sexta-feira, 18 de outubro de 2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL E A SAGA DE FLORIANO - "EL BODEGUEIRO" - POR ORMUZ BARBALHO SIMONETTI.






  Parte I 

 A estória começa quando, no final do século 
XIX, o emigrante italiano Paolo Luigi Curcio, 
proveniente da região de Nápoli, desembarca 
no Brasil, possivelmente, pelo porto do 
Recife, porta de entrada de vários imigrantes, 
inclusive os italianos, que no Brasil teve 
como ápice o período compreendido 
entre 1800 a 1930. Rumou 
para o interior do Rio Grande do Norte 
visando maiores e melhores 
possibilidades em sua 
nova vida e se estabelece na cidade de Vera 
Cruz. 
Artesão profissional especializado no 
fabrico de tachos de cobre e assemelhados, 
inicia um pequeno negócio naquela cidade 
do agreste potiguar. 
Tempos depois casa-se com uma 
moça nativa da região da tradicional família 
Ribeiro Dantas. Dessa união nasceram 
diversos filhos e entre eles, Sofia Arlinda 
Curcio (1883/1959). Como um bom 
profissional, ganha algum dinheiro, 
investe no ramo do 
comércio e amplia seus horizontes adquirindo 
terras na região, tornando-se, também, 
proprietário rural e agropecuarista. Por 
diversas vezes ouvira falar em Macaíba, uma
promissora cidade próxima ao litoral, a 14 
uilômetros da capital, que sob a batuta do 
paraibano da cidade de Pilar, Fabrício Gomes 
Pedroza (1809-1872), tornara-se um grande 
entreposto comercial. Com faro aguçado 
para bons negócios, vende todo seu 
patrimônio na cidade de Vera Cruz, 
muda-se com a 
família para Macaíba e inicia um novo 
negócio voltado exclusivamente para o 
amo de estivas, também denominado 
popularmente de secos e molhados. 
Dario Jordão de Andrade, nascido em 
Pirpirituba, microrregião do Brejo 
paraibano, chega à cidade de Macaíba 
em companhia de seu primo Olinto Maciel 
de Andrade, agradam-se 
da cidade e resolvem se estabelecer. 
Tempos depois, Dario casa-se com Dona 
Sofia Arlinda Curcio que passa a se 
chamar Sofia Curcio 
de Andrade. Dessa união nasceram 
seis filhos. 
A exemplo do sogro envereda pelo 
ramo do omércio e se estabelece com 
um pequeno negócio ao lado de sua casa. 
A vida transcorre 
lenta e preguiçosamente naquele final de 
século, o olhar atento de Dona Sofia. 
O primogênito Clóvis fez carreira como 
funcionário federal 
no Recife e ocupou posto de destaque na 
Alfândega daquela cidade. Escritor e poeta 
de grande sensibilidade, deixou algumas 
obras escritas; Nair, mãe de do atual 
presidente do IHGRN Valério Mesquita; 
Nilda, que faleceu solteira; Sofia, mãe 
do nosso confrade Ticiano Duarte; Dario, 
juiz de direito de destacada atuação em 
nosso Estado, pai de Ivan Maciel de Andrade 
e, finalmente, o caçula de todos, o saudoso 
Floriano Jordão de Andrade. 
Em janeiro de 1910, 
falecia Dario Jordão de Andrade aos 
33 anos de idade, quatro meses antes do 
nascimento de Floriano, que veio ao mundo 
em 05 de maio de 1910. Estava sentado em
uma cadeira de balanço na porta de seu 
comércio, numa das tardes fagueiras do 
mês de janeiro, quando foi fulminado por 
um aneurisma, deixando a viúva com cinco 
filhos menores e um ainda para nascer.
Dona Sofia ainda continuou por algum 
empo tocando o comércio com as 
dificuldades inerentes a uma viúva no 
começo do século XX.
 Entretanto, enxergando mais adiante 
Com olhos e coragem de uma autentica 
napolitana, vende o comércio e muda-se 
para a Capital preocupada em oferecer 
melhor educação para os filhos. Então, em 
uma manhã ensolarada, por volta do 
ano de 1918, desembarca em Natal com 
cinco filhos pequenos um para nascer, com 
o receio do desconhecido, e a esperança 
de vencer na cidade grande. Compra uma 
velha bodega que já existia naquele 
mesmo endereço, anexa a uma casa que 
dava frente para a Rua Apodi, n°160. 
Inicia seu pequeno comércio, com vontade 
férrea, própria das grandes mulheres, já 
com comprovada experiência do tempo 
em que exercera a mesma atividade ao 
lado do marido, em sua cidade natal. 
Com o tempo, os filhos cresceram, 
casaram-se, com exceção de Nilda que 
faleceu solteira, e tomaram seus rumos 
pela vida. Somente Floriano, o mais 
novo de todos, continua na casa materna. 
Muito apegado à mãe, desde tenra idade, 
dedicou-se a ajudá-la no atendimento na 
bodega. Quando rapaz inicia um namoro 
com uma moça que trabalhava na casa 
de dona Belarmina Ferreira Gomes, mais 
conhecida como Dona Bela, grande amiga 
de Sofia, que vem a ser a mãe dos Padres 
Monte e Nivaldo, que residia, na época, 
na Avenida Rio Branco n° 777, próximo 
à sua casa. A família não via com bons 
olhos aquele relacionamento, em virtude 
da grande diferença sócio-economica 
cultural entre os enamorados, 
entretanto, nunca fizeram oposição ao 
relacionamento, respeitada assim, a 
vontade do jovem apaixonado. Com a 
continuidade do namoro, Floriano 
resolve bancar Minervina, era esse o 
nome de sua namorada, e aluga pra 
ela uma casa no bairro das Rocas. 
Posteriormente, resolve transferi-la para 
mais perto, aluga outra casa numa região 
antigamente denominada Salgadeira, que 
ficava próxima ao Baldo, no lado direito 
de quem sobe a ladeira em direção ao bairro 
do Alecrim. Nesse novo endereço, por
ser próximo à bodega, passou a dormir
com mais frequência nos braços 
aconchegantes de Minervina. 
Finalmente, com o falecimento de 
Dona Sofia, ocorrido em 21 de março 
de 1959, Minervina muda-se para a casa 
da Rua Apodi, casaram-se no civil e assim 
permaneceram até o fim de suas vidas. 
Como todo jovem idealista da época, 
admirava do PCB - Partido Comunista 
Brasileiro. Homem de grande inteligência,
leitor compulsivo e autodidata, 
apreciador das teorias do filósofo 
alemão Karl Marx e também 
admirador de Vladimir Ilitch Lenin. 
Nos anos de
intensa repressão aos comunistas chegou 
a dar guarida em sua residência a dois 
líderes tupiniquins do partido: o médico
Vulpiano Cavalcanti(1911-1988) e 
Luiz Inácio Maranhão Filho (1921- dado 
como desaparecido a partir de 03 de 
abril de 1974, em São Paulo-SP). Vez 
por outra, confidenciava a amigos mais 
próximos cheio de orgulho: “ontem 
Vulpiano dormiu aqui em casa”. 
Luiz Maranhão também gozava desse 
mesmo privilégio. Não era ativista, 
nem se envolveu diretamente com as 
ações do partido. Entretanto, como 
simpatizante, mesmo pondo em risco 
sua integridade física e também de sua 
família, mostrou-se solidário aos 
“camaradas” dentro de suas grandes
limitações e parcos recursos (...) ...

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