proporá três enigmas a todos os candidatos, que arriscarão a própria cabeça se não acertarem, e somente se casará com aquele que decifrar todas as três duríssimas charadas. A crueldade e frieza da princesa não fazem mais do que atiçar a paixão do Príncipe Desconhecido, filho do deposto rei dos tártaros, que decide arriscar a própria vida para conseguir a mão da orgulhosa princesa. Ele consegue, pois derrota todos os outros candidatos, até porque é o único que compartilha da natureza sádica e egoísta da princesa, sendo capaz de entendê-la. A história de Turandot, porém, remonta a épocas mais antigas, porque foi tirada da coleção de histórias persas chamada "O Livro de Um Mil e um Dias" (não se confunda com a obra irmã "O Livro das Mil e Uma Noites") ou “Hezar o-yek shab” (tradução francesa em 1722, “Les Mille et Un Jour”, por François Petis de la Croix), onde há a personagem de "Turandokht", como uma fria princesa chinesa. A história de Turandokht é uma das mais conhecidas do livro persa traduzido por Croix.
Luciano Pavarotti viveu sempre em sua terra natal, Módena, na Itália, onde nasceu no dia 12/10/1935. Tenor lírico excepcional, foi grande intérprete das obras de Donizetti, Puccini e Verdi, dentre outros em seu grande repertório. É reconhecido como o tenor que popularizou mundialmente a ópera. Começou sua carreira profissional como tenor em 1961 na Itália. No mesmo ano fez sua primeira performance internacional, estrelando “La Traviata” em Belgrado, na Sérvia (então Iugoslávia). Cantou nas maiores casas de óperas da Itália, da Holanda, em Viena, Londres, Ancara, Budapeste e Barcelona. O jovem tenor se tornou mais conhecido durante uma turnê australiana ao lado da renomada soprano Joan Sutherland em 1965. E fez sua estreia nos EUA em Miami, também a convite da soprano. Sua posição como o tenor lírico líder de sua geração veio entre os anos de 1966 e 1972, durante suas performances no Teatro ala Scala, de Milão, em outras casas de ópera italianas, e na Metropolitan Opera House, em Nova Iorque. Sua última performance em uma ópera, ocorreu justamente no Metropolitan, em março de 2004. Um ano após, a Fundação Ítalo-Americana o indicou à Calçada Ítalo-Americana da Fama, reconhecendo seu trabalho durante toda a vida. Sua última aparição em um palco foi na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, na cidade de Turim, em 2006, quando cantou pela última vez "Nessun Dorma", e recebeu uma ovação calorosa de milhares de pessoas. No dia 06/09/2007 faleceu na sua casa, em Módena, em consequência de um câncer no pâncreas, aos 71 anos de idade.
NESSUN DORMA
Nessun dorma! Nessun dorma!
Tu pure, o, Principessa,
Nella tua fredda stanza
Guardi le stelle che tremano 
D'amore e di speranza!

Ma il mio mistero e chiuso in me
Il nome mio nessun saprà!
No, no, sulla tua bocca lo dirò
Quando la luce splenderà!
Ed il mio bacio sciogliera 
Il silenzio che ti fa mia!

Coro
(ll nome suo nessun saprà
E noi dovrem, ahimè, morir, morir)

Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vincerò!
Vincerò, vincerò!

NINGUÉM DURMA
Ninguém durma! ninguém durma!
Tu também, ó princesa,
Na tua fria alcova
Guarda as estrelas que tremulam
De amor e de esperança!

Mas meu mistério está preso a mim
O meu nome ninguém saberá!
Não, não, sobre a tua boca o direi,
Quando a luz resplandescer!
E o meu beijo destruirá
O silêncio que te faz minha!

Coro
(Seu nome ninguém saberá
E devemos, ai ai, morrer, morrer)

Desvaneça, oh noite! 
Desapareçam, estrelas!
Desapareçam, estrelas! 
Na alvorada vencerei!
Vencerei, vencerei!



Los Angeles 1994. Nadie interpreta Nessun Dorma como é. Pavarotti


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