quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

            Doutor MAX CUNHA DE AZEVEDO é uma daquelas figuras que se assemelham ao bom vinho, quanto mais velho melhor.
            Nos seus 90 anos bem vividos, virginiano como eu, deixa de lado aquela auréola de homem vetusto, alto e forte, professor aposentado da UFRN e Inspetor Federal que metia medo quando visitava os colégios, poeta bissexto, oriundo da fidalguia seridoense, deixa a sisudez de sua austeridade e vem à periferia somente para nos trazer alegria. Sim, “Alegria” é o nome de um pequeno livro que ele mesmo formatou, encadernou e teve, ainda, a lhaneza de enviá-lo aos amigos com a primeira folha impressa individualizadamente, mostrando, além das suas habilidades no manuseio do computador, também as de encadernador.
            O seu trabalho, que ele chama de ‘cadernetinha’, tem a pretensão de deixar uma lembrança da fase atual de sua existência, distribuído para alguns parentes e amigos diletos, entre os quais, com singular orgulho, fui colocado.
            O texto, que li com especial atenção, repassei à minha esposa Therezinha que, de quando em vez, dava boas gargalhadas e eu então indagava – você está rindo sozinha? E ela respondia, esse livro do Dr. Max é incrível e aí lembrou o seguinte:
            Ele, em um dos seus contos, assim diz: “No cinema, um sujeito ia se arrastando no escuro, procurando alguma coisa por debaixo das poltronas. Uma senhora indagou o que ele tanto procurava. Disse que era o caramelo que caíra da boca. A senhora irritou-se: - O senhor não se acanha de tamanho esforço só por um caramelo?! É que minha dentadura, que botei na semana passada, foi pregada nele!” Essa estória aconteceu comigo DE VERDADE. Estava com papai assistindo uma sessão do cinema de arte no Cinema Nordeste, que era muito escuro e papai sempre ia de paletó e ao sentar, antes de começar a sessão, costumava, cuidadosamente, colocar a sua dentadura no bolso do paletó e, um dia, calculou mal e a chapa caiu no chão. Eu disse – o que foi isso – e ele respondeu: foi minha chapa. Não pude assistir mais o filme e fiquei tentando fisgar a chapa com um pé, no escuro, e mesmo chegando a tocar nela, não consegui resgatá-la. Fiquei naquela aflição para quando as luzes fossem acesas. Terminado o filme, vou rápido à procura do objeto e o encontrei. Mas antes disso, outra pessoa já o havia visto e exclamou – “ei, olhe aqui uma dentadura” e eu, rapidamente, pegando-a disse: “é minha” e todos olhavam espantados para mim, pois, muito jovem, tinha uma bela dentadura.

Valeu Dr. Max, foi uma maravilhosa recordação do meu inesquecível pai.

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