quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 



Novas Cartas de Cotovelo – verão de 2022-07

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

                Eis que entramos agora naquele clima tenso do resultado das provas para ingresso em curso superior. Expectativas, sofrimentos e depois alegrias e tristezas.

         Venho recebendo eufóricas comunicações de pessoas que lograram êxito nas provas do ENEM, evidenciando indiscutível e justa alegria das famílias.

         Nesse ponto, regrido no tempo para lembrar o meu vestibular em Direito da velha Faculdade da Ribeira, Turma 1968, no mês de fevereiro do longínquo ano de 1964, o trote, o conhecimento pessoal dos aprovados e o início das aulas.

         Obviamente, nosso psicológico levava ao inexplorado futuro, preparação para as batalhas, matrículas, programas, professores e colegas. Atmosfera um tanto preocupante, eis que o Brasil atravessava uma profunda crise política e administrativa com as posições do Presidente João Goulart e a agitação da galera de esquerda sonhando com uma transformação do País para um regime socialista, quebrando a tradição brasileira do seu caminhar desde a independência.

         Mal iniciávamos as aulas e, de repente, o gazeteiro percorre as salas de aula mancheteando a nova revista Veja, cuja capa era a foice e o martelo, aumentando as preocupações dos esperançosos calouros. Logo em seguida, em 31 de março os sussurros de um movimento militar no Brasil e a assunção dos militares com a deposição do governo constitucional.

         O pulso firme do Diretor da Faculdade, Dr. Otto de Brito Guerra, segurou eventual debandada, diante das tantas incertezas e ficamos no aguardo dos acontecimentos, que vieram com muito vigor, notícias desconcertantes e muito temor.

         Nossa classe tinha a maioria composta de legalistas e simpatizantes da direita, enquanto alguns indecisos e mínimo de esquerdistas. Mesmo assim, os elos que já então formavam a corrente daqueles jovens, em esmagadora maioria, embora uns três q quatro colegas de idade mais avançada, foi mais forte para manter íntegro o ideal do estudo do Direito.

         Aos trancos e barrancos atravessamos os cinco anos da grade curricular – alguns colegas perseguidos, dentre eles Moacy Cirne, que abandonou o curso no 3º ano, alunos transferidos, a agitação da política universitária, a participação em assembleias inflamadas, greves e alguns confrontos entre poucos colegas, conseguimos chegar ao dia ansiado da colação de grau. Pouquíssimos não lograram aprovação final e assim chegamos ao dia 12 de dezembro de 1968, véspera do “golpe mortal do Ato Institucional nº 5”, que trouxe em seu fundamento:

O Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, marcou o início do período mais duro da ditadura militar (1964-1985). Editado pelo então presidente Arthur da Costa e Silva, ele deu ao regime uma série de poderes para reprimir seus opositores: fechar o Congresso Nacional e outros legislativos (medida regulamentada pelo Ato Complementar nº 38), cassar mandatos eletivos, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, intervir em Estados e municípios, decretar confisco de bens por enriquecimento ilícito e suspender o direito de habeas corpus para crimes políticos. O ministro da Justiça, Gama e Silva, anunciou as novas medidas em pronunciamento na TV à noite.

          Nesse clima de verdadeiro terror, iniciamos a busca dos nossos destinos – advocacia ou concursos para a magistratura, ministério público, delegado de polícia e outras atividades. Mas isso é uma outra história.

         A verdade que agora estou revivendo é em razão da divulgação dos sonhadores profissionais do amanhã, aos quais envio os meus parabéns e a advertência: custe o que custar, não se desagreguem, mantenham o entusiasmo do sonho inicial ou procurem outro curso no próximo ano. O Brasil precisa de todos vocês.

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