Receita para governar
“Só não
existe o que não pode ser imaginado”.
(Murilo Mendes, poeta mineiro: 1901 – 1975)
(*) Rinaldo Barros
Se fosse possível governar da mesma
forma como se preparam pratos numa cozinha, eu arriscaria ensinar a seguinte
receita para servir no banquete do desenvolvimento.
Pegue um povo ainda jovem,
essencialmente honesto e criativo, coloque-o num sistema escolar eficaz desde
muito cedo. Deixe-o ficar imerso na escola o maior tempo possível. Este é o
ingrediente principal e indispensável.
Transforme a escola num lugar
agradável e divertido, aberta a comunidade, em permanente mobilização e debates
sobre todas as questões, convocando os artistas de todos os matizes para uma
atuação conjunta com os educadores e esportistas. Acrescente disciplina e
autocontrole como consequência da transmissão de valores éticos e universais.
Paralelamente, em separado, limpe
muito bem o ambiente, principalmente a água, utilize e dissemine os novos
conhecimentos técnicos sobre os equipamentos de transporte e energia renovável.
Isto vai facilitar a distribuição dos produtos e garantir o aumento do seu
desempenho em todos os serviços.
Não esqueça de disseminar massivamente o uso do
computador e da Internet, nas cidades e nos campos. Estimule também a impressão
e distribuição de livros a preços populares: acrescente livros a mancheias, e
mande o povo pensar e criar.
Aumente bastante a participação do salário na
economia. Salários dignos: esta deve ser a peça de resistência prioritária,
para inverter a tendência atual excludente.
Para incentivar o empreendedorismo, democratize ao
máximo o micro crédito e reduza o controle burocrático. Cuidado: burocracia
demais é veneno paralisador!
Para aumentar sua receita, reduza a carga tributária e
fiscalize com firmeza, aperte o cinto do gasto com custeio visando obter saldos
no fim de cada mês para investir mais em infraestrutura, educação e saúde
preventiva.
Como complemento indispensável, para que o bolo do
desenvolvimento cresça geometricamente, capacite permanentemente os gestores,
cobre resultados de todos e estimule a presença dos educadores em sala de aula,
premiando o aumento da produtividade e a redução do desperdício, punindo a
ineficácia.
Livre-se dos incompetentes e dos bajuladores.
Não basta reduzir custos com a manutenção da máquina
do governo, isto seria apenas aumentar a eficiência. É indispensável obter
melhores resultados em todos os quadrantes, isto sim, será eficácia. O corte
dos custos deve ser feito de forma inteligente, de forma a não paralisar o crescimento
e a modernização.
Use o pregão eletrônico como tempero a ser adotado por
todos os gestores.
Nesta receita, leve em consideração que a maior parte
de nossa solução depende mais de resultados eficazes nas capitais e nas regiões
metropolitanas: a cidade grande deve ser o epicentro das políticas públicas.
Considere que, no Brasil, é possível
combater o foco da miséria em duas dúzias de regiões metropolitanas, desde que
haja decisão política suficientemente forte, capaz de mobilizar e convergir os
esforços de ministérios, governos estaduais e prefeituras das capitais
brasileiras na mesma direção: assegurar à população água, saúde (preventiva),
educação (lato sensu), alimentação,
moradia, trabalho, renda, segurança e cidadania.
No Rio Grande do Norte, por estes e por
outros motivos mais provincianos, crie a Secretaria de Estado da Região
Metropolitana do Natal, com o objetivo de articular a formulação e execução de políticas
públicas,
planos, programas, ações e
recursos de todas as secretarias estaduais e prefeituras da Região,
emprestando-lhes mais eficácia, organizando as prioridades e obtendo melhor
resultado em menor tempo.
Arrume tudo numa grande bandeja, evite todos os
preconceitos e discriminações, e coloque em destaque o papel da mulher em todas
as fases do processo. Acompanhe tudo com suco de brasilidade.
Sirva, então, um prato cheio para o desenvolvimento às
futuras gerações.
Esta crônica, publicada em 2004, vem novamente à luz
com a esperança de que possa ser inspiração para construir o futuro com
dignidade.
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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