terça-feira, 2 de novembro de 2010

CYRO TAVARES *

Cyro Tavares faleceu na cidade do Natal, às sete horas da manhã de 12 de novembro de 1906. Era paraibano de Bananeiras onde nascera em 1885. Tinha 21 anos.
Os pais, João Felix da Silva e D. Marquilina Tavares da Silva, mudaram-se para a capital norte rio grandense com os filhos pequeninos. O caçula nasceria em Natal, o grande cirurgião José Tavares da Silva.
Cyro teve a vida do menino de seu tempo na Ribeira. Empinou curujas no Areal, pegou siris e baiacus no Potengi, indigestou de frutas bravas, colhidas nos morros. Era magro, arredio, estudioso. Estava sempre de livro na mão. O curso propedêutico no Ateneu fora excelente. Menino, era consultado, ouvido arrumando a gramaticidade na prosa e o verso dos companheiros.
Pertenceu ao Grêmio Literário Frei Miguelinho, fundado a 22 de setembro de 1901, colaborando no ALBUM (1903-1904), com Américo Lopes, Hildebrando Barros, Alcebíades Lisboa, Joaquim Cavalcanti, Georgino Avelino, tendo José Gotardo Neto como chefe e guia literário.
Escrevia com facilidade, aprumo e elegância. O poeta Pereira da Silva, que mantivera um jornalzinho, A LIBERDADE (1904-1905), informou-me que Cyro escrevia artigos e os colegas assinavam, ganhando fama.
Era jornalista nato, debatendo os assuntos com nitidez e com a vocação oposicionista. Inútil procurar em quantos jornais Cyro Tavares colaborou. Em todos da sua época, ou quase todos. Foi revisor na “A REPÚBLICA”.
Queria formar-se em Direito mas não foi para o Recife, a Meca tradicional dos futuros bacharéis em flor. Viajou para o Rio de Janeiro, trabalhando num colégio, tentando o curso que se tornou impossível. Adoecendo dos pulmões, Cyro voltou para Natal. Voltou para morrer, na silenciosa Rua do Comércio, e desaparecer nas lembranças da cidade.
Nunca me falaram no seu nome. Devo a Pereira da Silva, admirador fervoroso, as primeiras informações carinhosas. Dediquei-lhe dias de pesquisas, ouvindo seu irmão José Tavares, mergulhando no arquivo do Primeiro Cartório, revendo as minhas humildes coleções.
A produção de Cyro Tavares, prosa e verso, está esparsa nos jornais numerosos, difíceis de encontro, quase de consulta milagrosa.
Deixo um soneto, em francês, escrito por um meninote de 17 anos, publicado no ALBUM, nº 4, de 31 de julho de 1902, LE TEMPS:

Letemps est immobile, et tour à tour puissant,
Il n’est jamais compris, car il n’est sur la terre...
Mais quand nous le setons le jours nous enlevent
Alors nous apprenons qu’il n’est qu’un grand mystére.

Oui: sent s’arrêter, mais son chemin faisant,
Il acompagne toujours la vie tout entiére.
Tantôt il nous parait de l’abstrait naissant,
Tantôt il est trés fort, et tout le monde aterre.

Il est un ravageur qui n’aime la violence.
Ebranle l’univers comble de son silence.
Êtant toujours le même et rien n’ayant été.

Nous porte à l’inconnu le but de son voyage,
Personne ne l’arrête, et dans son long passage
Il acompagne Dieu et suit Péternité.


*Transcrito da coluna ACTA DIURNA,
De Câmara Cascudo, in A REPÚBLICA
______________
colaboração do escritor Ciro Tavares da Silva

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