quarta-feira, 9 de março de 2016

UM TEMPO NOVO

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor

No meu caminhar existencial atravessei tempos diferentes, marcantes em cada momento, construtivos em cada forma de manifestação.
A cultura, em minha adolescência de interiorano, era difundida através das manifestações escritas dos livros e cordéis, como também pelas revistas em quadrinhos. Mas, igualmente pela literatura oral dos contadores de estórias e de histórias nas feiras livres, com seus microfones simples amarrados em uma flanela já desgastada e tendo o comando de folhetos de cordel com gravuras que davam o visual do texto divulgado.
Não só assim, mas ainda pelas encenações folclóricas dos fandangos, lapinhas, boi de reis, cavalhadas, bambelôs e vaquejadas, que deslumbravam a cabeça daquele menino filho de um Juiz e o conduzindo para a missão de preservar esse tipo de cultura e se emocionar, até às lágrimas, nos combates dos cantadores de viola, com a versatilidade dos motes e das glosas vibrantes e transcendentais.
Paralelamente a essas manifestações naturais do povo, das quais nunca me afastei, também o rádio contribuía de maneira marcante com os seus trabalhos de novelas, em momentos mágicos, pois desenvolviam em cada ouvinte a criatividade de enxergar imaginariamente ambientes e personagens, permitindo, até, que se inserisse no contexto das narrativas como verdadeiros figurantes das histórias.
O teatro era outro campo encantador dos divertimentos da época, seja nas casas de espetáculos próprios ou nos circos, enquanto o cinema era menos frequente no interior, até o advento da televisão, que usurpou todos os espaços e, de certa forma, represou as outras modalidades de manifestação da cultura.
Todavia, como teria de acontecer, a pouca criatividade da forma de apogeu da tv permitiu o ressurgimento das outras maneiras de expressão, com a volta dos espetáculos ao vivo, obrigando a uma reação no ambiente televisivo, com melhoria da qualidade da programação e maior incentivo cultural, paralelamente a uma crescente procura pela 7ª arte, diretamente nos cinemas ou através dos aparelhos de DVD.
Toda essa minha conversa comprida serviu de preâmbulo para um tempo novo, mesmo aqui em nosso Rio Grande do Norte, com espetáculos marcantes, apesar do poder público tratar com descaso as suas casas de divulgação cultural, compensada com a iniciativa privada que criou o Teatro Riachuelo e a Casa da Ribeira, por exemplo.
Não só isso, a imprensa vem se preocupando com as coisas da nossa história, com reportagens vibrantes e fotógrafos sensíveis, como também a televisão, num crescimento de qualidade e, para comprovar o que digo, chamo a atenção para dois programas que estão na minha preferência – “Rota” e “Diga aí”, apresentados aos sábados na IntertvCabugi, à partir das 14 horas, através dos quais estamos tendo a oportunidade de conhecer melhor nosso Estado e os grupos ou “tribos” que atuam na melhoria da qualidade material e espiritual dos nossos cidadãos.
Valeu e está valendo mais com as associações de poetas, escritores, pesquisadores e outros expoentes das mais variadas formas de exteriorizar os sentimentos e qualidades artísticas da nossa gente.
É esse o universo que nos alenta para continuar a difícil luta pela sobrevivência, neste tempo de pouca solidariedade, mas de muita corrupção.

Mesmo no momento que já estou descendo os degraus da vida, não me furtarei a doar parte do meu tempo, para que todas essas manifestações saudáveis da nossa cultura possam ganhar mais adeptos e cheguem ao ápice do nosso desejo e do reconhecimento dos heróis anônimos ou consagrados que as desenvolvem.




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