sábado, 14 de junho de 2014


Receita para governar

“Só não existe o que não pode ser imaginado”. (Murilo Mendes, poeta mineiro: 1901 – 1975)

(*) Rinaldo Barros

            Se fosse possível governar da mesma forma como se preparam pratos numa cozinha, eu arriscaria ensinar a seguinte receita para servir no banquete do desenvolvimento.

            Pegue um povo ainda jovem, essencialmente honesto e criativo, coloque-o num sistema escolar eficaz desde muito cedo. Deixe-o ficar imerso na escola o maior tempo possível. Este é o ingrediente principal e indispensável.

            Transforme a escola num lugar agradável e divertido, aberta a comunidade, em permanente mobilização e debates sobre todas as questões, convocando os artistas de todos os matizes para uma atuação conjunta com os educadores e esportistas. Acrescente disciplina e autocontrole como consequência da transmissão de valores éticos e universais.

            Paralelamente, em separado, limpe muito bem o ambiente, principalmente a água, utilize e dissemine os novos conhecimentos técnicos sobre os equipamentos de transporte e energia renovável. Isto vai facilitar a distribuição dos produtos e garantir o aumento do seu desempenho em todos os serviços.

Não esqueça de disseminar massivamente o uso do computador e da Internet, nas cidades e nos campos. Estimule também a impressão e distribuição de livros a preços populares: acrescente livros a mancheias, e mande o povo pensar e criar.

Aumente bastante a participação do salário na economia. Salários dignos: esta deve ser a peça de resistência prioritária, para inverter a tendência atual excludente.

Para incentivar o empreendedorismo, democratize ao máximo o micro crédito e reduza o controle burocrático. Cuidado: burocracia demais é veneno paralisador!

Para aumentar sua receita, reduza a carga tributária e fiscalize com firmeza, aperte o cinto do gasto com custeio visando obter saldos no fim de cada mês para investir mais em infraestrutura, educação e saúde preventiva.

Como complemento indispensável, para que o bolo do desenvolvimento cresça geometricamente, capacite permanentemente os gestores, cobre resultados de todos e estimule a presença dos educadores em sala de aula, premiando o aumento da produtividade e a redução do desperdício, punindo a ineficácia.

Livre-se dos incompetentes e dos bajuladores.

Não basta reduzir custos com a manutenção da máquina do governo, isto seria apenas aumentar a eficiência. É indispensável obter melhores resultados em todos os quadrantes, isto sim, será eficácia. O corte dos custos deve ser feito de forma inteligente, de forma a não paralisar o crescimento e a modernização.

Use o pregão eletrônico como tempero a ser adotado por todos os gestores.

Nesta receita, leve em consideração que a maior parte de nossa solução depende mais de resultados eficazes nas capitais e nas regiões metropolitanas: a cidade grande deve ser o epicentro das políticas públicas.

Considere que, no Brasil, é possível combater o foco da miséria em duas dúzias de regiões metropolitanas, desde que haja decisão política suficientemente forte, capaz de mobilizar e convergir os esforços de ministérios, governos estaduais e prefeituras das capitais brasileiras na mesma direção: assegurar à população água, saúde (preventiva), educação (lato sensu), alimentação, moradia, trabalho, renda, segurança e cidadania.

No Rio Grande do Norte, por estes e por outros motivos mais provincianos, crie a Secretaria de Estado da Região Metropolitana do Natal, com o objetivo de articular a formulação e execução de políticas públicas, planos, programas, ações e recursos de todas as secretarias estaduais e prefeituras da Região, emprestando-lhes mais eficácia, organizando as prioridades e obtendo melhor resultado em menor tempo.

Arrume tudo numa grande bandeja, evite todos os preconceitos e discriminações, e coloque em destaque o papel da mulher em todas as fases do processo. Acompanhe tudo com suco de brasilidade.

Sirva, então, um prato cheio para o desenvolvimento às futuras gerações.

Esta crônica, publicada em 2004, vem novamente à luz com a esperança de que possa ser inspiração para construir o futuro com dignidade.

 

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

 

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