CAMINHOS APALACHIANOS
Ciro
José Tavares.
“Pafos é seu destino, onde sua rainha
Deseja enclausurar-se e nunca mais ser
vista.”
William Shakespeare,
in Vênus e Adônis.
Estou sendo catapultado para o outro lado do dia
e dou os primeiros passos na subida esperando-te.
Vem, confia, deixa-me enlaçar tua cintura e não ferirás
os pés nas estreitas veredas pedregosas das prolongadas
Vem contemplar no vértice da estrela nascente tua face,
a coreografia no bailado dos cabelos agitados pelos
ventos.
Vem. No alto, ao descobrirmos nossas almas inconfessáveis
saberemos que as vidas, entre nós dois, serão silenciosas.
Agora que chegaste ao teto do mundo repara. E pergunta:
Quem realmente sou submetido à grandeza desse céu
escampo?
Vem, aurora sangra ao sol e entre nós dois sangram tardes
sem fim.
Vamos, lado a lado, regressar. Aqui nada nos consola. Na planície espero
o adeus sem lágrimas e faço a promessa de esquecer-te na
saudade.
ESSA NUDEZ NÃO SERÁ CASTIGADA
Ciro José Tavares
Há uma mulher nua andando pelas ruas.
Há uma mulher despida resplandecendo nas calçadas.
Há uma mulher nua iluminando com a claridade do seu corpo homens solitários.
As ruas estão enlouquecidas e nenhum mendigo vem acobertá-la com seus trapos.
Uma mulher nua, nas ruas, nas calçadas espera o plenilúnio para vestir-se estrela
alucinada e sumir no universo nos braços de um cometa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário