O
COTIDIANO DA LEITURA
CARLOS
DE MIRANDA GOMES, escritor
A leitura é o mais importante
remédio para a cura, senão para a melhora das doenças do espírito.
Produz o antídoto necessário às
crises existenciais – solidão, depressão, sofrimento e frustração, levando ao
paciente a esperança de dias melhores.
Aos que não padecem dessas
psicopatias, atua como deleite para a alma, aparando arestas nas atribulações
indesejadas do cotidiano. Enfim, a leitura tem sido uma companheira querida,
razão pela qual ganhei o costume de empilhar livros para o deleite de um curto
período, na cabeceira da minha rede.
No decorrer dos meus 78 anos de
vida nunca deixei faltar esses volumes de conhecimentos e fantasias, desde o
tempo lúdico da infância em que devorava os quadrinhos que me chegavam pelo
gazeteiro que servia à população de Macaíba, lugar onde despertei para o mundo.
Nessas revistas, além das aventuras normais dos heróis de então, Tarzan,
Mandrake, O Fantasma, os vaqueiros do oeste americano, Gibi, Guri, Família
Marvel, Superman, vinham também as Edições Maravilhosas com os resumos das
obras literárias mais festejadas, como “O Moço Loiro, O Seminarista, A Pata da
Gazela, Memórias de um Sargento de Milícias, O Tronco do Ipê, Iracema, O Guarani, O Rio do
Quarto, O Alienista” e tantos outros, que depois reli em livros normais
impressos, entre outros, o primeiro volume nesse formato que me entreguei –
“Anos de Ternura”, de A.J.Cronin, de quem adotei depois todos os seus outros títulos.
Não parei mais e adquiri o costume
da leitura concomitante de 3 a 4 livros de temário diferenciado para evitar o
cansaço. Estou agora a folhear, neste setembro de fim de inverno, aproveitando
uma temperatura mais amena, parcimoniosa e lentamente, o vasto universo
biográfico de Lima Barreto = “Triste Visionário”, da escritora Lilia Moritz,
cuja rebeldia retratada se afina com algumas das minhas indignações nos dias
presentes, seja com pessoas, fatos ou instituições, como os escândalos
políticos e o fanatismo ideológico de certos líderes de barro atrofia o
sentimento de nacionalismo e mesmo do lirismo natural do dia a dia.
Às vezes chego a meditar – terei
nascido no tempo e espaços errados? Não defini, ainda, este dilema atroz, e
enquanto isso, só tenho a opção de continuar buscando a resposta nos livros,
nas revistas, nos escritos no campo virtual.
O meu lenitivo para a dúvida é que os
meus livros, listados e adquiridos ou presenteados, permitem um aprendizado
eclético para aliviar as minhas idiossincrasias, a teor dos contos irreverentes
ou despretensiosos de Rita Lee, que escreveu “Dropz”, a roqueira que me
deliciara na sua autobiografia; “A Cabana”, com seu exacerbado sentido
esotérico, tema muito explorado nos dias atuais; passando pela autobiografia de
Fidel Castro, mostrando algumas verdades desconhecidas da sua aparência
pública; revisitei os textos da Revista II, ano II, 2006, do Conselho Estadual
de Cultura; “Separação”, de Clauder Arcanjo; os ensinamentos espirituais nos
discursos e homilias do admirável Padre João Medeiros Filho: “Horas Solenes”; no
plano da transcendência, um viajante com Flávio Gameleira nos caminhos
percorridos por Henry Koster, usando a expressão do prefaciador Vicente Serejo;
por último um interessante livro sobre as memórias de Dorinha Durval, sob o
título “Em busca da Luz”, contadas para Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Ocampo.
E assim caminho com a minha sina, na
direção apregoada por Lima Barreto, “Transatlantismo”: Nós, os brasileiros, somos como Robinsons: estamos sempre à espera do
navio que nos venha buscar da ilha a que um naufrágio nos atirou.
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