domingo, 10 de março de 2013

POEMAS PARA AS MULHERES, ETERNAS MUSAS

A Mulher que PassaMeu Deus, eu quero a mulher que passa. 
Seu dorso frio é um campo de lírios 
Tem sete cores nos seus cabelos 
Sete esperanças na boca fresca! 

Oh! Como és linda, mulher que passas 
que me sacias e suplicias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Teus sentimentos são poesia 
Teus sofrimentos, melancolia. 
Teus pêlos leves são relva boa 
Fresca e macia. 
Teus belos braços são cisnes mansos 
Longe das vozes da ventania. 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 

Como te adoro, mulher que passas 
Que vens e passas, que me sacias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Porque me faltas, se te procuro? 
Por que me odeias quando te juro 
Que te perdia se me encontravas 
E me encontrava se te perdias? 

Por que não voltas, mulher que passa? 
Por que não enches a minha vida? 
Por que não voltas, mulher querida 
Sempre perdida, nunca encontrada? 
Por que não voltas à minha vida 
Para o que sofro não ser desgraça? 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 
Eu quero-a agora, sem mais demora 
A minha amada mulher que passa! 

No santo nome do teu martírio 
Do teu martírio que nunca cessa 
Meu Deus, eu quero, quero depressa 
A minha amada mulher que passa! 

Que fica e passa, que pacifica 
Que é tanto pura como devassa 
Que bóia leve como a cortiça 
E tem raízes como a fumaça. 

Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'

Retrato de Mulher TristeVestiu-se para um baile que não há. 
Sentou-se com suas últimas jóias. 
E olha para o lado, imóvel. 

Está vendo os salões que se acabaram, 
embala-se em valsas que não dançou, 
levemente sorri para um homem. 
O homem que não existiu. 

Se alguém lhe disser que sonha, 
levantará com desdém o arco das sobrancelhas, 
Pois jamais se viveu com tanta plenitude. 

Mas para falar de sua vida 
tem de abaixar as quase infantis pestanas, 
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas. 

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

A Mulher Mais Bonita do Mundoestás tão bonita hoje. quando digo que nasceram 
flores novas na terra do jardim, quero dizer 
que estás bonita. 

entro na casa, entro no quarto, abro o armário, 
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio 
de ouro. 

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como 
se tocasse a pele do teu pescoço. 

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim. 

estás tão bonita hoje. 

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios. 

estás dentro de algo que está dentro de todas as 
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever 
a beleza. 

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios. 

de encontro ao silêncio, dentro do mundo, 
estás tão bonita é aquilo que quero dizer. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

Poeminha de Louvor ao Strip-tease SecularEu sou do tempo em que a mulher 
nem mostrava o tornozelo; 
que apelo! 

Depois, já rapazinho 
vi as primeiras pernas de mulher 
por sob a curta saia; 
que gandaia! 

A moda avança, 
a saia sobe mais, 
mostrando já joelhos 
lupercais! 

As fazendas com os anos, 
se fazem mais leves, 
e surgem figurinhas, pelas ruas, 
mostrando as lindas formas quase nuas. 

E a mania do sport 
trouxe o short. 

O short amigo, 
que trouxe consigo, 
o maiô de duas peças. 

E logo, de audácia em audácia, 
a natureza, ganhando terreno, 
sugeriu o biquini, 
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno 
não se sabendo mais, 
até onde um corpo branco, 
pode ficar moreno. 

Deus, a graça é imerecida, 
Mas dai-me ainda 
Uns aninhos de vida! 

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

A uma MulherPra vós são estes versos, pla consoladora 
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho 
Doce, pla vossa alma pura e sempre boa, 
Versos do fundo desta aflição opressora. 

Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra 
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento, 
Multiplica-se como um cortejo de lobos 
E enforca-se com o meu destino que ensanguenta! 

Ah! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido 
Desse primeiro homem expulso do Paraíso 
Não passar de uma écloga à vista do meu! 

E os cuidados que vós podeis ter são apenas 
Andorinhas voando à tarde pelo céu 
— Querida — num belo dia de um Setembro ameno. 

Paul Verlaine, in "Melancolia" 
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


Pandora
De repente, 
o corpo da mulher fulgura, 
pupila de deus, 
punhal ou bico, 
sede que chama. 
Pára em mim e deslumbra 
— nula possibilidade 
da lucidez. 

Orlando Neves, in "Lamentação em Cáucaso"
_____________________FONTE: http://www.citador.pt


Nenhum comentário:

Postar um comentário