Cinema em Londres (I)
Marcelo Alves Dias de Souza - procurador da República
Em razão da minha temporada de estudos em Londres, amigos têm frequentemente pedido dicas sobre a capital do Reino Unido. Normalmente, são coisas triviais como sugestões de hotéis ou pubs. Às vezes, informações mais específicas como onde se pode achar um bom sebo ou livraria (jurídica ou não) ou qual escolinha de inglês eu recomendaria. Outro dia, por exemplo, um amigo perguntou onde, perto da região na qual ele ficaria hospedado (já por sugestão minha), poderia comprar gin de qualidade, daqueles que não se acha normalmente no mercado. Apreciador de fermentados e destilados, puxei da memória e apontei a Royal Mile Whiskies (3 Bloomsbury Street). Para os interessados em gin, uísque e assemelhados, já vai a dica.
O fato é que lá se vão, entre idas e vindas, quase cinco anos de estada em Londres. E, seguidor da filosofia de que se deve ser sempre prestativo, tenho dado meus pulos para compartilhar com os amigos as experiências que ali tive.
Hoje, especialmente, gostaria de relatar minha experiência em Londres para aqueles que, amigos ou não, apreciam cinema.
Antes de mais nada, como já disse aqui em outra oportunidade (vide a crônica "Cinema Cult"), é ao derredor de Leicester Square, uma das mais famosas praças de Londres (que foi toda recauchutada para as Olimpíadas), que estão os mais conhecidos cinemas comerciais (às vezes nem tanto) de Londres. Lá estão os gigantescos cines Odeon, Vue e Empire, assim como o "alternativo" Prince Charles. É lá que podemos dar de cara, se dermos sorte quando do lançamento de seus filmes na Europa, com as beldades da tela grande. Ali, pode ter certeza, em termos de cinema, quantidade e variedade é o que não falta.
Na minha última temporada em Londres (em fins de agosto), por exemplo, no cine Empire estava acontecendo um dos mais curiosos, para não dizer bizarros, festivais: de filmes de terror, de primeira, segunda e vigésima quinta categorias. De clássicos como "A Noiva de Frankenstein" (de 1935, com Boris Karloff, Elsa Lanchester e Colin Clive) a interessantes lançamentos como "Maniac" (2012, com Elijah Wood) e "Sinister" (2012, com Ethan Hoawke). Tinha até um tal de "Dead Sushi" (2012), filme japonês que, pelo título, vocês podem imaginar em que categoria deve estar. Salas lotadas. Minha sorte foi haver descoberto que o festival era patrocinado pelo canal de televisão "Film 4" e que, embora sem a sensação da tela grande, era possível assistir aos filmes no conforto do lar. Já devidamente alojado em minha cama, fui de "Night of the Demon" (1957), um clássico do cinema britânico, estrelado por Dana Andrews, Peggy Cummins e Niall MacGinnis. E acertei na mosca. Vi um filme que, embora com efeitos especiais da década de 1950, me deu muitos sustos (e não foi para isso que resolvi assistir a um filme de terror?).
Na verdade, sempre alguma coisa nova está aparecendo, com caráter permanente ou não, na vida cultural londrina. Este ano, por exemplo, foi inaugurado o London Film Museum em Convent Garden (45 Wellington Street). Um museu dedicado ao cinema, cuja entrada, à semelhança da maioria dos museus londrinos, é gratuita. Não é muito grande, mas, com uma proposta de exposições temporárias, tem sempre algo interessantíssimo a mostrar. Quando estive lá, em fins de agosto, uma das exposições chamava-se "Capturing the Shadows". A ideia era mostrar a história/evolução da "captação" de imagens, desde os tempos do teatro de sombras, passando pela fotografia propriamente dita, até a invenção do cinema. Fui reapresentado, por exemplo, ao "monóculo" (os mais antigos irão se lembrar do que é), esquecido em tempos de câmaras digitais, mas que trouxe uma recordação gostosa de minha infância ao derredor do Colégio Imaculada Conceição (CIC), hoje ameaçado de fechamento, levando assim parte da história de nossa Natal.
Aliás, para ser preciso, o recém inaugurado London Film Museum Convent Garden é a segunda unidade de um Museu originalmente estabelecido em Southbank (área à margem sul do Tâmisa), bem aos pés da London Eye (a famosa roda gigante).
E é em Southbank, um pouco mais adiante em direção à Ponte da Torre (Tower Bridge), que, para mim, está a jóia da coroa em Londres, quando se trata de cinema: o British Film Institute - BFI. Mas, sobre ele, eu falarei apenas semana que vem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário