domingo, 19 de fevereiro de 2017


DE INTOLERÂNCIA
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

A expressão corresponde a uma atitude caracterizada pela falta de habilidade, intransigência em respeitar ou reconhecer opiniões em contrário. Enfim, é uma demonstração cabal de atitude antidemocrática de algumas pessoas.
Neste sábado, inexplicavelmente, não foi para mim um bom dia. Vencida uma noite um tanto difícil em razão de problemas de saúde de Thereza, logo na manhã fiz modesta preleção para minorar o ambiente, lendo um texto de Albany Dutra e uma oração a Nossa Senhora da Conceição, superando os instantes mais difíceis.
Aproveitei o resto da manhã e fui até uma oficina eletrônica apanhar um televisor e lá aguardei alguns minutos até a chegada do proprietário. Enquanto isso, o jovem atendente me reconhecendo como um antigo atuante nas lides do Direito comentou o seu desejo em seguir a carreira jurídica para se tornar um Juiz Federal. Contudo, disse estar receoso em razão dos comentários desairosos contra autoridades do Judiciário, no que me fez retrucar: não leve em conta esses comentários – a maioria não tem consistência, mas é fruto da intolerância de pessoas menos avisadas, que se precipitam a tecer conceitos intransigentes sobre coisas do cotidiano, mais acentuadamente, da política e do comportamento dos que têm a missão de fazer justiça.
Reforcei o meu argumento, alegando que passei toda a minha vida em atividades voltadas para julgar comportamentos de gestores e jurisdicionados e não me arrependia de nenhum ato praticado em tal mister.
Coincidentemente, pouco tempo antes, adentrou na oficina outro cliente, grisalho, não tanto quanto eu, mas que sem ser chamado ouviu alguma parte da conversa e, de pronto, agressivamente faz um gesto em direção à minha pessoa: “O Senhor devia ter vergonha de defender esses políticos e juízes... #+*”. O fato inusitado causou constrangimento ao jovem atendente que esperava de mim um aconselhamento para o seu futuro e surpresa da minha parte. Esquecendo minha idade vetusta, rebati com veemência e voz certamente muito mais volumosa que o daquele intolerante, fazendo ver que ele era um intrometido, que não aprendera a ouvir e sim a falar inconsequentemente pois o que eu afirmara era exatamente que os gestores ou administradores incompetentes ou corruptos deviam ser enquadrados.
O silêncio pairou por alguns minutos, o bastante para a chegada do proprietário e me fazer a entrega do material que fora apanhar. Concluída a finalidade da minha presença e antes de me retirar dirigi-me ao jovem atendente para rematar – olhe rapaz, você teve a oportunidade de ouvir e constatar o que lhe dissera no início da conversa – “as informações muitas vezes são dadas por pessoas inconsequentes, como este Senhor, que efetuou comentários agressivos sem saber do que se tratava”. Siga a sua preferência, seja um Juiz no futuro.
Saí do recinto com um sentimento misto entre a indignação pelo atrevimento de um intransigente e a satisfação por constatar que ainda mantenho o poder de reagir às injustiças.

A propósito, a nível nacional, a Folha de São Paulo registra algo semelhante com a falta de habilidade no episódio da entregue do Prêmio Camões ao escritor Raduan Nassar, conhecido pela sua posição ideológica, onde o Ministro da Cultura censurou, inconsequentemente, o discurso do agraciado em relação ao governo Temer. Vexame e constrangimento para os presentes!

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