quinta-feira, 1 de junho de 2017

Amigos,

Ciduca (Francisco Barros), seridoense, é escritor e colega aposentado do Banco do Brasil. Aliás, é autor de vários livros sobre "causos" engraçados ocorridos no BB. Recentemente lançou "No Banco do Brasil de antigamente".
A crônica que lhes mando é antológica.

Abração,

Horácio.
 
A FINADA MINHA MÃE E A CORRUPÇÃO BRASILEIRA
 
CIDUCA BARROS
 
        D. Chiquinha, a finada minha mãe, nasceu em 1912, como todas as pessoas da sua geração, principalmente aquelas nascidas (assim como ela) nos sertões do Seridó, falava sempre inserindo em suas locuções: provérbios, chavões, adágios e ditos populares. Ela faleceu em 1987, portanto há 30 anos, mas, repentinamente, passei a ouvir a sua voz, nitidamente, em meus ouvidos.
Mediunidade? Não, como consequência da corrupção dos políticos brasileiros, que vem estarrecendo até os mortos.
Vendo e ouvindo as calamitosas notícias sobre a podridão da corrupção dos políticos brasileiros, uma torrente de lama que a mídia brasileira vem mostrando, diariamente, para o Brasil e para o resto do mundo, parece-me ouvir D. Chiquinha sussurrando suas sentenças que tanto ouvi no passado.
Quando um desses implicados em corrupção está dando as suas esfarrapadas e intermináveis explicações, ela murmura baixinho: “quem não te conhece, que te compre”.
Os telejornais informavam que alguém suspeito de desonestidade não foi encontrado pela Polícia Federal, com o seu advogado dizendo que, no momento oportuno, seu constituinte se apresentaria. Senti que a finada minha mãe fez um muxoxo e ouvi dela: “esse passou sebo nas canelas”.
Vendo o respeitável Doutor Sérgio Moro na televisão, escutei quando ela disse: “esse tem sangue no olho”.
Ouvindo a notícia de que a Justiça soltou algum implicado que merecia ficar entre as grades, ela juntando a sua voz à revolta da população brasileira contra os ministros que abriram as grades disse: “são uns bois do cu branco”.
Mais um suspeito de passar a mão no Erário Público dando mais explicações esfarrapadas à imprensa, a finada minha mãe não perdoou e cochichou: “desculpa de amarelo é comer barro”.
Recentemente, vimos um ex-presidente do Brasil dando suas explicações, em juízo, sobre suspeição em algo duvidoso e eu pensei que ela fosse ficar calada. Ledo Engano. Ouvi ela dizer com todas as letras, demonstrando até uma certa decepção: “quem vê cara não vê coração”.
Esta semana os brasileiros, que pensavam que já tinham visto tudo, ficaram, mais uma vez, de boca aberta com a quantidade de nomes de políticos (de todas as cores e de quase todos os partidos) citados em mais um caso escabroso e imoral de desonestidade. A finada minha mãe não hesitou e me disse: “são todos farinha do mesmo saco”.
E ainda acrescentou: “todo político calça 40”.
Não vou negar. A finada minha mãe também dizia palavrões. Esta semana, enquanto eu assistia as notícias de mais propinas e roubalheiras, desta feita tendo como pivô aqueles dois com nomes de dupla de cantores de moda sertaneja, ela fechou definitivo e mediunicamente o seu conceito sobre a nossa nação e me disse em voz baixa: “meu filho! O Brasil virou o cu de mãe Joana! ”.
Se eu concordo com as opiniões da finada minha mãe?
Eu sempre fui um filho obediente.   

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