REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL E A SAGA DE FLORIANO - "EL BODEGUEIRO" - POR ORMUZ BARBALHO SIMONETTI.
Parte I
A estória começa quando, no final do século
XIX, o emigrante italiano Paolo Luigi Curcio,
proveniente da região de Nápoli, desembarca
no Brasil, possivelmente, pelo porto do
Recife, porta de entrada de vários imigrantes,
inclusive os italianos, que no Brasil teve
como ápice o período compreendido
entre 1800 a 1930. Rumou
para o interior do Rio Grande do Norte
visando maiores e melhores
possibilidades em sua
nova vida e se estabelece na cidade de Vera
Cruz.
Artesão profissional especializado no
fabrico de tachos de cobre e assemelhados,
inicia um pequeno negócio naquela cidade
do agreste potiguar.
Tempos depois casa-se com uma
moça nativa da região da tradicional família
Ribeiro Dantas. Dessa união nasceram
diversos filhos e entre eles, Sofia Arlinda
Curcio (1883/1959). Como um bom
profissional, ganha algum dinheiro,
investe no ramo do
comércio e amplia seus horizontes adquirindo
terras na região, tornando-se, também,
proprietário rural e agropecuarista. Por
diversas vezes ouvira falar em Macaíba, uma
promissora cidade próxima ao litoral, a 14
uilômetros da capital, que sob a batuta do
paraibano da cidade de Pilar, Fabrício Gomes
Pedroza (1809-1872), tornara-se um grande
entreposto comercial. Com faro aguçado
para bons negócios, vende todo seu
patrimônio na cidade de Vera Cruz,
muda-se com a
família para Macaíba e inicia um novo
negócio voltado exclusivamente para o
amo de estivas, também denominado
popularmente de secos e molhados.
Dario Jordão de Andrade, nascido em
Pirpirituba, microrregião do Brejo
paraibano, chega à cidade de Macaíba
em companhia de seu primo Olinto Maciel
de Andrade, agradam-se
da cidade e resolvem se estabelecer.
Tempos depois, Dario casa-se com Dona
Sofia Arlinda Curcio que passa a se
chamar Sofia Curcio
de Andrade. Dessa união nasceram
seis filhos.
A exemplo do sogro envereda pelo
ramo do omércio e se estabelece com
um pequeno negócio ao lado de sua casa.
A vida transcorre
lenta e preguiçosamente naquele final de
século, o olhar atento de Dona Sofia.
O primogênito Clóvis fez carreira como
funcionário federal
no Recife e ocupou posto de destaque na
Alfândega daquela cidade. Escritor e poeta
de grande sensibilidade, deixou algumas
obras escritas; Nair, mãe de do atual
presidente do IHGRN Valério Mesquita;
Nilda, que faleceu solteira; Sofia, mãe
do nosso confrade Ticiano Duarte; Dario,
juiz de direito de destacada atuação em
nosso Estado, pai de Ivan Maciel de Andrade
e, finalmente, o caçula de todos, o saudoso
Floriano Jordão de Andrade.
Em janeiro de 1910,
falecia Dario Jordão de Andrade aos
33 anos de idade, quatro meses antes do
nascimento de Floriano, que veio ao mundo
em 05 de maio de 1910. Estava sentado em
uma cadeira de balanço na porta de seu
comércio, numa das tardes fagueiras do
mês de janeiro, quando foi fulminado por
um aneurisma, deixando a viúva com cinco
filhos menores e um ainda para nascer.
Dona Sofia ainda continuou por algum
empo tocando o comércio com as
dificuldades inerentes a uma viúva no
começo do século XX.
Entretanto, enxergando mais adiante
Com olhos e coragem de uma autentica
napolitana, vende o comércio e muda-se
para a Capital preocupada em oferecer
melhor educação para os filhos. Então, em
uma manhã ensolarada, por volta do
ano de 1918, desembarca em Natal com
cinco filhos pequenos um para nascer, com
o receio do desconhecido, e a esperança
de vencer na cidade grande. Compra uma
velha bodega que já existia naquele
mesmo endereço, anexa a uma casa que
dava frente para a Rua Apodi, n°160.
Inicia seu pequeno comércio, com vontade
férrea, própria das grandes mulheres, já
com comprovada experiência do tempo
em que exercera a mesma atividade ao
lado do marido, em sua cidade natal.
Com o tempo, os filhos cresceram,
casaram-se, com exceção de Nilda que
faleceu solteira, e tomaram seus rumos
pela vida. Somente Floriano, o mais
novo de todos, continua na casa materna.
Muito apegado à mãe, desde tenra idade,
dedicou-se a ajudá-la no atendimento na
bodega. Quando rapaz inicia um namoro
com uma moça que trabalhava na casa
de dona Belarmina Ferreira Gomes, mais
conhecida como Dona Bela, grande amiga
de Sofia, que vem a ser a mãe dos Padres
Monte e Nivaldo, que residia, na época,
na Avenida Rio Branco n° 777, próximo
à sua casa. A família não via com bons
olhos aquele relacionamento, em virtude
da grande diferença sócio-economica
e cultural entre os enamorados,
entretanto, nunca fizeram oposição ao
relacionamento, respeitada assim, a
vontade do jovem apaixonado. Com a
continuidade do namoro, Floriano
resolve bancar Minervina, era esse o
nome de sua namorada, e aluga pra
ela uma casa no bairro das Rocas.
Posteriormente, resolve transferi-la para
mais perto, aluga outra casa numa região
antigamente denominada Salgadeira, que
ficava próxima ao Baldo, no lado direito
de quem sobe a ladeira em direção ao bairro
do Alecrim. Nesse novo endereço, por
ser próximo à bodega, passou a dormir
com mais frequência nos braços
aconchegantes de Minervina.
Finalmente, com o falecimento de
Dona Sofia, ocorrido em 21 de março
de 1959, Minervina muda-se para a casa
da Rua Apodi, casaram-se no civil e assim
permaneceram até o fim de suas vidas.
Como todo jovem idealista da época,
admirava do PCB - Partido Comunista
Brasileiro. Homem de grande inteligência,
leitor compulsivo e autodidata,
apreciador das teorias do filósofo
alemão Karl Marx e também
admirador de Vladimir Ilitch Lenin.
Nos anos de
intensa repressão aos comunistas chegou
a dar guarida em sua residência a dois
líderes tupiniquins do partido: o médico
Vulpiano Cavalcanti(1911-1988) e
Luiz Inácio Maranhão Filho (1921- dado
como desaparecido a partir de 03 de
abril de 1974, em São Paulo-SP). Vez
por outra, confidenciava a amigos mais
próximos cheio de orgulho: “ontem
Vulpiano dormiu aqui em casa”.
Luiz Maranhão também gozava desse
mesmo privilégio. Não era ativista,
nem se envolveu diretamente com as
ações do partido. Entretanto, como
simpatizante, mesmo pondo em risco
sua integridade física e também de sua
família, mostrou-se solidário aos
“camaradas” dentro de suas grandes
limitações e parcos recursos (...) ...
XIX, o emigrante italiano Paolo Luigi Curcio,
proveniente da região de Nápoli, desembarca
no Brasil, possivelmente, pelo porto do
Recife, porta de entrada de vários imigrantes,
inclusive os italianos, que no Brasil teve
como ápice o período compreendido
entre 1800 a 1930. Rumou
para o interior do Rio Grande do Norte
visando maiores e melhores
possibilidades em sua
nova vida e se estabelece na cidade de Vera
Cruz.
Artesão profissional especializado no
fabrico de tachos de cobre e assemelhados,
inicia um pequeno negócio naquela cidade
do agreste potiguar.
Tempos depois casa-se com uma
moça nativa da região da tradicional família
Ribeiro Dantas. Dessa união nasceram
diversos filhos e entre eles, Sofia Arlinda
Curcio (1883/1959). Como um bom
profissional, ganha algum dinheiro,
investe no ramo do
comércio e amplia seus horizontes adquirindo
terras na região, tornando-se, também,
proprietário rural e agropecuarista. Por
diversas vezes ouvira falar em Macaíba, uma
promissora cidade próxima ao litoral, a 14
uilômetros da capital, que sob a batuta do
paraibano da cidade de Pilar, Fabrício Gomes
Pedroza (1809-1872), tornara-se um grande
entreposto comercial. Com faro aguçado
para bons negócios, vende todo seu
patrimônio na cidade de Vera Cruz,
muda-se com a
família para Macaíba e inicia um novo
negócio voltado exclusivamente para o
amo de estivas, também denominado
popularmente de secos e molhados.
Dario Jordão de Andrade, nascido em
Pirpirituba, microrregião do Brejo
paraibano, chega à cidade de Macaíba
em companhia de seu primo Olinto Maciel
de Andrade, agradam-se
da cidade e resolvem se estabelecer.
Tempos depois, Dario casa-se com Dona
Sofia Arlinda Curcio que passa a se
chamar Sofia Curcio
de Andrade. Dessa união nasceram
seis filhos.
A exemplo do sogro envereda pelo
ramo do omércio e se estabelece com
um pequeno negócio ao lado de sua casa.
A vida transcorre
lenta e preguiçosamente naquele final de
século, o olhar atento de Dona Sofia.
O primogênito Clóvis fez carreira como
funcionário federal
no Recife e ocupou posto de destaque na
Alfândega daquela cidade. Escritor e poeta
de grande sensibilidade, deixou algumas
obras escritas; Nair, mãe de do atual
presidente do IHGRN Valério Mesquita;
Nilda, que faleceu solteira; Sofia, mãe
do nosso confrade Ticiano Duarte; Dario,
juiz de direito de destacada atuação em
nosso Estado, pai de Ivan Maciel de Andrade
e, finalmente, o caçula de todos, o saudoso
Floriano Jordão de Andrade.
Em janeiro de 1910,
falecia Dario Jordão de Andrade aos
33 anos de idade, quatro meses antes do
nascimento de Floriano, que veio ao mundo
em 05 de maio de 1910. Estava sentado em
uma cadeira de balanço na porta de seu
comércio, numa das tardes fagueiras do
mês de janeiro, quando foi fulminado por
um aneurisma, deixando a viúva com cinco
filhos menores e um ainda para nascer.
Dona Sofia ainda continuou por algum
empo tocando o comércio com as
dificuldades inerentes a uma viúva no
começo do século XX.
Entretanto, enxergando mais adiante
Com olhos e coragem de uma autentica
napolitana, vende o comércio e muda-se
para a Capital preocupada em oferecer
melhor educação para os filhos. Então, em
uma manhã ensolarada, por volta do
ano de 1918, desembarca em Natal com
cinco filhos pequenos um para nascer, com
o receio do desconhecido, e a esperança
de vencer na cidade grande. Compra uma
velha bodega que já existia naquele
mesmo endereço, anexa a uma casa que
dava frente para a Rua Apodi, n°160.
Inicia seu pequeno comércio, com vontade
férrea, própria das grandes mulheres, já
com comprovada experiência do tempo
em que exercera a mesma atividade ao
lado do marido, em sua cidade natal.
Com o tempo, os filhos cresceram,
casaram-se, com exceção de Nilda que
faleceu solteira, e tomaram seus rumos
pela vida. Somente Floriano, o mais
novo de todos, continua na casa materna.
Muito apegado à mãe, desde tenra idade,
dedicou-se a ajudá-la no atendimento na
bodega. Quando rapaz inicia um namoro
com uma moça que trabalhava na casa
de dona Belarmina Ferreira Gomes, mais
conhecida como Dona Bela, grande amiga
de Sofia, que vem a ser a mãe dos Padres
Monte e Nivaldo, que residia, na época,
na Avenida Rio Branco n° 777, próximo
à sua casa. A família não via com bons
olhos aquele relacionamento, em virtude
da grande diferença sócio-economica
e cultural entre os enamorados,
entretanto, nunca fizeram oposição ao
relacionamento, respeitada assim, a
vontade do jovem apaixonado. Com a
continuidade do namoro, Floriano
resolve bancar Minervina, era esse o
nome de sua namorada, e aluga pra
ela uma casa no bairro das Rocas.
Posteriormente, resolve transferi-la para
mais perto, aluga outra casa numa região
antigamente denominada Salgadeira, que
ficava próxima ao Baldo, no lado direito
de quem sobe a ladeira em direção ao bairro
do Alecrim. Nesse novo endereço, por
ser próximo à bodega, passou a dormir
com mais frequência nos braços
aconchegantes de Minervina.
Finalmente, com o falecimento de
Dona Sofia, ocorrido em 21 de março
de 1959, Minervina muda-se para a casa
da Rua Apodi, casaram-se no civil e assim
permaneceram até o fim de suas vidas.
Como todo jovem idealista da época,
admirava do PCB - Partido Comunista
Brasileiro. Homem de grande inteligência,
leitor compulsivo e autodidata,
apreciador das teorias do filósofo
alemão Karl Marx e também
admirador de Vladimir Ilitch Lenin.
Nos anos de
intensa repressão aos comunistas chegou
a dar guarida em sua residência a dois
líderes tupiniquins do partido: o médico
Vulpiano Cavalcanti(1911-1988) e
Luiz Inácio Maranhão Filho (1921- dado
como desaparecido a partir de 03 de
abril de 1974, em São Paulo-SP). Vez
por outra, confidenciava a amigos mais
próximos cheio de orgulho: “ontem
Vulpiano dormiu aqui em casa”.
Luiz Maranhão também gozava desse
mesmo privilégio. Não era ativista,
nem se envolveu diretamente com as
ações do partido. Entretanto, como
simpatizante, mesmo pondo em risco
sua integridade física e também de sua
família, mostrou-se solidário aos
“camaradas” dentro de suas grandes
limitações e parcos recursos (...) ...
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