Viver e conviver com a caatinga
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e
Historiador.
A caatinga (do tupi-guarani: caa, planta
+ tinga, cinzento = planta cinzenta) é um
tipo peculiar de vegetação que predomina e caracteriza as regiões do semiárido nordestino.
Esse conjunto de plantas de pequeno porte é um bioma exclusivamente brasileiro
e é formado pelos tipos de clima e solo, que resulta em arbustos de pouca
folhagem e floração, com aspecto frágil, lenhoso e áspero. As chuvas são irregulares,
inclusive com secas periódicas. O solo, raso e pedregoso, é composto por vários
e diferentes tipos de rochas.
Esse tipo de mata ocupa uma área de mais de
800 mil km², que corresponde a 70% da região nordeste e 10% do
território nacional, e atinge 1.482 municípios dos Estados nordestinos e do
vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Cactos,
bromeliáceas (plantas de caule
reduzido, folhas simples e inteiras) e outras xerófilas ocorrem de forma
paralela, dando lugar a uma paisagem de grande contraste entre as épocas de estiagem
e as chuvosas. Tem-se, também, o pereiro, o faveleiro, a baraúna, a aroeira, o
angico, a quixabeira, a oiticica, o juazeiro, o pau-ferro, o mandacaru, o
facheiro, o xiquexique, a coroa-de-frade, a macambira e a palma. As árvores da caatinga dispõem de recursos
próprios para o uso intensivo das águas. Enquanto umas armazenam água em sua
estrutura, outras possuem raízes superficiais e espalhadas para captar o máximo
de água da chuva ou raízes profundas para atingir as regiões úmidas do subsolo.
E há aquelas que possuem espinhos e poucas folhas, como meio de reduzir a
transpiração das suas reservas de umidade.
Surpreendentemente, a sua fauna é rica e
diversificada. Onça vermelha, veado-catingueiro, preá, gambá, sapo-cururu,
cutia, tatus, ararinha-azul, asa-branca, macaco prego, saguis, capivara,
tartarugas, cágados, jabutis, cachorro-do-mato, gato-do-mato, bicho preguiça, 45 tipos de cobras, 40
espécies de lagartos, aracnídeos, roedores, insetos, e muitos outros.
Quase 30 milhões de brasileiros vivem nas
regiões de caatinga e dependem de seus recursos naturais para sobreviver. O
problema é o uso intensivo desses recursos. Estudos do IBAMA calculam que, até
o final da década passada, aproximadamente 43% da área de caatinga já tinha
sido desmatada, o que acelera o seu processo de desertificação – a modificação
ambiental que leva à formação de desertos.
Esse desmatamento tem origem que vão além das
causas naturais, como o permanente problema de escassez de água, agora agravado
pela seca continuada dos últimos anos. Destrói-se a mata para implantação de
projetos agropecuários: agricultura irrigada artificialmente e plantação de
alimento para o gado, que logo são abandonados pela falta de água. Outra causa
é a extração de madeira para produção de lenha e carvão, para uso
doméstico e industrial, este principalmente em olarias. Entretanto, o
desmatamento da caatinga não tem provocado o desenvolvimento econômico desejado.
Contraditoriamente, essas regiões são as mais pobres do país e
as que sofrem uma das maiores pressão populacional, o que resulta na
região semiárida com o maior índice populacional do mundo.
Apesar de grave, o problema socioeconômico da
população da caatinga não tem sido prioridade dos governos federal e dos
Estados. As políticas públicas para essas regiões têm sido pontuais e
irregulares; desde o Império, a República Velha até os tempos atuais. A grande
lacuna é a descontinuidade dos programas que são criados em épocas de secas e desaparecem
logo que caem as primeiras chuvas. Construir cisternas, distribuir água com
carros pipas são socorros para evitar a morte pela sede. Todavia programas de
desenvolvimento econômico não existem e, se existem, não são executados.
Exemplo é a transposição das águas do Rio São Francisco, projeto prometido,
alardeado, parado e esquecido.
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