Novas Cartas de Cotovelo – verão de
2022-07
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Eis que
entramos agora naquele clima tenso do resultado das provas para ingresso em curso
superior. Expectativas, sofrimentos e depois alegrias e tristezas.
Venho
recebendo eufóricas comunicações de pessoas que lograram êxito nas provas do
ENEM, evidenciando indiscutível e justa alegria das famílias.
Nesse
ponto, regrido no tempo para lembrar o meu vestibular em Direito da velha
Faculdade da Ribeira, Turma 1968, no mês de fevereiro do longínquo ano de 1964,
o trote, o conhecimento pessoal dos aprovados e o início das aulas.
Obviamente,
nosso psicológico levava ao inexplorado futuro, preparação para as batalhas,
matrículas, programas, professores e colegas. Atmosfera um tanto preocupante,
eis que o Brasil atravessava uma profunda crise política e administrativa com
as posições do Presidente João Goulart e a agitação da galera de esquerda
sonhando com uma transformação do País para um regime socialista, quebrando a
tradição brasileira do seu caminhar desde a independência.
Mal
iniciávamos as aulas e, de repente, o gazeteiro percorre as salas de aula mancheteando
a nova revista Veja, cuja capa era a foice e o martelo, aumentando as
preocupações dos esperançosos calouros. Logo em seguida, em 31 de março os sussurros
de um movimento militar no Brasil e a assunção dos militares com a deposição do
governo constitucional.
O
pulso firme do Diretor da Faculdade, Dr. Otto de Brito Guerra, segurou eventual
debandada, diante das tantas incertezas e ficamos no aguardo dos acontecimentos,
que vieram com muito vigor, notícias desconcertantes e muito temor.
Nossa
classe tinha a maioria composta de legalistas e simpatizantes da direita,
enquanto alguns indecisos e mínimo de esquerdistas. Mesmo assim, os elos que já
então formavam a corrente daqueles jovens, em esmagadora maioria, embora uns três
q quatro colegas de idade mais avançada, foi mais forte para manter íntegro o
ideal do estudo do Direito.
Aos
trancos e barrancos atravessamos os cinco anos da grade curricular – alguns colegas
perseguidos, dentre eles Moacy Cirne, que abandonou o curso no 3º ano, alunos
transferidos, a agitação da política universitária, a participação em
assembleias inflamadas, greves e alguns confrontos entre poucos colegas,
conseguimos chegar ao dia ansiado da colação de grau. Pouquíssimos não lograram
aprovação final e assim chegamos ao dia 12 de dezembro de 1968, véspera do “golpe
mortal do Ato Institucional nº 5”, que trouxe em seu fundamento:
O
Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, marcou o início do período
mais duro da ditadura militar (1964-1985). Editado pelo então presidente Arthur
da Costa e Silva, ele deu ao regime uma série de poderes para reprimir seus
opositores: fechar o Congresso Nacional e outros legislativos (medida
regulamentada pelo Ato Complementar nº 38), cassar mandatos eletivos, suspender
por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, intervir em Estados e
municípios, decretar confisco de bens por enriquecimento ilícito e suspender o
direito de habeas corpus para crimes políticos. O ministro da Justiça, Gama e
Silva, anunciou as novas medidas em pronunciamento na TV à noite.
Nesse clima de verdadeiro terror, iniciamos a
busca dos nossos destinos – advocacia ou concursos para a magistratura, ministério
público, delegado de polícia e outras atividades. Mas isso é uma outra
história.
A
verdade que agora estou revivendo é em razão da divulgação dos sonhadores
profissionais do amanhã, aos quais envio os meus parabéns e a advertência:
custe o que custar, não se desagreguem, mantenham o entusiasmo do sonho inicial
ou procurem outro curso no próximo ano. O Brasil precisa de todos vocês.
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