domingo, 2 de junho de 2013

FRAGMENTOS DO COTIDIANO


FEIRA DO ALECRIM
Ivam Pinheiro

Não é em dias escritos de feira
De primeira não é numa segunda
Terça, Quarta, quinta ou na sexta
Feira no sábado – tem no alecrim 
É festança popular no uso do grito.

De manhã ou de tarde tem agito
Aqui grita mais e pechincha sim
Armazenada em sacos ou cestas
A cultura popular aqui é fecunda
Cordel, raízes, tipos e bebedeiras.

Comida popular tem nas barracas 
Em qualquer dia – até nos feriados.
Mocotó de boi – caldo da sustança
Fumo de rolo, cachaça e forró no ar
Saco de farinha, açúcar, arroz e feijão.

Carne de sol e rapadura vai pra saca
Alegria de notícias de chuva no roçado
Galinha, guisado e picado tá na pança
Morena tô de olho e compro até cajá
O som do povo anima o meu coração.

OBS.: A nossa autência alma potiguar brasileira, vivência da labuta e no grito que pede passagem para resistir e sobreviver nesses tempos modernos, na magia da deslumbrante cultura popular - é dia de feira, feira do alecrim!

A Feira do Alecrim - Natal/RN. Foto: Tarcio Fontenele. 
Imagem disponível na página pessoal do autor na rede social facebook."



 
POUCO LEVADO
COISAS DE MENINO

 
Marcos Calaça

Quando menino fui levado
Dando pouco trabalho no sertão.
Cheguei a apanhar de sandália,
E de fivela com cinturão.

Levei pouca pisa,
Não escapei de cipó
Ao tomar banho de poço,
Apanhei de fazer dó.

Eu era frouxo na rua 
E em casa também,
Mas fazia o que queria
Feliz como ninguém.

Inventei de caçar 
Com Inácio e Chiquinho de Maroca,
Apanhei de mamãe
Ao ver a espingarda de soca.

Na vida eu estudei, 
Passei por muitos caminhos,
Para colher frutos
Existem muitos espinhos.

Marcos Calaça, jornalista (UFRN)


ABSURDO

sei que não consegues enxergar o absurdo
(a palavra esplêndida entendes
pois te chega como um susto)

eu te pergunto então pelo dia de ontem
e já não o vês

pelo de amanhã
e deste nada sabes

pelo minuto que passou
e já não o tens

pelo momento que supões viver
e não o reténs

aí já não consegues parar
e não há certezas
e nada podes definir
suspenso

como o equilibrista limitado a concentrar-se
na linha imaginária do tempo
colocada entre o mistério e sua inquietude
 
                                               (Horácio Paiva)
                                                               Fazenda Lagoa Nova, Taipu, 2/11/2012

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