sexta-feira, 29 de setembro de 2017


O COTIDIANO DA LEITURA
CARLOS DE MIRANDA GOMES, escritor
            A leitura é o mais importante remédio para a cura, senão para a melhora das doenças do espírito.
            Produz o antídoto necessário às crises existenciais – solidão, depressão, sofrimento e frustração, levando ao paciente a esperança de dias melhores.
            Aos que não padecem dessas psicopatias, atua como deleite para a alma, aparando arestas nas atribulações indesejadas do cotidiano. Enfim, a leitura tem sido uma companheira querida, razão pela qual ganhei o costume de empilhar livros para o deleite de um curto período, na cabeceira da minha rede.
No decorrer dos meus 78 anos de vida nunca deixei faltar esses volumes de conhecimentos e fantasias, desde o tempo lúdico da infância em que devorava os quadrinhos que me chegavam pelo gazeteiro que servia à população de Macaíba, lugar onde despertei para o mundo. Nessas revistas, além das aventuras normais dos heróis de então, Tarzan, Mandrake, O Fantasma, os vaqueiros do oeste americano, Gibi, Guri, Família Marvel, Superman, vinham também as Edições Maravilhosas com os resumos das obras literárias mais festejadas, como “O Moço Loiro, O Seminarista, A Pata da Gazela, Memórias de um Sargento de Milícias, O Tronco do Ipê, Iracema, O Guarani, O Rio do Quarto, O Alienista” e tantos outros, que depois reli em livros normais impressos, entre outros, o primeiro volume nesse formato que me entreguei – “Anos de Ternura”, de A.J.Cronin, de quem adotei depois todos os seus outros títulos.
Não parei mais e adquiri o costume da leitura concomitante de 3 a 4 livros de temário diferenciado para evitar o cansaço. Estou agora a folhear, neste setembro de fim de inverno, aproveitando uma temperatura mais amena, parcimoniosa e lentamente, o vasto universo biográfico de Lima Barreto = “Triste Visionário”, da escritora Lilia Moritz, cuja rebeldia retratada se afina com algumas das minhas indignações nos dias presentes, seja com pessoas, fatos ou instituições, como os escândalos políticos e o fanatismo ideológico de certos líderes de barro atrofia o sentimento de nacionalismo e mesmo do lirismo natural do dia a dia.
            Às vezes chego a meditar – terei nascido no tempo e espaços errados? Não defini, ainda, este dilema atroz, e enquanto isso, só tenho a opção de continuar buscando a resposta nos livros, nas revistas, nos escritos no campo virtual.     
            O meu lenitivo para a dúvida é que os meus livros, listados e adquiridos ou presenteados, permitem um aprendizado eclético para aliviar as minhas idiossincrasias, a teor dos contos irreverentes ou despretensiosos de Rita Lee, que escreveu “Dropz”, a roqueira que me deliciara na sua autobiografia; “A Cabana”, com seu exacerbado sentido esotérico, tema muito explorado nos dias atuais; passando pela autobiografia de Fidel Castro, mostrando algumas verdades desconhecidas da sua aparência pública; revisitei os textos da Revista II, ano II, 2006, do Conselho Estadual de Cultura; “Separação”, de Clauder Arcanjo; os ensinamentos espirituais nos discursos e homilias do admirável Padre João Medeiros Filho: “Horas Solenes”; no plano da transcendência, um viajante com Flávio Gameleira nos caminhos percorridos por Henry Koster, usando a expressão do prefaciador Vicente Serejo; por último um interessante livro sobre as memórias de Dorinha Durval, sob o título “Em busca da Luz”, contadas para Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Ocampo. 

            E assim caminho com a minha sina, na direção apregoada por Lima Barreto, “Transatlantismo”: Nós, os brasileiros, somos como Robinsons: estamos sempre à espera do navio que nos venha buscar da ilha a que um naufrágio nos atirou.

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