DE INTOLERÂNCIA
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes
A
expressão corresponde a uma atitude caracterizada pela falta de habilidade,
intransigência em respeitar ou reconhecer opiniões em contrário. Enfim, é uma demonstração
cabal de atitude antidemocrática de algumas pessoas.
Neste
sábado, inexplicavelmente, não foi para mim um bom dia. Vencida uma noite um
tanto difícil em razão de problemas de saúde de Thereza, logo na manhã fiz
modesta preleção para minorar o ambiente, lendo um texto de Albany Dutra e uma
oração a Nossa Senhora da Conceição, superando os instantes mais difíceis.
Aproveitei
o resto da manhã e fui até uma oficina eletrônica apanhar um televisor e lá
aguardei alguns minutos até a chegada do proprietário. Enquanto isso, o jovem
atendente me reconhecendo como um antigo atuante nas lides do Direito comentou
o seu desejo em seguir a carreira jurídica para se tornar um Juiz Federal.
Contudo, disse estar receoso em razão dos comentários desairosos contra
autoridades do Judiciário, no que me fez retrucar: não leve em conta esses
comentários – a maioria não tem consistência, mas é fruto da intolerância de
pessoas menos avisadas, que se precipitam a tecer conceitos intransigentes
sobre coisas do cotidiano, mais acentuadamente, da política e do comportamento
dos que têm a missão de fazer justiça.
Reforcei
o meu argumento, alegando que passei toda a minha vida em atividades voltadas
para julgar comportamentos de gestores e jurisdicionados e não me arrependia de
nenhum ato praticado em tal mister.
Coincidentemente,
pouco tempo antes, adentrou na oficina outro cliente, grisalho, não tanto
quanto eu, mas que sem ser chamado ouviu alguma parte da conversa e, de pronto,
agressivamente faz um gesto em direção à minha pessoa: “O Senhor devia ter
vergonha de defender esses políticos e juízes... #+*”. O fato inusitado causou
constrangimento ao jovem atendente que esperava de mim um aconselhamento para o
seu futuro e surpresa da minha parte. Esquecendo minha idade vetusta, rebati
com veemência e voz certamente muito mais volumosa que o daquele intolerante,
fazendo ver que ele era um intrometido, que não aprendera a ouvir e sim a falar
inconsequentemente pois o que eu afirmara era exatamente que os gestores ou
administradores incompetentes ou corruptos deviam ser enquadrados.
O
silêncio pairou por alguns minutos, o bastante para a chegada do proprietário e
me fazer a entrega do material que fora apanhar. Concluída a finalidade da
minha presença e antes de me retirar dirigi-me ao jovem atendente para rematar –
olhe rapaz, você teve a oportunidade de ouvir e constatar o que lhe dissera no
início da conversa – “as informações muitas vezes são dadas por pessoas
inconsequentes, como este Senhor, que efetuou comentários agressivos sem saber
do que se tratava”. Siga a sua preferência, seja um Juiz no futuro.
Saí
do recinto com um sentimento misto entre a indignação pelo atrevimento de um
intransigente e a satisfação por constatar que ainda mantenho o poder de reagir
às injustiças.
A
propósito, a nível nacional, a Folha de São Paulo registra algo semelhante com a
falta de habilidade no episódio da entregue do Prêmio Camões ao escritor Raduan
Nassar, conhecido pela sua posição ideológica, onde o Ministro da Cultura
censurou, inconsequentemente, o discurso do agraciado em relação ao governo
Temer. Vexame e constrangimento para os presentes!
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