Com um título esquisito, tive a surpresa de ver no facebook um artigo que escrevi em 2013, colocado pela minha leitora, abaixo, com um título "Descanse em Paz!". Não sei a quem ela quis se referir, pois eu estou vivo, Dr. Ernani, também. Terá sido Doutor Amauri? Não tenho conhecimento. Contudo, resolvi publicar aquela minha crônica de saudade, esperando que seja esclarecido o título da mensagem. De qualquer forma é um momento para reforçar minhas homenagens a dois médicos de primeira linha: ERNANI ROSADO (Natal) e AMAURI MEDEIROS (Recife).
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UMA PEQUENA VOLTA NO TEMPO
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
De repente, nada mais que de repente, a saúde exige que volte a Recife
para uma consulta a um velho médico que de mim cuidou há quase dez anos
atrás. A mesma rua, a mesma ilha (do leite), o mesmo prédio e a mesma
figura humana do Doutor AMAURY DE SIQUEIRA MEDEIROS.
Com a mesma
clareza e paciência, constatamos que tudo está sob controle e aí
comentamos algumas amenidades: "Você conhece um médico chamado Ernani
Rosado?" - os sorrisos, meus e do meu filho Carlos que me acompanhava,
foram generosos, pois Doutor Ernani é pessoa presente em nosso peito.
Então o Doutor Amaury fez uma revelação: o apelido dele era Solich
(alusão ao velho treinador de futebol Freitas Solish). Por que? indaguei
eu - é que ele era ruim de bola e a gente o colocava como técnico. Boas
risadas, felizes risadas, amenidades e alegria.
Diante daquele
quadro de alívio, pedi a Roberto, nosso parente pernambucano, para
darmos uma volta no lugar onde morei em Recife, acompanhado de
Carlinhos, Therezinha e Ernesto: - Boa Vista e ele parou na Rua do
Colégio Dom Bosco, onde tantas vezes fui assistir as peladas
domingueiras de Serginho, Tavico(Gustavo Guedes, de saudosa memória) e
Zé poupinha (José Wilson) e assistir missa; ou o contrário, primeiro a
missa e depois a pelada.
Procurei na Ilha do Leite o escritório do
advogado, que foi no passado o Tenente Carvalho, da CCS onde servi no
16º RI em 1959, mas o escritório já não continha o seu nome - não sei se
está vivo, Deus queira que esteja.
Logo vizinho a velha casa da
rua Barão de São Borja, que se encontra do mesmo jeito que deixei há
mais de 50 anos. Pedi licença, contei a história e me permitiram
fotografá-la, ao mesmo tempo em que a saudade me bateu pesado. Ali
descortinei a rapaziada da "República", alguns do Rio Grande do Norte,
Madame "Lou", as escadarias, a pequena torre, o velho corrimão. Dalí a
sorveteria onde matávamos a nossa fome pela escassez das refeições. No
seu portão esperava o carteiro trazendo notícias da minha namorada
Therezinha.
Recordei do meu quarto, no primeiro andar, cuja janela
ficava para a área de serviço-cozinha e a velha cozinheira gritava: "Seu
carlinhos, desce a sacola", o que eu fazia através de uma cordinha e
ela colocava alguma coisa que sobrara da janta.
Fui ver a rua
Visconde de Goiana onde moravam José Augusto Costa Neto (netinho,
médico, já falecido) e José Navarro (médico, tambémn falecido).
Fazíamos serenata no Pina e em Boa Viagem, quando eram poucos habitadas.
Enfim, ali também ficava um boteco onde tomei um dos maiores porres da
minha vida, aproveitando um dinheiro que mandaram para mim de Natal -
não lembro de quem trouxe - Moacyr, meu irmão ou foi Dora Furtado; não
sei como acertei o caminho da volta, apesar de ser a poucos metros da
minha república. Foi uma gozação porque enquanto era socorrido com café,
canja preparada pela referida velha cozinheira, eu dizia que ia fazer
um filme e ela seria uma das artistas.
Recife cidade lendária! Depois fui para Olinda, cidade eterna, monumento secular da velha geração.
Passei pelo centro, ví o velho São Luiz, sentei na ponte Duarte Coelho,
no lugarzinho onde a turma do RN batia papo e fazia proselitismo
político, lia os jornais sobre a briga política da campanha de 60 em
Natal, onde fazíamos gozação com "Lolita": "Quem vem a Recife e não
conhece Lolita, não conhece Recife", revi na memória os palanques do
Marechal Lott, do líder comunista Carlos Prestes e o homem da vassoura.
Passei na fortaleza das cinco pontas, lugar onde alguns depoimentos da
Comissão da Verdade da UFRN que presido, afirmaram ter sido lugar de
prisão e tortura.
Dessa viagem, retorno por João Pessoa e ali passei
algumas horas, do que posso resumir, de tudo o que vivi e revivi - não
existir lugar melhor do que NATAL, cidade que não sufoca, como Recife e
seus edifícios desnecessariamente muito altos, nem desordenada em seu
traçado topográfico, tudo em contraste com os tradicionais casarões. Mas
fiquemos alertas, pois a especulação já começou a alterar a sua
paisagem, haja vista a visão horrenda daquela bola descomunal, agressiva
da paisagem - que será a Arena das Dunas.
Um último comentário - a
alegria de ver o destaque dado pela imprensa pernambucana sobre a
participação de Débora Seabra, a nossa professorinha pioneira na
superação da síndrome de Dawn. Fiquei orgulhoso, por ela e pelos seus
pais Margarida e Robério.
Estou de volta pro meu aconchego!
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